- 25.11
- 2022
- 18:48
- Texto: Sérgio Ramalho
Liberdade de expressão
PF prende primo de assassino de Dom e Bruno por suspeita de atirar em indígenas na TI Vale do Javari
Créditos da Foto: Fonte que não deseja ser identificada.
Na manhã de quinta-feira, 24.nov.2022, agentes da Polícia Federal prenderam Romário da Silva Oliveira, primo de Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, assassino confesso do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira Araújo. Detido na comunidade ribeirinha de São Gabriel, às margens do rio Itacoaí, em Atalaia do Norte (AM), ele foi identificado como o responsável por ameaçar de morte e atirar em um grupo de indígenas da etnia Kanamari.
O ataque denunciado pela Associação dos Kanamari do Vale do Javari aconteceu por volta das 9h30 do dia 9.nov.2022, próximo à localidade conhecida como Volta do Bindá, na calha do rio Itacoaí, dentro da Terra Indígena Vale do Javari. Ao menos 30 indígenas da etnia Kanamari, a maioria mulheres e crianças, retornavam em pequenas embarcações de um encontro de lideranças da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), quando avistaram os invasores que estavam em um barco carregado com pirarucus e tracajás.
Em um primeiro momento, os invasores, que tinham os rostos cobertos por camisas, ofereceram peixes e alguns quelônios em troca do silêncio dos indígenas. Uma das lideranças recusou a oferta, dizendo que a pesca e a caça predatórias eram proibidas. Foi nesse momento que Romário Oliveira mostrou o rosto e a ameaçou apontando uma espingarda de caça na direção de sua cabeça.
Em depoimento à Polícia Federal, a indígena ressaltou que, ao fazer a ameaça, o primo de Pelado teria dito que “esse tipo de atitude teria causado as mortes de Bruno e Dom”. Em seguida, o agressor acrescentou que não a mataria naquele instante por haver muitas crianças no barco. O suspeito então teria retirado o cabo de força do motor da embarcação usada pelos indígenas e atirado nos cascos de outras duas canoas, causando pânico nas crianças.
Conforme revelou o Programa Tim Lopes, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a atuação dos indígenas da Univaja foi fundamental para a PF encontrar a cova onde os assassinos enterraram Dom e Bruno. O jornalista inglês e o indigenista foram caçados, mortos a tiros de espingarda calibre 16 e tiveram os corpos esquartejados e queimados. O crime aconteceu em um domingo, no dia 5.jun.2022.
Em 5.set.2022, a Abraji noticiou que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) desmembraram a investigação em dois inquéritos. Em um deles são apurados os detalhes em torno dos assassinatos e da participação de cada suspeito. Três pessoas já foram denunciadas pelas mortes: Amarildo de Oliveira, o Pelado; seu irmão, Oseney Costa de Oliveira; e Jefferson Lima da Silva, o Pelado da Dinha. Os três aguardam julgamento na prisão, em Manaus, capital do Amazonas, para onde foram levados para evitar uma tentativa de resgate.
No segundo inquérito, os policiais federais apuram - em paralelo às execuções de Bruno e Dom - o envolvimento de moradores das comunidades ribeirinhas de São Gabriel e São Rafael, em crime de associação para invasão, caça e pesca predatórias na TI do Vale do Javari. Bruno Pereira vinha denunciando Pelado como líder do bando há pelo menos dois anos. Foi essa parte da investigação que levou a Polícia Federal a realizar uma operação em 5.ago.2022.
Na ocasião, os agentes foram a São Gabriel e São Rafael, onde prenderam por associação criminosa: Jânio Freitas de Souza, Laurimar Lopes, o Caboclo, Otávio Costa de Oliveira, Amarílio Oliveira e Elicley Costa de Oliveira, o Sirinha. Os três últimos são irmãos de Pelado, o assassino confesso de Dom e Bruno. Na casa de Sirinha os agentes da PF tinham apreendido anteriormente duas canoas, serrotes, facões e uma motosserra supostamente usadas para esquartejar o jornalista e o indigenista.
Além dos cinco presos em 5.ago.2022, a Polícia Federal incluiu na investigação os nomes de Amarildo, o Pelado, e do suposto narcotraficante Rubens Villar Coelho, apontado como financiador das expedições predatórias na Terra Indígena. De acordo com a apuração, Pelado atuava como uma espécie de braço direito do traficante em Atalaia do Norte.
Em out.2022, a Justiça Federal do Amazonas concedeu prisão domiciliar a Rubens Villar, que segue sendo monitorado por tornozeleira eletrônica. O MPF recorreu da decisão, pedindo a prisão em regime fechado do suspeito. O julgamento do recurso ainda não foi marcado.