- 30.09
- 2022
- 13:30
- Texto: Sérgio Ramalho
Liberdade de expressão
Equipe da Univaja encontra telefone celular e documentos de Dom Phillips e Bruno Pereira
Foto de capa: Reprodução do documento do jornalista Dom Phillips que foi encontrado pela Univaja.
Às vésperas das execuções de Dom Phillips e Bruno Pereira completarem quatro meses, uma equipe da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) encontrou na quarta-feira, 28.set.2022, o aparelho de comunicação via satélite usado pelo jornalista inglês, que foi executado no dia 5.jun.2022 ao lado do indigenista Bruno Pereira. Além do telefone, os indígenas descobriram em meio à floresta as carteiras com os documentos das vítimas. Os objetos estavam numa área próxima ao local onde a dupla foi assassinada às margens do Rio Itacoaí.
A direção da Univaja vai encaminhar os objetos à Polícia Federal. A perícia no telefone usado por Dom pode contribuir com a investigação, revelando detalhes sobre as horas que antecederam os assassinatos do jornalista e do indigenista. A quebra do sigilo de dados do aparelho pode mostrar, por exemplo, se Dom fez imagens ou gravou conversas dos suspeitos de participação no crime.
Conforme revelou o Programa Tim Lopes, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), o apoio da Univaja foi fundamental para a PF encontrar a cova onde os assassinos enterraram Dom e Bruno. Após terem sido caçados e mortos a tiros de espingarda calibre 16, as vítimas tiveram os corpos esquartejados e queimados.
Como a Abraji noticiou em 5.set.2022, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal desmembraram a investigação em dois inquéritos. Em um deles são apurados os detalhes em torno dos assassinatos e da participação de cada suspeito. Três pessoas já foram denunciadas pelas mortes: Amarildo de Oliveira, o Pelado; seu irmão, Oseney Costa de Oliveira; e Jefferson Lima da Silva, o Pelado da Dinha.
No segundo inquérito, os policiais federais apuram - em paralelo às execuções de Bruno e Dom - o envolvimento de moradores das comunidades ribeirinhas de São Gabriel e São Rafael, às margens do Rio Itacoaí, nas invasões para pesca e caça predatórias na TI do Vale do Javari. O indigenista vinha denunciando Pelado como líder do bando há pelo menos dois anos. Foi essa parte da investigação que levou a Polícia Federal a realizar uma operação em 5.ago.2022.
Na ocasião, os agentes foram a São Gabriel e São Rafael, onde prenderam por associação criminosa: Jânio Freitas de Souza, Laurimar Lopes, o Caboclo, Otávio Costa de Oliveira, Amarílio Oliveira e Elicley Costa de Oliveira, o Sirinha. Os três últimos são irmãos de Pelado, o assassino confesso de Dom e Bruno. Na casa de Sirinha os agentes da PF tinham apreendido anteriormente duas canoas, serrotes, facões e uma motosserra supostamente usadas para esquartejar o jornalista e o indigenista.
Além dos cinco presos em 5.ago.2022, a Polícia Federal incluiu no inquérito que apura o crime de associação criminosa para pesca ilegal os nomes de Amarildo, o Pelado, e do narcotraficante Rubens Villar Coelho, apontado como financiador das expedições ilegais para pesca e caça predatória na Terra Indígena. De acordo com a apuração, Pelado atuava como uma espécie de braço direito do traficante em Atalaia do Norte.