
- 19.07
- 2018
- 09:36
- Rafael Oliveira
Fernando Rodrigues ganha Prêmio Maria Moors Cabot
O ex-presidente e atual membro do Conselho Curador da Abraji Fernando Rodrigues foi anunciado ontem (18.jul.2018) como 1 dos agraciados pelo Prêmio Maria Moors Cabot de 2018.
Concedida anualmente pela Escola de Jornalismo da Universidade Columbia, a premiação começou a ser oferecida em 1939 e é a mais antiga honraria destinada a jornalistas. O prêmio homenageia os profissionais “pela excelência profissional e pela cobertura do Hemisfério Ocidental que promove o entendimento interamericano”.
Em texto sobre a premiação publicado no Poder360, Rodrigues declarou: “É uma honra receber o prêmio Maria Moors Cabot. Sinto que é também e sobretudo 1 reconhecimento a todos os que trabalham no projeto do Poder360 e do Drive”.
Nascido no interior de São Paulo, Fernando Rodrigues formou-se em Comunicação Social em 1985, na Universidade Metodista. Após realizar mestrado em jornalismo internacional na City University, em Londres, começou a trabalhar na Folha de S. Paulo. No jornal paulista foi repórter, editor de economia, correspondente internacional e colunista. Paralelamente, iniciou 1 blog sobre política em 2000, hospedado no portal UOL.
Demitido da Folha de S. Paulo no final de 2014, Rodrigues deu novos rumos à carreira ao iniciar o Drive, uma newsletter paga, focada em política e economia em Brasília. Em 2017 iniciou o portal Poder360, que também tem como objetivo a cobertura do poder na capital brasileira. Seu blog, a “mais antiga e contínua operação de cobertura jornalística digital sobre macropolítica no Brasil”, passou a ser hospedado no portal.
"Ele passou de desempregado a empregador, contratando outros jornalistas para ajudá-lo a continuar sua excelente cobertura política", diz o anúncio da premiação. O Poder360 conta hoje com 40 profissionais, entre jornalistas e demais equipes operacionais.
Segundo o amigo José Roberto de Toledo, jornalista da piauí e presidente da Abraji no biênio 2014-15, Rodrigues “dedica uma energia incomensurável ao jornalismo” há mais de 30 anos. “Repórter multipremiado, correspondente poliglota, inovador no uso e difusão de novos métodos e ferramentas, sempre foi 1 empreendedor”, afirma Toledo.
Sobre a mais recente empreitada de Rodrigues, Toledo diz: “mais recentemente, virou também empresário de sucesso com o Poder360 e passou a empregar dezenas de colegas. Faltam Fernandos entre nós”.
1 dos fundadores da Abraji, Rodrigues esteve à frente da associação no biênio 2010-11 e foi também uma das principais vozes pela aprovação da Lei de Acesso à Informação, sancionada no final de 2011.
Para Dorrit Harazim, agraciada com o prêmio no ano passado e homenageada no Congresso da Abraji em 2010, Rodrigues é “arrojado, não teme o novo, derruba fronteiras”. “Nunca trabalhei com Fernando na mesma redação, somos de gerações diferentes. Porém me tornei uma jornalista mais afiada e uma cidadã melhor equipada graças ao seu teimoso empenho em fazer aprovar a Lei de Acesso à Informação Pública. Sua participação na criação da Abraji também atesta uma preocupação para além da própria carreira”, aponta a jornalista.
Ao longo dos mais de 30 anos de carreira, Rodrigues venceu quatro prêmios Esso. 1 deles, em 1997, por reportagem sobre a venda de votos de deputados a favor da emenda constitucional da reeleição. Além de Folha e UOL, contribuiu com BBC, Globonews, Jovem Pan e SBT.
O jornalista é membro da diretoria e 1 dos fundadores da Global Investigative Journalism Network (GIJN). Além disso, participou de investigações transnacionais comandadas pelo International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ), incluindo o Panama Papers, vencedor do Prêmio Pulitzer.
Para José Roberto de Toledo, Fernando Rodrigues “teve e tem papel fundamental no avanço do jornalismo no Brasil”, “seja pelo exemplo de suas reportagens, seja pela cooperação com colegas através da fundação da Abraji e da participação em consórcios internacionais como o ICIJ, seja por sua ação insubstituível na aprovação da Lei de Acesso a Informações Públicas”.
Rodrigues é 1 dos pioneiros na utilização do jornalismo de dados no Brasil. O anúncio da premiação destaca uma das iniciativas do jornalista nessa área, o site Políticos do Brasil, no ar desde o início dos anos 2000: “[Rodrigues] passou anos montando 1 banco de dados sem precedentes, que mostravam como milhares de políticos brasileiros se tornaram mais ricos após cada eleição”. Os dados disponíveis no projeto estão sendo reprocessados e estarão em breve no Poder360, segundo informações do próprio site.
Além de Fernando Rodrigues, o prêmio Maria Moors Cabot de 2018 também foi oferecido para Hugo Alconada (La Nación, Argentina), Jacqueline Charles (Miami Herald) e Graciela Mochkofsky (jornalista e escritora argentina) A fotógrafa venezuelana Meridith Kohut recebeu uma citação especial do júri.
Para Dorrit Harazim, o prêmio é 1 “relevante antídoto para a desinformação”. Ela destaca o berço da premiação na “mais conceituada Escola de Jornalismo das Américas”: “Já por isso a qualidade embutida no prêmio transfere confiabilidade ao profissional agraciado, divulga o seu trabalho além fronteiras e alavanca nosso métier no continente todo. Imagino que poucos fora de El Salvador e países vizinhos sabiam o que era a garotada do El Faro até eles receberem o Moors Cabot em 2011, por exemplo”, aponta a jornalista.
Rodrigues foi o 36º brasileiro a receber o Prêmio Maria Moors Cabot. Além dele e de Harazim, a honraria já foi oferecida a jornalistas e publishers como Rosental Calmon Alves, Mauri König, José Hamilton Ribeiro, Miriam Leitão, Clóvis Rossi e Alberto Dines. Confira a lista completa:
- Paulo Bittencourt (1941)
- Sylvia Arruda Botelho Bittencourt (1941)
- Assis Chateaubriand (1945)
- Orlando Ribeiro Dantas (1948)
- Elmano Cardim (1951)
- Belarmino Austregésilo de Athayde (1952)
- Carlos Lacerda (1953)
- Danton Jobim (1954)
- Breno Caldas (1955)
- Herbert Moses (1957)
- Roberto Marinho (1957 e 1965)
- Hernane Tavares Sá (1959)
- M.F. Nascimento Brito (1967)
- Alceu Amoroso Lima (1969)
- Alberto Dines (1970)
- Fernando Pedreira (1974)
- Carlos Castello Branco (1978)
- Luis Fernando Levy (1987)
- Roberto Muller (1987)
- Paulo Sotero (1987)
- Roberto Civita (1988)
- Carlos Lins da Silva (1991)
- Ricardo Arnt (1991)
- Gilberto Dimenstein (1991)
- Otávio Frias Filho (1991)
- Clóvis Rossi (2001)
- João Antônio Barros (2003)
- Miriam Leitão (2005)
- José Hamilton Ribeiro (2006)
- Merval Pereira (2009)
- Norman Gall (2010)
- Mauri Konig (2013)
- Lucas Mendes (2015)
- Rosental Calmon Alves (2016)
- Dorrit Harazim (2017)
- Fernando Rodrigues (2018)
Foto: Alice Vergueiro
