- 26.11
- 2018
- 14:33
- Aimee Rinehart
Liberdade de expressão
Comprova fecha um ciclo no Brasil
Publicado originalmente em 19.nov.2018, no Medium
O Comprova, nosso maior projeto de jornalismo colaborativo até o momento, encerrou-se depois do segundo turno das eleições no Brasil em 28 de outubro. O projeto reuniu jornalistas de 24 redações, que trabalharam juntos virtualmente, usando um gerenciador de conteúdo on-line e um incrivelmente movimentado grupo de WhatsApp para encontrar, verificar e noticiar colaborativamente 149 exemplos de desinformação durante as 10 semanas que levaram ao segundo turno da eleição presidencial.
Ao longo do projeto, contra uma maré de desinformação e diversos obstáculos, nossos parceiros persistiram. Houve desafios desde o início do projeto. A oficina em que foi dado o pontapé inicial aconteceu ao mesmo tempo em que a greve dos caminhoneiros e a consequente falta de combustível. Além disso, as 10 semanas do projeto foram marcadas por várias notícias urgentes. A equipe trabalhou por madrugadas e noites afora, atuando simultaneamente no Comprova e nessas grandes pautas:
15 de agosto: o Grupo Abril, um grupo de mídia grande que inclui três parceiros do Comprova, pediu recuperação judicial e demitiu 900 empregados.
31 de agosto: o Tribunal Superior Eleitoral julgou que o ex-presidente Lula não poderia concorrer a um terceiro mandato como presidente por ter sido condenado a 12 anos de prisão por corrupção.
2 de setembro: um enorme incêndio destruiu o Museu Nacional
6 de setembro: Jair Bolsonaro foi esfaqueado em um ato de campanha.
Ao longo das 12 semanas do projeto que iniciou as atividades em 6 de agosto, parceiros selecionaram exemplos de desinformação que chegaram ao ponto de viralização (a equipe mediu isto usando diferentes ferramentas para avaliar se um boato ou peça de conteúdo enganoso ou malicioso saiu da comunidade online em que se originou, ou cruzou plataformas e estava se espalhando com velocidade). Um dos grandes desafios desses projetos é determinar esse ponto de viralização. Se você noticia um boato pequeno, dá a ele oxigênio desnecessário. Se o faz tarde demais, torna-se muito difícil de desacelerá-lo ou pará-lo.
Um parceiro começava uma verificação, documentando as checagens que fez, as ferramentas que usou e as evidências que coletou. Então o editor do projeto mandava uma mensagem aos outros parceiros por meio do grupo de WhatsApp e outros parceiros revisavam o trabalho e confirmavam ou ofereciam sugestões sobre qualquer informação adicional que fosse necessária. Para publicar uma reportagem, pelo menos três parceiros tinham que confirmar as descobertas e colocar o logotipo da organização ao pé da publicação no gerenciador de conteúdo. Em média, houve cerca de 9 logotipos de parceiros listados ao fim das publicações.
O WhatsApp tem uma penetração muito alta no Brasil e sabíamos que ele teria um papel central no Comprova. Estamos orgulhosos de ser a primeira organização jornalística sem fins lucrativos a trabalhar com o WhatsApp usando seu software corporativo, o que nos permitiu selecionar entre as quase 70 mil perguntas e sugestões que recebemos do público sobre conteúdo on-line que achavam questionável. No último mês da eleição, recebíamos quase 2 mil mensagens por dia, o que significa que tínhamos 10 jornalistas e estudantes de jornalismo revisando essas perguntas, encontrando padrões e passando as questões mais prementes para a equipe central.
O Comprova foi principalmente um projeto conduzido por nossos parceiros brasileiros. Nós oferecemos um treinamento prévio sobre as ferramentas, a metodologia e melhores práticas para reportar sobre desinformação, mas o projeto foi um sucesso por causa da dedicação e entusiasmo de nossos parceiros. Gostaríamos de dizer um enorme obrigada e nomear todos os que estiveram envolvidos.
O Comprova teve uma equipe editorial de cinco pessoas que trabalhou nos escritórios do campus da Fundação Armando Alvares Penteado. Sérgio Lüdtke deu à equipe a direção editorial. Foi apoiado pelos editores associados José Antonio Lima e Rafael Garcia. Pela primeira vez em nosso projeto colaborativo, abrimos vagas de meio período para um criativo de redes sociais e um estrategista de mídias sociais. Tivemos três criativos de redes sociais durante o projeto: Marcela Tavares, Ricardo Pieralini e Helio Miguel Filho. Nosso estrategista de redes, Guilherme Conter, trabalhou a distância e com nosso time de desenvolvedores web no SEO e garantiu que todos os códigos de monitoramento estavam no lugar certo para o projeto. Pedro Burgos atuou para estabelecer nosso número de WhatsApp e apoiou o projeto continuamente criando ferramentas para nos ajudar a analisar o alcance do Comprova. Fomos sortudos o suficiente de ter a bolsista da Kennedy School Digital Yasodara Cordova conosco nos EUA para trabalhar em questões enviadas para nosso número de WhatsApp; Yaso também criou atalhos, treinou jornalistas para responder e nos manteve informados sobre os tipos de questões e boatos que o número recebeu. Estas são as pessoas que, diariamente, mantiveram o Comprova azeitado e se certificaram de que nosso número de WhatsApp fosse levado a uma ampla audiência.
Houve ajuda e incentivo em campo por vários dos líderes do jornalismo no Brasil. Adriana Garcia trabalhou conosco desde fevereiro para trazer parceiros, ajudar a planejar eventos e manter o projeto em andamento quando parecia -- como frequentemente acontece com projetos colaborativos -- que tudo desmoronaria. Angela Pimenta, diretora do Projor, foi um dos primeiros pontos de contato e disse a respeito deste projeto: "quando decido sobre algo, eu decido". Foi esse tipo de foco que nos manteve seguindo em frente. Daniel Bramatti, jornalista de O Estado de S.Paulo e presidente da Abraji, foi um defensor leal do projeto. Manteve os parceiros focados nos fundamentos do jornalismo e colocou a Abraji à disposição para ser a organização coordenadora local, o que ajudou tremendamente. Houve ainda diversas organizações que emprestaram suas tecnologias ou serviços ao Comprova. Parceiros institucionais incluem Abraji, ANJ (Associação Nacional de Jornais), Aos Fatos, FAAP, Ideal H+K Strategies, o escritório no Brasil do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade Harvard, Projor, RBMDF Advogados, Eleições Sem Fake e Textual Comunicação. Parceiros de tecnologia incluem Chartbeat, CrowdTangle, NewsWhip, Stacker, Torabit, Twitter e WhatsApp. O Google News Initiative e o Facebook Journalism Project forneceram os recursos para tornar este projeto realidade e, por isso, somos eternamente gratos.
Há ampla evidência de que a desinformação continuará a se propagar no Brasil e a colaboração é a única forma de combater o problema. O Comprova está comprometido a estudar as possibilidades de realizar uma versão 2.0 em 2019. Esperamos que você continue a nos seguir no Twitter e no Facebook para saber das novidades do projeto.
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