- 28.05
- 2019
- 13:56
- Abraji
Liberdade de expressão
Retaliação de integrantes do Cruzeiro a jornalistas é inadmissível
Desde o último domingo (26.mai.2019), integrantes do Cruzeiro Esporte Clube retaliam profissionais da imprensa por causa de reportagem que revelou suspeitas de irregularidades na administração da agremiação. Os repórteres Gabriela Moreira (TV Globo) - que realizou a apuração com Rodrigo Capelo - e Vinicius Nicoletti (FOX Sports) sofreram tentativas de intimidação.
O e-mail enviado por Moreira com perguntas à diretoria do Cruzeiro sobre o apurado pela reportagem foi divulgado com o telefone da repórter e circulou em grupos de WhatsApp de torcedores do clube. "Eu só mandei esse e-mail para o Cruzeiro, para mais ninguém", diz a repórter, que relata ter recebido centenas de mensagens após o vazamento do número.
Vinicius Nicoletti (FOX Sports), por sua vez, foi ameaçado por Itair Machado, vice-presidente de futebol do Cruzeiro, durante uma coletiva realizada em Belo Horizonte nesta segunda-feira (27). Ao fazer uma pergunta sobre a negociação do passe de um jogador menor de idade (prática proibida), Machado apontou para o repórter enquanto dizia, fora do microfone: "Você vai ver. Eu tenho muita coisa sua e vou começar a falar".
A prática de integrantes de clubes de futebol brasileiros de intimidar, desrespeitar e mesmo agredir jornalistas não é novidade. Há apenas algumas semanas, o presidente do Athletico Paranaense Mario Celso Petraglia disse à repórter Luana Kaseker (Gazeta do Povo) para "se calar" em uma coletiva. Petraglia ameaçou ainda proibir que a Gazeta participe das coletivas do clube. Em 2017, a repórter Renata de Medeiros (Rádio Gaúcha) foi alvo de declaração machista do técnico Guto Ferreira, do Inter. Uma pesquisa divulgada em 2018 mostra que a cobertura esportiva é tão perigosa quanto a política ou a de segurança pública.
A Abraji repudia as ações de integrantes do Cruzeiro contra os jornalistas. Retaliar profissionais de imprensa por cumprirem seu papel de informar sobre temas de interesse público é inadmissível. Clubes de futebol e seus dirigentes não são isentos de escrutínio público e devem agir de acordo com as regras da democracia que vigora no país.
Diretoria da Abraji, 28 de maio de 2019.