- 09.01
- 2023
- 18:00
- Abraji
Liberdade de expressão
Programa Tim Lopes indica ferramentas de segurança para jornalistas
Foto: Reprodução Marcelo Camargo/Agência Brasil
Ao menos 11 trabalhadores da imprensa tradicional e independente foram alvo de violência de extremistas bolsonaristas durante a invasão aos Três Poderes, em Brasília, no domingo (8.jan.2023). Considerando os riscos que jornalistas enfrentam nesse tipo de cobertura, o Programa Tim Lopes listou algumas ferramentas úteis que podem ajudar profissionais e comunicadores a se manterem seguros em coberturas políticas, manifestações, ações criminosas e ambientes digitais.
Em out.2022, a Abraji disponibilizou em seu canal no YouTube um treinamento gratuito de segurança física direcionado a jornalistas, ministrado pela empresa inglesa RPS Training Solutions. É uma oportunidade para quem tem interesse em se aprofundar sobre o assunto e lidar de forma melhor com possíveis ataques. O conteúdo está dividido em cinco módulos: Planejamento e preparação; Vigilância; Primeiros socorros; Conhecimento sobre coletes e armas; e Gerenciamento de conflitos. Acesse o curso aqui.
Além disso, pouco antes do segundo turno das eleições, Herculano Barreto, colaborador da empresa no Brasil, deu dicas sobre como repórteres podem se proteger em situações que ameacem sua integridade física. Embora estejam voltadas para a cobertura das eleições, as orientações são valiosas para profissionais que pretendem cobrir grandes protestos e a movimentação de multidões.
Outros guias disponíveis no site da Abraji
1 - Guia de segurança para comunicadores em coberturas políticas - Artigo 19
O guia de segurança para comunicadores em coberturas políticas da organização internacional Artigo 19 recomenda que a primeira coisa a fazer é entender o contexto político, social, econômico e cultural. Examinar informações sobre incidentes passados relacionados ao tema também é imprescindível. O texto lembra a necessidade de ouvir diversas fontes. E que, por lei, o jornalista tem o direito de guardar a confidencialidade de suas fontes.
O guia também aponta que deve haver equidade na cobertura jornalística. Isso significa que quando uma informação importante ou comprometedora é divulgada, “é preciso refletir sobre o risco que o comunicador corre ao assinar a matéria”.
Segundo a cartilha da Artigo 19, os conteúdos publicados devem ter um caráter narrativo e informativo para evitar alegações de que o conteúdo foi veiculado com o intuito de ofender a honra de alguém. O guia orienta aos comunicadores que, ao escreverem um texto de opinião, sempre deixem claro os fatos utilizados para chegar em determinado ponto.
2 - Manual de segurança para a cobertura de protestos - Abraji
Quando for cobrir um local onde os protestos e manifestações estejam ocorrendo, o Manual de segurança para a cobertura de protestos da Abraji, publicado em 2014, indica que o repórter sempre atento às mudanças de ânimo da manifestação: “Evite vagar aleatoriamente no meio da massa, prefira investidas pontuais para registrar o que necessita”, diz o texto
Caso seja interpelado, ou seja, quando alguém abordá-lo no meio da multidão, os especialistas recomendam que é importante manter o maior contato visual possível com essa pessoa. “Olhe nos olhos do interlocutor, respire fundo e tente impor um ritmo pausado e calmo à sua fala. Evite entrar em troca de acusações ou acelerar o ritmo da discussão”.
Caso o jornalista seja detido por policiais, o manual da Abraji explica que é preciso manter uma conduta profissional enquanto explica seu trabalho. Sendo mantida a prisão, deve cumprir as ordens e esperar o momento certo para apresentar seu caso calmamente para uma autoridade superior.
Em casos de bala de borracha, o texto ressalta que o indicado é não se aproximar das forças de segurança e sair de perto de forma segura. O manual também dá dicas de como limpar os resíduos do gás e se livrar dos objetos contaminados. E sinaliza que, ao prestar auxílio a outra pessoa, o profissional precisa avaliar se estará sujeito a ser ferido também.
Outra dica importante é conferir equipamentos danificados antes de abandonar o local. Sugere ainda que, de volta à redação, elabore um relatório sobre o que foi planejado, executado, as falhas, lições aprendidas e sugestões para outros episódios.
3 - Guia de proteção e segurança para comunicadores e defensores de direitos humanos - Artigo 19
No guia, é indicado conhecer sempre as causas, os participantes e a dinâmica do conflito que poderá presenciar. “A situação de risco pode ser definida por três fatores: ameaças/incidentes de segurança, vulnerabilidades, e capacidades”, está escrito. Entendendo estes fatores, o guia de proteção e segurança para comunicadores e defensores de direitos humanos da Artigo 19 indica que é possível determinar o nível de risco e os pontos para ter atenção. Não se deve esquecer que todos os incidentes de segurança devem ser registrados e analisados imediatamente ou regularmente.
Em caso de ações judiciais, “pesquise e procure compreender quais são as principais causas destas contra profissionais que exercem atividade similar à sua e quem são os atores em seu contexto que mais usualmente fazem uso de vias judiciais para impedir a difusão de informações”. Não se esqueça de informar-se sobre seus direitos para entender como se defender. Sempre tenha indícios da veracidade dos fatos que você divulga.
4 - Kit de Segurança Digital - Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ)
Dedicado ao ambiente digital, o kit de segurança do CPJ lista recursos tecnológicos para que o comunicador consiga se proteger. O texto ressalta que é necessário desconfiar das mensagens que pedem que algo seja feito de forma rápida, “especialmente se elas envolvem clicar em um link ou baixar um anexo”.
No e-mail, lembra o texto, é indicado a visualização de todos os anexos antes de baixá-los. “Em caso de dúvida, ligue para o remetente e peça que copie o conteúdo para o corpo do e-mail ou faça capturas de tela do documento em vez de baixá-lo”.
Um recurso indicado pelo kit é o Virus Total, um serviço que examina links e documentos suspeitos em busca de malwares.
Outra dica do CPJ é sempre atualizar o sistema operacional quando for solicitado. O kit explica que uma atualização antiga tem vulnerabilidades. E sugere que as pessoas não esqueçam de configurar seus dispositivos para permitir que os dados sejam deletados remotamente.
Em casos de alguns aplicativos de mensagens, como Whatsapp, há passos de segurança extra que podem ser tomados para verificar com quem a pessoa está conversando. “Tanto o Signal como o WhatsApp oferecem a possibilidade de definir fotos e vídeos a serem apagados após a visualização”.
5 - Segurança Digital: Boas Práticas para Jornalistas - IFEX
O guia de segurança digital do IFEX sugere que o jornalista deve alterar suas senhas de forma regular, como, por exemplo utilizar “um gerenciador de senhas (por exemplo: Keepass, 1Password ou LastPass), que permite gerenciar senhas únicas e as armazena com segurança, com uma única frase de acesso que serve como senha-mestre para acessar as outras senhas”. Caso haja necessidade de se comunicar com fontes não familiarizadas com a internet, o manual também indica um passo a passo de como deve se realizar a comunicação via e-mail.