Eleições 2022: dicas de proteção para cobrir o fim de semana do 2º turno
  • 28.10
  • 2022
  • 18:00
  • Abraji

Formação

Eleições 2022: dicas de proteção para cobrir o fim de semana do 2º turno

Foto de capa: Treinamento de segurança física da Abraji ministrado em jun.2022 pela RPS Training Solutions.

Ânimos acirrados, violações à liberdade de imprensa, campanhas sistemáticas de desinformação e violência política são algumas das marcas do processo eleitoral de 2022. E, à medida que se aproxima o fim do segundo turno, aumenta a preocupação de organizações e especialistas ligados à defesa da liberdade de expressão e dos direitos humanos com a segurança e proteção de profissionais de imprensa que vão atuar nas ruas.

Com o objetivo de mitigar os eventuais riscos e danos decorrentes da cobertura eleitoral neste fim de semana (29 e 30.out.2022), a Abraji conversou com Herculano Barreto, colaborador no Brasil da empresa inglesa RPS Training Solutions, especializada em proteção, segurança e treinamento médico. Ele deu dicas sobre como repórteres podem evitar situações de perigo e também lidar com circunstâncias que ameacem sua integridade física.

Analise o risco

Herculano Barreto alerta sobre a importância de os profissionais analisarem, previamente, os riscos que estão envolvidos na apuração para que consigam se distanciar de situações em que poderão se tornar alvo de ações de agressores. “É preciso ter em mente que estamos nas ruas para contar as histórias, e não para fazer parte delas”, adverte Barreto, que também é repórter do UOL Notícias. 

Ele destaca que, nos últimos anos, houve uma mudança na análise de risco do trabalho jornalístico: “Antes, os agressores eram identificados como pessoas ligadas ao crime organizado. Hoje, são pessoas comuns, que podem agir com violência, motivadas apenas por convicções políticas”.

Preparação

Após estudarem os riscos relacionados à pauta, os profissionais devem se preparar para lidar com situações de perigo. No caso de quem tem vínculo empregatício, Barreto sinaliza que é importante manter contato com a chefia para atualizá-la a respeito do seu estado e do local em que se encontra. 

A Abraji sugere que profissionais freelancers, que em sua grande maioria não contam com suporte de uma organização, pactuem com alguém de confiança uma interlocução para relatar eventuais contratempos. 

Em razão da polarização política, Barreto aconselha que os profissionais de imprensa não vistam roupas de cores que os associem a um determinado candidato e optem por roupas neutras. É aconselhável vestir roupas confortáveis e evitar peças que podem ser facilmente puxadas por um agressor como, por exemplo, as que possuem capuz. O mesmo raciocínio vale para as pessoas que têm cabelos longos. “Deve-se proteger os cabelos. Pode ser com um boné ou mesmo prendê-los para evitar que um agressor os puxe”. 

Além disso, Barreto defende o uso de sapatos confortáveis, de preferência esportivos, que ajudem os profissionais a correr em caso de fuga.

Quanto aos pertences que precisam ser levados para a cobertura, além de um documento de identificação com foto e dos equipamentos de trabalho, o colaborador da RPS Training Solutions recomenda levar carregadores de baterias; bandagem, que pode ser útil para estancar o fluxo de sangue de um ferimento; máscaras de proteção; e água. 

Ele menciona que, além da função de hidratar, a água tem um papel fundamental nos casos em que a polícia lança gás lacrimogêneo contra uma multidão ou um grupo de pessoas. Umedecer com água uma peça de roupa, que pode ser levada em uma mochila, e colocá-la sobre o nariz e boca para respirar é uma das medidas rápidas e eficazes para minimizar os efeitos do gás. Também nessas circunstâncias, as máscaras de proteção contra a covid-19, embora não sejam próprias para isso, são acessíveis e ajudam a filtrar o gás. Outra dica: caso o profissional tenha sido exposto ao gás, ele não deve passar a mão em seu rosto, pois essa ação espalhará os componentes que causam irritação, aumentando e prolongando o desconforto nos olhos, nariz e boca.

Profissionais nas ruas

Antes mesmo de chegar ao local da cobertura, Barreto recomenda que repórteres avaliem sua identificação como imprensa. “Há episódios em que a identificação do repórter foi determinante para que fossem praticados atos hostis por parte de eleitores com algum tipo de animosidade em relação à imprensa. É importante avaliar se ele se identificará como jornalista ou estará no meio da multidão como as outras pessoas”, comenta.

Alguns repórteres e cinegrafistas, além de atuarem em parceria, podem contar com o apoio de um motorista da redação durante a cobertura, que auxiliarão no transporte dos profissionais e equipamentos. Quando se tratam de equipes, é recomendável marcar um ponto de encontro para que as pessoas se reúnam para deixar o local com rapidez em caso de emergência. 

“Outra coisa importante é, se o profissional visualizar outros colegas de trabalho, tentar se agrupar. É uma forma de proteger-se também. Se conseguirem se unir e atuar em conjunto, podem minimizar riscos”, completa.

Herculano Barreto pontua que o local mais seguro para as equipes é um ponto elevado, pelo qual é possível observar a movimentação das pessoas, e relativamente longe de aglomerações. “É realmente necessário estar no meio da multidão para pegar histórias?”, questiona.

Ele alerta que, independentemente do local, deve-se ter em mente qual será a sua rota de fuga, seja da equipe até o carro da empresa ou do automóvel até a redação, um lugar seguro ou um hospital próximo.

Também é indispensável que os profissionais levem em consideração a proteção de seus pertences pessoais. Posicionar bolsas e mochilas à frente do corpo diminui as possibilidades de furto. 

Situações que exigem atenção redobrada:

  • Quando eleitores dos dois candidatos que disputam o segundo turno estiverem próximos uns dos outros e o profissional de imprensa vir alguma possibilidade de conflito;
  • Se durante a divulgação do resultado do pleito, houver alguma reação de eleitores descontentes;
  • Intervenção da polícia para conter tumultos.

Casos extremos

Indagado sobre formas de lidar com momentos de trocas de tiro, Herculano Barreto indicou que atrás de muros de concreto e motores de carros são zonas relativamente seguras. Mas a regra é diminuir a exposição da área de contato do seu corpo às balas. Se possível e julgarem necessário, repórteres, fotojornalistas e cinegrafistas podem ter consigo coletes à prova de balas. A dica é manter a calma para sair da maneira mais rápida e segura possível da situação.

Tanto em casos de hostilização quanto em casos mais graves, como de agressões físicas, ameaças e destruição de equipamentos, a vítima deve prestar atenção às características do agressor que possibilitará sua identificação pela polícia e por meio de câmeras de segurança. Fique atento a aspectos como roupas, tênis, tatuagens e altura. Isso facilitará a descrição do agressor pelo alvo do ataque se a polícia tiver que ser acionada.
 

Outros recursos
 

Treinamento on-line e gratuito

No início de out.2022, a Abraji disponibilizou em seu canal no YouTube um treinamento gratuito de segurança física direcionado a jornalistas. O curso foi originalmente oferecido em São Paulo, em jun.2022, a 50 jornalistas de diferentes partes do país e ministrado pela RPS Training Solutions, com participação do Herculano Barreto.

É uma oportunidade para quem tem interesse em se aprofundar sobre o assunto e lidar de forma melhor com episódios de violência. O conteúdo tem cinco módulos: Planejamento e preparação; Vigilância; Primeiros socorros; Conhecimento sobre coletes e armas; e Gerenciamento de conflitos. Acesse o treinamento aqui.

Guias de segurança

Em 2021, a Abraji publicou a tradução de um artigo da Global Investigative Journalism Network (GIJN) que reúne uma série de guias e manuais de proteção e segurança para jornalistas produzidos por diferentes organizações, entre elas o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) e a Repórteres sem Fronteiras (RSF). Confira aqui

Assinatura Abraji