- 09.12
- 2021
- 18:17
- Abraji
Liberdade de expressão
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Número de jornalistas presos no mundo bate recorde, diz CPJ
O número de jornalistas encarcerados em todo o mundo atingiu patamar inédito em 2021, de acordo com o novo relatório anual do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). A organização internacional registrou 293 repórteres detrás das grades até o dia 1º de dezembro deste ano, contra 280 no mesmo período do ano passado.
Divulgado nesta quinta-feira (09.dez.2021), o censo do CPJ mostra que a China é o país que mais prende profissionais de imprensa ao redor do globo, com 50 detenções. O Partido Comunista Chinês prepara-se para receber os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, em fevereiro de 2022, sob possibilidade de boicote de países ocidentais, como os EUA. Completam o ranking, Mianmar (26), Egito (25), Vietnã (23) e Belarus (19).
O CPJ atribui o aumento de prisões de jornalistas ao avanço de governos autoritários, sobretudo na Ásia, África e América Latina. “Este é o sexto ano consecutivo em que documentamos um número recorde de jornalistas presos em todo o mundo. A cifra reflete que os governos estão determinados a controlar e administrar a informação”, disse o diretor executivo da entidade, Joel Simon. A liberdade de imprensa é um preceito fundamental para a democracia.
O diretor executivo do CPJ acrescenta que “é angustiante ver muitos países na lista ano após ano, mas é especialmente horrível que Mianmar e Etiópia tenham fechado a porta tão brutalmente para a liberdade de imprensa”. Os dois países não estavam no mapa de detenções de 2020.
Após aplicar golpe de Estado, a junta militar que governa o país do sudoeste asiático prendeu dezenas de jornalistas. Na nação africana, onde foram presos nove jornalistas, as restrições à imprensa são consequência do acirramento da guerra civil em curso desde 2020.
Com histórico de poucos casos de detenção, a América Latina teve, em meio a uma escalada de ameaças à liberdade de imprensa, jornalistas presos em Cuba (3), Nicarágua (2) e Brasil (1). Preso pela Polícia Civil de São Paulo após ser condenado por difamação a uma pena de cinco meses, o blogueiro esportivo Paulo Cezar de Andrade Prado está na penitenciária de Tremembé, relata o documento.
Na tradução do relatório para o português, o CPJ ressalta que profissionais de imprensa continuam a ser presos, em flagrante desrespeito aos direitos humanos, por governos repressores que deveriam estar lidando com crises globais como a sanitária, de covid-19, e a climática.
Morte por represália
O relatório do CPJ mostra ainda que 24 jornalistas foram assassinados devido à profissão. Em 2020, foram 32 casos de homicídio. Encabeçando a lista, a Índia registrou quatro profissionais de imprensa comprovadamente assassinados em retaliação direta por seu trabalho e uma pessoa morta na cobertura de um protesto.
“O México, no entanto, continua sendo o país mais mortífero para jornalistas no hemisfério ocidental, com três assassinados por suas reportagens e seis homicídios sob investigação”, informou a entidade.
Em 2020, oito de cada dez jornalistas mortos no mundo foram assassinados. O ciclo de impunidade permanece em regimes democráticos e autoritários, segundo o CPJ. “Isso deixa o recado inquietante de que os perpetradores não serão responsabilizados”, avalia.
A entidade alerta que ao menos sete países presentes no censo de 2021 participam da Cúpula da Democracia promovida pelo governo norte-americano de Joe Biden. Entre eles, vários vêm de uma história de impunidade, como Brasil, Índia, Iraque e Filipinas.
“As autoridades desses países continuam a cometer represálias contra jornalistas independentes, como a ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2021, Maria Ressa, com mais uma acusação falsa contra ela nesta semana”, informa o CPJ no relatório.
Desde 1992, quando a entidade iniciou a produção do censo, 1.422 jornalistas foram mortos.
Foto de capa: Jornalista Zhang Zhan foi presa por regime chinês após filmar início da pandemia em Wuhan. Allen J. Schaben/Getty Images