- 01.12
- 2021
- 16:00
- Abraji
Liberdade de expressão
Nova plataforma da Abraji mostra que jornalistas sofrem 1 ataque de gênero a cada 3,9 dias em 2021
No Brasil atual, marcado por radicalização política e constantes investidas contra a liberdade de imprensa, ser comunicador(a) é um desafio. Mesmo que essa afirmação valha para jornalistas brasileiros(as) como um todo, elementos como gênero e sexualidade tornam ainda mais difícil a tarefa de fazer jornalismo no país. Para dar visibilidade a esse problema, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) lança nesta quarta-feira (1.dez.2021) uma plataforma on-line com informações sobre as agressões que vitimaram comunicadoras e comunicadores com base em gênero.
O website é parte do projeto Violência de gênero contra jornalistas, iniciativa da Abraji patrocinada pela UNESCO que monitora casos de ataques de gênero contra profissionais de imprensa desde jan.2021.
Dados parciais do estudo revelam que, dos 335 ataques direcionados a profissionais da imprensa entre janeiro e outubro de 2021, 23,3% utilizaram o gênero, a sexualidade ou a orientação sexual como argumentos para a agressão. Foram 71 casos de violência contra mulheres jornalistas, dois episódios que vitimaram meios de comunicação com viés feminista e cinco situações de homofobia contra comunicadores. Isso representa, em média, 1 ataque com características de gênero a cada 3,9 dias.
O cenário, infelizmente, é uma progressão do que ocorreu em 2020. Dados da Abraji mostram que, naquele ano, as jornalistas mulheres foram alvos diretos de 61 violações à liberdade de imprensa e se tornaram vítimas de mais da metade das agressões no meio digital. Isso significa que, em apenas dez meses, 2021 já apresentou um aumento de 16,4% em relação ao total de casos registrados no ano passado.
Neste ano, a violência on-line também se destacou: 65,4% das agressões contra mulheres comunicadoras ou contra profissionais de imprensa envolvendo gênero e sexualidade tiveram origem ou repercussão nas redes sociais. Os homens foram os principais agressores, dentro e fora da internet, com presença em 64,1% dos casos.
Nomes como o de Jair Bolsonaro (PL) e seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), estão entre os principais autores dos ataques. O presidente esteve diretamente envolvido em sete casos ao longo do ano, enquanto seus filhos Carlos e Eduardo aparecem em quatro e cinco, respectivamente. Além disso, outros sete episódios de violência estiveram conectados a apoiadores, assessores e seguranças do presidente da República. Esses números revelam mais um padrão presente nas agressões: 41% dos casos tiveram o envolvimento de atores estatais.
Para além dos prejuízos à democracia gerados pela participação ativa de agentes políticos em violações à liberdade de imprensa, as situações protagonizadas por esses atores também dão forma a uma dinâmica perigosa na internet: dos 51 ataques sistemáticos envolvendo usuários de redes sociais, 27,4% foram instigados por publicações de autoridades de Estado e outras figuras proeminentes no campo político brasileiro. Como reflexo disso, em 61,5% dos casos, a vítima cobria ou comentava questões relacionadas à política.
O principal tipo de agressão a mulheres jornalistas, meios de comunicação e comunicadores em geral, quando os ataques envolviam questões de gênero e sexualidade, foi o discurso estigmatizante, presente em 73,1% dos casos. Outras situações de violência envolveram ameaças, intimidações e ciberameaças (19,2%), agressões físicas (9%), restrições na internet (5,1%), destruição de equipamentos (3,8%), restrições de acesso a informações (2,5%) e processos civis e penais (2,5%).
Os números, entretanto, podem não traduzir a realidade devido à subnotificação de casos, especialmente fora dos grandes centros urbanos e dos principais veículos de comunicação do país. Por isso, a Abraji lançou um canal de denúncias pelo qual profissionais da imprensa podem reportar episódios de violência que tenham sofrido ou presenciado ao longo de 2021.
Sobre o projeto
O monitoramento de violência de gênero contra jornalistas é uma variação do acompanhamento de violações da liberdade de imprensa realizado pela Abraji em parceria com a rede Voces del Sur. As estatísticas e outras informações sobre o projeto podem ser encontradas na plataforma on-line, que está em constante atualização. Nela, o público também poderá baixar a planilha com dados compilados até 31.out.2021, enviar casos pelo canal de denúncias, ler mais estudos e reportagens produzidas pela equipe do projeto, conferir a metodologia da pesquisa, além de solucionar as principais dúvidas envolvendo a iniciativa.
Com o lançamento da plataforma, a Abraji busca impulsionar novas pesquisas, projetos e iniciativas que tenham impactos reais sobre a violência de gênero contra jornalistas no Brasil, de modo a fomentar a melhoria do cenário que é enfrentado pela categoria.
Clique aqui para acessar a plataforma.