Maricá: dois assassinatos de comunicadores em menos de 1 mês
  • 19.06
  • 2019
  • 14:30
  • Natália Silva

Acesso à Informação

Maricá: dois assassinatos de comunicadores em menos de 1 mês

Romário Barros, criador do site Lei Seca Maricá, foi assassinado a tiros na noite de ontem (18.jun.2019). Barros é o segundo comunicador morto no município de Maricá, localizado na região metropolitana do Rio de Janeiro, em menos de um mês. Em 25.mai.2019, Robson Giorno, dono do Jornal Maricá, foi morto a tiros perto de sua casa. 

Romário Barros tinha 31 anos e foi alvejado com três tiros que atingiram cabeça e pescoço, enquanto dirigia seu carro. A perícia constatou, com base em imagens de câmeras de segurança, que os disparos foram feitos por dois criminosos. Segundo apuração do site O Dia, a Polícia Civil trabalha com a hipótese de que a execução tenha sido encomendada.

Robson Giorno, empresário e pré-candidato à prefeitura de Maricá pelo partido Avante, foi morto a tiros no mês passado, em local próximo de sua casa. Giorno estava acompanhado de sua esposa, que não foi atingida. A investigação do caso está sendo feita pela Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo. 

Por meio do Programa Tim Lopes, a Abraji acompanha as apurações para verificar se os crimes têm relação com a atividade jornalística das vítimas — o que ainda não foi determinado.

O Programa Tim Lopes foi criado em 2017 com apoio da Open Society Foundations e tem como objetivo acompanhar investigações de assassinatos, tentativas de assassinato e sequestros de jornalistas e dar continuidade às reportagens interrompidas por criminosos com o intuito de impedir a sua publicação. As reportagens produzidas são publicadas simultaneamente pela rede de veículos parceiros do Programa, composta hoje por Agência Pública, Correio (BA), O Globo, Poder 360, Ponte Jornalismo, Projeto Colabora, TV Aratu, TV Globo e Veja.

Se não houver relação direta dos crimes com a atividade das vítimas como comunicadores, um relatório interno será produzido para a diretoria da Abraji e para a fundação que apoia o projeto, bem como uma nota a ser publicada no site da associação. No entanto, a investigação não fica vinculada ao programa.

Caso seja constatada ligação entre o crime e a atividade jornalística, uma equipe do programa é enviada ao local para conversar com fontes e acompanhar a investigação do caso. Até hoje, isso aconteceu duas vezes: nos assassinatos dos radialistas Jefferson Pureza, em 17.jan.2018, e Jairo de Souza, em 21.jun.2018. “Em geral, ficamos de quatro a cinco dias na cidade, seguindo um protocolo de segurança, para a apuração e produção de conteúdo”, explica Angelina Nunes, coordenadora do programa.

Angelina ressalta que o trabalho da equipe continua mesmo após a publicação da reportagem, para acompanhar eventuais atualizações sobre o caso. Segundo a coordenadora, a atuação do Projeto Tim Lopes tem tido um impacto positivo: “Percebemos que o fato de ter uma equipe no local realizando a apuração contribui para a celeridade da investigação”. 

A violência contra comunicadores do Rio de Janeiro 

Segundo o relatório “Violência contra comunicadores no Brasil: um retrato da apuração nos últimos 20 anos”, lançado pela Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (Enasp), em 30.abr.2019, 13 comunicadores foram assassinados no Rio de Janeiro enquanto exerciam suas funções ou por conta de seus trabalhos jornalísticos desde 1995. 

Nenhum dos crimes presentes no relatório aconteceu em Maricá. Neste mapa, é possível visualizar os casos compilados pela Enasp no Rio de Janeiro. Entre os jornalistas assassinados no estado está Tim Lopes, morto em 02.abr.2002, que dá nome ao programa da Abraji responsável por investigar assassinatos de comunicadores no Brasil em decorrência de sua profissão. Tim Lopes era repórter da Rede Globo e à época estava fazendo investigações sobre tráfico de drogas e exploração sexual infantil em bailes funk. Sete pessoas foram denunciadas pelo crime. Até hoje, apenas Elias Pereira da Silva foi condenado.

Assinatura Abraji