
- 17.11
- 2025
- 22:02
- Samara Meneses
Liberdade de expressão
Justiça condena vereador pela morte do radialista Jefferson Pureza
A Justiça de Goiás condenou o vereador José Eduardo Alves da Silva (PR) pelo envolvimento no assassinato do radialista Jefferson Pureza, de 39 anos, ocorrido em 17 de janeiro de 2018, em Edealina (GO), a cerca de 136 km de Goiânia. A decisão foi proferida após julgamento pelo Tribunal do Júri, que analisou acusações de homicídio qualificado e corrupção de menores - já que adolescentes praticaram o crime. A sentença foi assinada pela juíza Lívia Vaz da Silva, presidente do Tribunal do Júri da Comarca de Edeia (GO).
O vereador foi considerado culpado pela morte da vítima e também pelo crime de corrupção de menores. Dos seis envolvidos no caso, três eram adolescentes: um seria o autor dos disparos, outro teria pilotado a motocicleta e o terceiro teria indicado os dois para cometer o crime. Segundo a investigação, o homicídio foi encomendado por R$ 5 mil e um revólver. O vereador acabou condenado por homicídio simples, além da corrupção de menores.
Na fixação da pena, a juíza agravou a punição ao considerar fatores como a atuação conjunta com outros participantes e o fato de a vítima ter deixado filhos pequenos. A pena de José Eduardo foi estabelecida em 10 anos, 10 meses e 15 dias de prisão, em regime inicial fechado. Em razão de entendimento do Supremo Tribunal Federal, réus condenados pelo Tribunal do Júri devem iniciar imediatamente o cumprimento da pena, motivo pelo qual ele não poderá recorrer em liberdade.
O segundo réu, Marcelo Rodrigues dos Santos, caseiro e amigo do vereador, foi absolvido da acusação de homicídio, após os jurados concluírem que ele não participou da execução. No entanto, foi condenado por corrupção dos menores que praticaram o assassinato. A juíza destacou seus maus antecedentes e a reincidência, fatores que aumentaram a pena. Ele recebeu condenação de 2 anos e 15 dias de prisão, em regime inicial aberto, também com início imediato de cumprimento da sentença.
Neste link, a apuração do Programa Tim Lopes sobre o assassinato.
Em 2019, o júri absolveu os réus pelo homicídio do jornalista. A Promotoria recorreu e o Tribunal, em segunda instância, anulou o veredito por entender que ele contrariava as provas do processo e determinou que o caso retornasse para a primeira instância. A nova sessão do júri, desta vez, resultou na condenação dos acusados. A sentença determina que os dois condenados podem recorrer, mas deverão continuar presos ou iniciar o cumprimento da pena no regime fixado pela Justiça.

Jefferson Pureza / Foto: Arquivo pessoal
O caso
Jefferson Pureza foi morto na noite de 17 de janeiro de 2018, com três tiros no rosto, enquanto descansava na varanda de sua residência. Ele vivia havia apenas 15 dias no imóvel, localizado na periferia de Edealina, junto da companheira, então com 17 anos e grávida de quatro meses.
O radialista havia chegado à cidade em 2016 e se destacou pelas críticas constantes à administração municipal anterior, liderada pelo ex-prefeito João Batista Gomes Rodrigues, o Batista Boiadeiro, e pelo vereador José Eduardo. Ligado ao grupo político de oposição, apresentava o programa “A Voz do Povo”, transmitido diariamente pela rádio comunitária Beira Rio FM, no qual denunciava supostas irregularidades e conflitos envolvendo ambos.
Em janeiro de 2017, um ano antes de ser assassinado, Jefferson afirmou ao vivo que havia um plano para matá-lo e responsabilizou publicamente o ex-prefeito e o vereador caso algo lhe acontecesse. Ao longo daquele ano, foi alvo de diversos episódios de intimidação e violência: furtos e incêndios na rádio, disparos contra a casa onde sua família morava em Pontalina e um novo incêndio que destruiu totalmente as instalações da emissora. Sem estrutura física, chegou a transmitir o programa pelo Facebook.
Conheça o caso de Jefferson Pureza no episódio especial de Jornalismo Sem Trégua, do Programa Tim Lopes. O episódio foi gravado no primeiro julgamento do vereador.
O assassinato de Jefferson foi o primeiro caso acompanhado pela equipe do Programa Tim Lopes, desenvolvido pela Abraji, para combater a violência contra jornalistas e a impunidade dos responsáveis.