- 03.08
- 2018
- 13:45
- Rafael Oliveira
Liberdade de expressão
Jornalista mexicano em busca de asilo nos EUA é libertado depois de sete meses
Com informações do Blog Jornalismo nas Américas do Knight Center
O repórter mexicano Emilio Gutiérrez Soto, que busca asilo nos EUA, foi libertado pela Agência de Imigração e Alfândega (ICE) em El Paso na tarde de 26.jul.2018, após sete meses de detenção.
Gutiérrez e seu filho Óscar foram detidos em dezembro de 2017, quando realizavam procedimentos rotineiros na ICE. Eles foram levados para uma unidade da Patrulha de Fronteira, no limite entre EUA e México, para serem deportados, mas um pedido de permanência emergencial interrompeu o processo no último momento.
"Ele não fez nada de errado. Nós estávamos tratando Emilio... como se ele fosse um criminoso, quando tudo o que ele fez foi pedir asilo. Então, acho que a liberdade é muito, muito importante, mas o é primeiro passo, e o próximo passo é conseguir o asilo para que ele possa ficar nos Estados Unidos permanentemente", disse Eduardo Beckett, advogado de Gutiérrez, ao Centro Knight. "Mas para mim, a liberdade está no cerne de seu interesse, de poder voltar, de ser parte do tecido social e participar e continuar a ser jornalista e permitir que seu filho continue a faculdade."
Em março deste ano, a Abraji repercutiu que dezoito organizações relacionadas ao jornalismo entraram com um pedido de amicus curiae perante a Junta de Apelações de Imigração norte-americana contra a deportação do jornalista.
Gutiérrez e seu filho — à época com 15 anos — entraram nos Estados Unidos em junho de 2008, pela fronteira próxima de Columbus, no Novo México. A fuga aconteceu após o jornalista ser ameaçado por militares no estado de Chihuahua, no norte do México, onde ele vivia e trabalhava. Repórter do El Diario del Noroeste, ele publicava reportagens sobre corrupção no Exército mexicano e passou a receber ameaças de morte após as publicações.
Em entrevista a Reporters Without Borders (RSF, na sigla em francês) em fevereiro de 2009, o jornalista contou que teve a casa revistada por mais de 50 militares sem mandado de busca, com a justificativa de que ele estaria envolvido com o crime organizado. Após esse episódio, Gutiérrez foi avisado por um conhecido de que estavam planejando matá-lo, e decidiu fugir com o filho para os EUA.
Após chegar ao Novo México, o jornalista e seu filho Oscar solicitaram asilo ao governo americano e, como parte do procedimento, ficaram sob custódia. Após sete meses detidos, ambos conseguiram uma permissão temporária de trabalho e passaram a trabalhar em restaurantes, estabelecidos em Las Cruces, também no Novo México.
A primeira audiência sobre o pedido de asilo aconteceu apenas em 2016. Em julho do ano passado, porém, o juiz de imigração, Robert Hough, negou o pedido de asilo dos Gutiérrez. Hough justificou a negativa questionando as credenciais de jornalista de Emilio, e dizendo que ele poderia evitar represália se mudando para outra região do México, ou solicitando proteção ao governo mexicano.
O caso de Gutiérrez agora retorna ao juiz de imigração que primeiro negou sua solicitação de asilo. Sua primeira audiência será em 16 de agosto. O advogado do jornalista, Eduardo Beckett, anteriormente disse ao Centro Knight que ele seus colegas advogados estão armados com mais evidências sobre os perigos para repórteres no México, assim como mais de 155 páginas de artigos escritos por Gutiérrez.
Beckett disse que outros planos imediatos incluem levar Gutiérrez à Universidade de Michigan para que ele receba a bolsa Knight-Wallace que ganhou.
Depois da libertação sua e de seu filho da detenção, Gutiérrez disse ao Texas Tribune que o filho foi sua inspiração para continuar lutando.
"Eu entendo e compartilho a dor das famílias que vieram para este país para salvar suas próprias vidas", disse, se referindo às famílias recentemente separadas na fronteira depois de pedir asilo.
Foto: Julián Aguilar/The Texas Tribune