Abraji discute desafios do trabalho jornalístico em encontros regionais na AL
  • 21.11
  • 2022
  • 16:18
  • Abraji

Formação

Abraji discute desafios do trabalho jornalístico em encontros regionais na AL

Foto de capa: Painel “Jornalismo em Perigo: narcocriminalidade na América Latina”, promovido no 17° Congresso Internacional de Jornalismo Fopea. Crédito: Fopea/Reprodução

Diante de um dos momentos mais delicados para a imprensa no Brasil, considerando o cenário político e social dos últimos anos, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) tem se dedicado a ampliar, em diferentes níveis, sua articulação com organizações que atuam em defesa dos jornalistas, das liberdades de expressão e de imprensa e do acesso à informação de interesse público. Esse trabalho inclui, entre outras atividades, mobilizações coletivas para incidir em políticas públicas, participação em fóruns nacionais, regionais e globais que discutem questões relacionadas à categoria e acompanhamento das violações às liberdades e aos direitos fundamentais desses profissionais.

Em nov.2022, além de participar de um encontro em Viena, na Áustria, que marcou os dez anos do Plano de Ação para a Segurança de Jornalistas e a Questão da Impunidade das Nações Unidas, e de estar presente na Conferência Latino-Americana de Jornalismo Investigativo (COLPIN), realizada pelo Instituto Prensa y Sociedad (IPYS) no Rio de Janeiro, a Abraji compartilhou sua experiência no 17° Congresso Internacional de Jornalismo Fopea, promovido pelo Foro de Jornalismo Argentino (Fopea, na sigla em espanhol) em Buenos Aires.

Com foco no jornalismo e seus profissionais, o evento do Fopea, realizado em 3 e 4.nov.2022, abordou temas como saúde mental, precariedade das condições de trabalho, gênero e equidade, liberdade de expressão na América Latina, sustentabilidade e inovação. A Abraji, representada pela assistente jurídica Leticia Kleim, integrou a mesa “Jornalismo em Perigo: narcocriminalidade na América Latina” ao lado dos jornalistas Germán de los Santos, Claudio Berón e Reynaldo Sietecase. A moderação ficou sob responsabilidade da presidente do Fopea, Paula Moreno. 

No painel, os convidados debateram a situação delicada que os jornalistas enfrentam na cidade de Rosário, província de Santa Fé, localizada ao norte de Buenos Aires. Os profissionais têm sido alvos de constantes ameaças e intimidações devido à ação e poder do crime organizado. Nesse contexto, ser repórter na região é correr riscos diariamente.

Segundo Cláudio Berón, os grupos criminosos atuam como e quando querem na cidade para criar fatos políticos, buscando comoção social. “Conseguem também uma autocensura na hora de trabalhar, uma autocensura baseada na própria segurança do trabalho do dia a dia, uma armadilha para o trabalho dos jornalistas”, afirma. 

Em suas falas, os palestrantes destacaram que essa realidade também vem sendo vivenciada em diversos outros territórios da América Latina, já que há esquemas regionais do crime organizado e do tráfico de drogas que conectam países vizinhos. “Isso não é Rosário, não é Argentina, é América Latina. Os principais desafios para as democracias vão ser as movimentações dos grupos antidemocráticos e o narcotráfico, que tem estrutura de tremenda complexidade (...). O problema é como estão articulados o negócio, os advogados, os contadores, os políticos e a polícia como parte do problema e não da solução”, refletiu Reynaldo Sietecase.

As regiões de fronteira chamam atenção pelos altos níveis de violência praticada contra jornalistas, como, por exemplo, a cidade de Pedro Juan Caballero, que tem cerca de 200 mil habitantes e está localizada entre o Brasil e o Paraguai, onde ocorreram assassinatos de diversos jornalistas brasileiros e paraguaios. Germán de los Santos conta que esteve na cidade e que nela existe uma atuação expressiva de grupos criminais em escala regional. Ao todo, já foram executados 20 jornalistas em Pedro Juan Caballero desde os anos 80.

Nesse cenário, em especial no contexto da cobertura da narcocriminalidade, Kleim afirmou que iniciativas de combate ao problema devem intervir em diversas frentes, desde ações em pequenas cidades, para que os crimes não fiquem impunes, ao contexto global, sobretudo contra o discurso de descredibilização da imprensa. 

Todas as palestras realizadas no 17° Congresso Internacional de Jornalismo Fopea foram gravadas e estão disponíveis no canal da organização no YouTube

Alianças regionais

A Abraji esteve ainda na Costa Rica para uma reunião realizada pela instituição holandesa Free Press Unlimited (FPU), com a participação de diversas organizações internacionais, regionais e locais que fornecem apoio para jornalistas em risco na América Latina. O encontro viabilizou uma articulação em rede para compartilhar recursos, boas práticas, diagnósticos e formas de trabalhar em conjunto que potencializam o suporte a profissionais de imprensa na região. 

Leticia Kleim apresentou o Programa de Proteção Legal para Jornalistas, que oferece apoio jurídico para profissionais e veículos independentes e distantes dos grandes centros urbanos que estejam sendo processados ou desejem processar seus agressores no contexto do exercício de suas funções. Leia mais sobre a iniciativa aqui.



Abraji participa de reunião organizada pela FPU na Costa Rica. Crédito: Embajada de los Países Bajos en Costa Rica/Reprodução

Assinatura Abraji