- 01.10
- 2024
- 13:37
- Samara Meneses
Liberdade de expressão
Período eleitoral soma 38 mil ataques online contra a imprensa no país
A imprensa tem sido alvo frequente na campanha eleitoral deste ano. Desde o início do período eleitoral, 16 de agosto, até 18 de setembro já foram registrados 38.008 ataques online, sendo 34.801 no X, 2.716 no Instagram e 491 no TikTok. Os números constam do monitoramento feito pela Coalizão em Defesa do Jornalismo (CDJor), articulação de 11 organizações da sociedade civil dedicadas à defesa da liberdade de imprensa da qual a Abraji faz parte.
O monitoramento também recebeu outras 10 denúncias nesse período, abrangendo episódios offline e casos originados ou repercutidos no ambiente digital. Um exemplo é o do jornalista Artur Rodrigues, do ABC Paulista, que foi abordado e ameaçado pelo vereador Paulo Chuchu (PL). O vereador perguntou em quem Rodrigues votaria e o advertiu a ter cuidado com a resposta, mostrando sua pistola na cintura enquanto ria.
A metodologia do monitoramento online envolve a análise de contas monitoradas, termos e hashtags específicas, além das publicações coletadas (posts, reposts e comentários) nas principais redes sociais, como X (antigo Twitter), Instagram e, posteriormente, TikTok. No caso do Twitter, o monitoramento seguiu coletando publicações após o bloqueio determinado pelo STF em 31 de agosto, mas o volume de casos é muito menor. E para minimizar os impactos na pesquisa, foram diversificadas as coletas de dados em redes sociais, incluindo mais contas e palavras-chave no Instagram e o monitoramento do TikTok, que foi iniciado apenas no último relatório publicado.
No X/Twitter os relatórios revelam um padrão de hostilidade especialmente direcionado aos veículos do Grupo Globo. A hashtag #globolixo foi a mais frequente, aparecendo em milhares de posts e comentários. Outras hashtags ofensivas que mencionam a emissora incluem #foraglobolixo, #globosta, #globonewslixo e #desligaaglobo. Seguindo esta tendência, foram detectadas hashtags que abrangiam críticas a diferentes veículos de comunicação como #jornalixo, #cnnlixo, #jovempanlixo e #midialixo.
Durante a quarta semana de campanha (5 a 11 de setembro), o bloqueio do X/Twitter no Brasil resultou em uma redução no volume de publicações. Apesar disso, usuários ainda conseguiram postar utilizando VPNs ou outras ferramentas tecnológicas. O relatório destacou a presença de termos ofensivos como "jornazista" e "militante", em sua maioria destinados à Rede Globo.
No Instagram, também foram observados termos e hashtags usados para descredibilizar a mídia, sempre vinculando-a a uma suposta posição política ideológica. A associação de termos como "mídia", "jornalismo" e "jornalista" a palavras como "esquerdista", "esquerda" e "comunista" reforça a visão de que a imprensa teria um viés político.
Também ficou visível que um forte ator ofensivo contra a imprensa são os próprios candidatos e seus aliados. Um caso em destaque é o do atual deputado federal pelo estado do Pará e candidato à prefeitura de Belém, Eder Mauro (PL). No Instagram, ele questionou a imparcialidade do portal O Antagônico, acusando-o de ser sensacionalista e de persegui-lo politicamente e com isso gerou uma onda de comentários atacando o veículo.
Violência de gênero
Os relatórios registram o aumento da violência digital contra jornalistas, especialmente mulheres. No dia 5 de setembro, Vera Magalhães, apresentadora do Roda Viva e comentarista política do Grupo Globo, comentava o resultado da pesquisa Datafolha que apresentava aumento de quatro pontos percentuais na rejeição de Pablo Marçal, em São Paulo, chegando a 38%. A informação motivou uma escalada de ataques contra a jornalista, colocando a profissional na segunda posição do ranking dos mais agredidos, com o total de 34 ofensas diretas. O post da CBN nesse dia chegou a mais de 4.000 curtidas e cerca de 1.500 comentários, muito mais do que a média do perfil da emissora no Instagram.
Os termos mais usados para ofender a jornalista Vera Magalhães e seu veículo foram jornalistas militantes, infantil, imprensa podre e militante e comunista. Raquel Landim e Fabíola Cidral, do UOL, também foram hostilizadas por observarem que o candidato Pablo Marçal vinha sendo capaz de impor seu tom agressivo nos debates.
Além do uso dos termos “arrogância”, “interrompendo” e “militantes” terem sido usados contra Landim, um usuário do Instagram utilizou um trecho da conversa das jornalistas para sugerir que o pano de fundo do diálogo é o “medo” que os “jornalistas militantes” têm do Marçal, o que alimenta a ideia de que Pablo Marçal é uma figura que luta contra a imprensa e que mereceria admiração por sua postura.
Análise Territorial
A análise territorial dos ataques mostrou que, em capitais como Belém, Cuiabá, Fortaleza, Maceió, Porto Alegre, Porto Velho e Rio de Janeiro, o número de ataques variou entre 4 e 10 comentários ofensivos por cidade.
A coalizão é formada por: Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Ajor (Associação de Jornalismo Digital), Artigo 19, CPJ (Comitê para a Proteção de Jornalistas), Fenaj (Federação Nacional de Jornalistas), Instituto Palavra Aberta, Instituto Vladimir Herzog, Instituto Tornavoz, Intervozes, Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação) e RSF (Repórteres Sem Fronteiras).