• 01.06
  • 2015
  • 08:46
  • Friedrich Lindenberg - IJNet

Who´s got dirt?: E se robôs pudessem fazer investigações transnacionais?

Investigações jornalísticas transnacionais foram bastante discutidas recentemente. Trabalhando com o Rede Africana de Centros para o Jornalismo Investigativo (ANCIR, African Network of Centers for Investigative Reporting), eu tive a chance de observar o processo de quando duas repórteres do Projeto de Jornalismo Investigativo da Itália (IRPI, Investigative Reporting Project Italy) foram visitar a África so Sul, para traçar a rota de interesse de negócios da máfia italiana no país.

Cecília Anesi, da IRPI, e Khadija Sharife, da ANCIR, teriam passado horas procurando nomes uma para a outra:

“Você conhece X?”

“Sim, o cara das imobiliárias na Cidade do Cabo.”

“Na Itália, ele é Costa Nostra. Nós temos vários documentos judiciais sobre ele nos anos 90.

Gradualmente, as duas jornalistas começaram a chegar em uma mesma conclusão sobre a rede da máfia, políticos e pessoas de negócios que estavam revisando.

Embora esse processo requeira muito esforço, ele chama a atenção para o desafio de como uma investigação transnacional pode incorporar os contextos locais mais importantes em cada país em que a cobertura acontece. Organizações que são especialistas nesse processo, como o Centro Internacional para Jornalismo Investigativo (ICFJ, International Center for Investigative Journalism) e o Projeto de Jornalismo sobre Crime Organizado e Corrupção (OCCRP, Organized Crime and Corruption Reporting Project), apontou alguns dos melhores casos de jornalismo na nossa indústria.

Para bancar investigações tão aprofundadas, eu trabalhei com um número de projetos de banco de dados para jornalismo investigativo, tendo acesso a informação pública em países que foram da Alemanha à África do Sul e Moçambique. Com o crescimento da onda de divulgação de dados governamentais, a disponibilidade de dados em massa aumentou em muitos países e setores locais.

Infelizmente, usar esses bancos de dados também requer muito contexto: se você está procurando por informações sobre políticos no Chile, visite Poderopedia; na África do Sul, acesse Siyazana. Para informações de companhias, entre em OpenCorporates. Mas também todos os dados listados estão em Investigative Dashboard. Você pode encontrar contratos públicos da Europa no TED, exceto Eslovênia e Eslováquia, que possuem bancos de dados melhores dentro do próprio país. Você está fazendo anotações? Isso tudo se torna confuso rapidamente, e o cenário muda todo mês.

A internet e o acesso a dados abertos não deveriam tornar as coisas mais simples, ao invés de nos confundir? Coletar todos esses dados de tantos lugares diferentes não parece ser um trabalho de robôs, ao invés de humanos?

Se nós queremos tornar os dados relevantes para o jornalismo investigativo, nós temos que simplificar o caminho para que as pessoas os acessem. Nós temos que criar uma forma para nossas ferramentas de pesquisa conversarem umas com as outras, perguntarem umas às outras a mesma pergunta que jornalistas fazem em investigações transnacionais: “Você conhece X? O que você pode me falar sobre ele?”

Criando uma função tão comum, um API de dados que começou a ser chamado de “Who got dirt?” (algo como “Quem está sujo?”) é um dos objetivos do Influence Mapping Project, financiado pela Open Society Foundation. Esse grupo reúne tecnólogos, pesquisadores e jornalistas para desenvolverem uma maneira simples de “enriquecer” informações básicas sobre pessoas e companhias, através de uma série de fontes.

Os membros fundadores do grupo, a American Assembly at Columbia University, OpenCorporates, LittleSis.org, Poderopedia, OpenNorth.ca e a Grano Project, na qual trabalhei em parte da minha bolsa, têm como foco divulgar dados livremente. Para projetos investigativos, no entanto, uma variação desse mecanismo pode ser usada para fontes de dados confidenciais, como documentos vazados e bancos de dados. Aqui, a resposta não deve ser um conjunto de registros correspondentes, mas uma resposta simples para indicar se a informação está disponível - e a quem contatar.

O que isso significa na prática? Durante a Al Jazeera Canvas Hackathon, em dezembro, eu trabalhei com um grupo de desenvolvedores, designers e jornalistas para criar um protótipo chamado Newsclip.se, uma ferramenta de desenvolvimento de notícias para o jornalismo, que scaneia suas notas conforme você escreve, detecta menções a companhias e pessoas, e então encontra indícios relevantes dentro de bancos de dados abertos que você pode explorar conforme a profundidade da sua pesquisa.

Enquanto o Newsclip.se é apenas uma versão demonstrativa, “Who’s got dirt?” vai permitir que uma série de ferramentas o ajudem em sua pesquisa - da rede de ferramentas de análise, como detective.io, até listas de referência simples que buscam continuamente informações sobre a propriedade da empresa, processos judiciais, os direitos à terra e mineração ou relações familiares.

Se conseguirmos criar uma dinâmica em torno desta noção de colaboração, talvez o jornalismo transnacional em breve tenha um novo irmão robô: a investigação entre bancos de dados.

Assinatura Abraji