- 03.05
- 2005
- 19:34
- Thiago
Violência contra jornalistas: CPJ identifica países com maior número de jornalistas assassinados
DO COMITÊ PARA A PROTEÇÃO DOS JORNALISTAS (CPJ)
Nova York, 2 de maio de 2005 - Os assassinatos são a principal causa da morte de jornalistas durante o exercício da profissão em todo o mundo, e as Filipinas são o país com o maior número de jornalistas assassinados, segundo as conclusões de uma análise do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). Iraque, Colômbia, Bangladesh e Rússia completam a lista dos países com o maior número de jornalistas assassinados.
Ao publicar esta análise para celebrar o 3 de maio, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, o CPJ identificou o assassinato sem punição como a ameaça mais urgente que enfrentam os jornalistas em todo o mundo. O CPJ estudou os casos dos jornalistas mortos no exercício da profissão a partir de 1 de janeiro de 2000 e descobriu que a grande maioria não foi vítima de fogo cruzado, nem morreram quando desempenhavam coberturas em circunstâncias perigosas, sendo que 121 dos 190 jornalistas mortos, desde 2000, foram assassinados como represália pelo trabalho informativo que realizavam.
Em mais de 85% dos crimes, os assassinos não foram castigados. Os cinco países, antes mencionados, têm as piores estatísticas. Dos 58 assassinatos de jornalistas nestes países, todos ficaram impunes. Em alguns casos, foram presos e processados supostos autores materiais, mas jamais foram a julgamento os autores intelectuais dos assassinatos.
Ao não investigar nem castigar os assassinos, as autoridades destes cinco países dão alento a todos os que se propõem a silenciar a imprensa por meio da violência, declarou Ann Cooper, diretora-executiva do CPJ. Assim, perpetua-se um ciclo de violência e se interrompe o livre fluxo de informação.
Outras tendências que se sobressaíram na análise do CPJ:
· Na maioria dos casos, os jornalistas foram assassinados em represália por informarem sobre a corrupção governamental, a delinqüência, o narcotráfico e as atividades de grupos rebeldes.
· Com grande freqüência, os assassinatos ocorreram nas mesmas regiões anárquicas, tais como Mindanao, nas Filipinas, e Khulna, em Bangladesh.
· Inclusive em zonas de guerra, como no Iraque, os jornalistas freqüentemente foram alvos de violência como represália pelo trabalho informativo que realizavam.
· Muitos dos jornalistas receberam ameaças antes de serem assassinados, o que demonstra a ousadia com que os assassinos atuam.
Os cinco países com o maior número de jornalistas assassinados se diferenciam muito do restante do mundo: juntos, representam quase a metade do total de jornalistas assassinados desde 2000.
Há um problema enorme, mas de possível superação, afirmou Cooper. Os governos devem reconhecer que o que está em jogo não é somente a justiça para as vítimas, mas também o direito coletivo da sociedade de ser informada. Os jornalistas não podem exercer a profissão num clima de violência e impunidade. Os governos, em particular os dos cinco países citados, devem demonstrar a vontade de resolver estes crimes e dedicar os recursos necessários para esta tarefa.
A seguir, um breve resumo da situação dos cinco países com maior número de jornalistas assassinados:
Filipinas:
Nas Filipinas, 18 jornalistas foram assassinados em decorrência de seu trabalho desde 2000. Todos eles haviam informado sobre a corrupção governamental e policial, o tráfico de drogas e as atividades do crime organizado.
Muitos dos jornalistas eram comentaristas de rádio ou repórteres de zonas rurais que foram emboscados e alvejados de carros em movimento. Os jornalistas filipinos atribuem a violência ao colapso nacional da lei e da ordem, à ampla circulação de armas ilícitas e ao fracasso em condenar sequer um dos responsáveis pelos assassinatos.
Entre os jornalistas assassinados, encontra-se Edgar Damalerio, diretor-gerente do semanário Zamboanga Scribe e comentarista da emissora DXKP, em Pagadian City, violenta cidade portuária na ilha de Mindanao, no sul do país. Damalerio, conhecido por denunciar a corrupção, foi vitimado a balas em uma movimentada rua, em frente ao posto local da polícia, em maio de 2002. O julgamento de um suspeito, ex-agente da polícia, pode começar este ano. Damalerio é um dos seis jornalistas assassinados desde 2000 em Mindanao, onde imperam a delinqüência e a anarquia.
Iraque:
Ainda que ao fogo cruzado seja a principal causa de morte entre os jornalistas no Iraque, 13 dos 41 jornalistas mortos enquanto trabalhavam no país foram assassinados. Mais da metade dos comunicadores assassinados era de origem iraquiana, e foram alvo da violência por seus vínculos reais ou supostos com as forças da coalizão, organizações estrangeiras ou entidades políticas.
Antes de serem mortos, vários jornalistas haviam recebido ameaças. Dina Mohammed Hassan, repórter iraquiana do canal de televisão local em idioma Árabe Al-Hurriya, havia recebido três cartas que a advertiam para deixar de trabalhar para o canal. Em outubro de 2004, indivíduos que se deslocavam em um automóvel a abateram a tiros em frente a sua residência, em Bagdá.
Duas das vítimas foram seqüestradas por grupos armados. Em agosto de 2004, seqüestradores de um grupo militante autodenominado Exército Islâmico assassinou o jornalista italiano Enzo Baldoni.
Colômbia:
Um total de 11 jornalistas foi assassinado desde 2000 na Colômbia, país onde informar sobre temas como o narcotráfico, as organizações paramilitares e a corrupção é um grande risco para os comunicadores.
Todos os jornalistas assassinados nos últimos cinco anos informavam sobre ao menos um dos temas citados, e pelo menos oito deles receberam advertências e ameaças de morte antes de serem mortos a tiros. Os assassinatos ocorreram em regiões de extrema violência, onde grupos rivais lutam pelo controle territorial.
Radio Meridiano-70, emissora da cidade de Arauca, em menos de um ano perdeu dois jornalistas, que foram assassinados. Pistoleiros mataram o jornalista Luis Eduardo Alfonso quando este chegava ao trabalho numa manhã de março de 2003, apenas algumas semanas depois de ter sido vítima de ameaças por parte de membros de um grupo paramilitar de direita. Em junho do ano anterior, paramilitares assassinaram a balas o proprietário da Rádio Meridiano-70, Efrain Varela Noriega. Dias antes de ser assassinado, Varela havia alertado os ouvintes sobre a presença de combatentes paramilitares na região.
Bangladesh:
Nove jornalistas foram mortos em Bangladesh desde 2000. Oito no violento distrito de Khulna, onde é grande o número de grupos de delinqüentes, grupos políticos proscritos e narcotraficantes. Sete deles haviam recebido ameaças de morte.
Há muito tempo é perigoso exercer o jornalismo em Bangladesh: é comum que jornalistas apanhem, sejam perseguidos e ameaçados ao realizar seu trabalho. No ano passado, uma delegação do CPJ viajou a Bangladesh e instou as autoridades a levar à justiça os responsáveis pelas agressões.
Manik Saha, veterano correspondente do diário “New Age” e colaborador do serviço da BBC no idioma bengali, foi assassinado em janeiro de 2004 quando agressores lançaram uma bomba ao riquixá em que viajava, em Khulna. O grupo clandestino esquerdista Janajuddha reivindicou a responsabilidade pelo atentado. Saha, que havia recebido ameaças de morte, era conhecido por suas valentes reportagens sobre os grupos de delinqüentes, os narcotraficantes e os insurgentes maoístas de Khulna.
Rússia:
Na Rússia, os assassinatos por encomenda constituem uma grave ameaça para os jornalistas. Pelo menos sete jornalistas morreram em assassinatos encomendados como represália direta pelo trabalho que desempenhavam. O CPJ continua investigando o motivo de outros quatro assassinatos por encomenda que podem ter tido relação com o trabalho jornalístico das vítimas.
A maioria dos jornalistas mortos trabalhava para meios de comunicação impressos, que investigavam o crime organizado e a corrupção governamental, e outros eram jornalistas de meios audiovisuais que haviam criticado políticos influentes. O politizado sistema de justiça penal, debilitado pela corrupção e pela má administração de recursos, tem perpetuado o clima de impunidade na Rússia.
Paul Klebnikov, redator-chefe da edição russa da revista “Forbes”, foi morto a tiros na rua, em frente ao seu escritório em Moscou, em julho de 2004. Klebnikov, cidadão norte-americano de origem russa, havia escrito vários livros e artigos sobre os misteriosos magnatas russos, o crime organizado russo e a guerra na Chechênia. Em fevereiro, as autoridades de Belarus extraditaram à Rússia dois indivíduos de origem chechena que foram identificados como suspeitos do crime.
Para ver a lista de jornalistas assassinados nestes cinco países, acesse (em inglês):
http://www.cpj.org/Briefings/2005/murderous_05/murderous_05.html
Nova York, 2 de maio de 2005 - Os assassinatos são a principal causa da morte de jornalistas durante o exercício da profissão em todo o mundo, e as Filipinas são o país com o maior número de jornalistas assassinados, segundo as conclusões de uma análise do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). Iraque, Colômbia, Bangladesh e Rússia completam a lista dos países com o maior número de jornalistas assassinados.
Ao publicar esta análise para celebrar o 3 de maio, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, o CPJ identificou o assassinato sem punição como a ameaça mais urgente que enfrentam os jornalistas em todo o mundo. O CPJ estudou os casos dos jornalistas mortos no exercício da profissão a partir de 1 de janeiro de 2000 e descobriu que a grande maioria não foi vítima de fogo cruzado, nem morreram quando desempenhavam coberturas em circunstâncias perigosas, sendo que 121 dos 190 jornalistas mortos, desde 2000, foram assassinados como represália pelo trabalho informativo que realizavam.
Em mais de 85% dos crimes, os assassinos não foram castigados. Os cinco países, antes mencionados, têm as piores estatísticas. Dos 58 assassinatos de jornalistas nestes países, todos ficaram impunes. Em alguns casos, foram presos e processados supostos autores materiais, mas jamais foram a julgamento os autores intelectuais dos assassinatos.
Ao não investigar nem castigar os assassinos, as autoridades destes cinco países dão alento a todos os que se propõem a silenciar a imprensa por meio da violência, declarou Ann Cooper, diretora-executiva do CPJ. Assim, perpetua-se um ciclo de violência e se interrompe o livre fluxo de informação.
Outras tendências que se sobressaíram na análise do CPJ:
· Na maioria dos casos, os jornalistas foram assassinados em represália por informarem sobre a corrupção governamental, a delinqüência, o narcotráfico e as atividades de grupos rebeldes.
· Com grande freqüência, os assassinatos ocorreram nas mesmas regiões anárquicas, tais como Mindanao, nas Filipinas, e Khulna, em Bangladesh.
· Inclusive em zonas de guerra, como no Iraque, os jornalistas freqüentemente foram alvos de violência como represália pelo trabalho informativo que realizavam.
· Muitos dos jornalistas receberam ameaças antes de serem assassinados, o que demonstra a ousadia com que os assassinos atuam.
Os cinco países com o maior número de jornalistas assassinados se diferenciam muito do restante do mundo: juntos, representam quase a metade do total de jornalistas assassinados desde 2000.
Há um problema enorme, mas de possível superação, afirmou Cooper. Os governos devem reconhecer que o que está em jogo não é somente a justiça para as vítimas, mas também o direito coletivo da sociedade de ser informada. Os jornalistas não podem exercer a profissão num clima de violência e impunidade. Os governos, em particular os dos cinco países citados, devem demonstrar a vontade de resolver estes crimes e dedicar os recursos necessários para esta tarefa.
A seguir, um breve resumo da situação dos cinco países com maior número de jornalistas assassinados:
Filipinas:
Nas Filipinas, 18 jornalistas foram assassinados em decorrência de seu trabalho desde 2000. Todos eles haviam informado sobre a corrupção governamental e policial, o tráfico de drogas e as atividades do crime organizado.
Muitos dos jornalistas eram comentaristas de rádio ou repórteres de zonas rurais que foram emboscados e alvejados de carros em movimento. Os jornalistas filipinos atribuem a violência ao colapso nacional da lei e da ordem, à ampla circulação de armas ilícitas e ao fracasso em condenar sequer um dos responsáveis pelos assassinatos.
Entre os jornalistas assassinados, encontra-se Edgar Damalerio, diretor-gerente do semanário Zamboanga Scribe e comentarista da emissora DXKP, em Pagadian City, violenta cidade portuária na ilha de Mindanao, no sul do país. Damalerio, conhecido por denunciar a corrupção, foi vitimado a balas em uma movimentada rua, em frente ao posto local da polícia, em maio de 2002. O julgamento de um suspeito, ex-agente da polícia, pode começar este ano. Damalerio é um dos seis jornalistas assassinados desde 2000 em Mindanao, onde imperam a delinqüência e a anarquia.
Iraque:
Ainda que ao fogo cruzado seja a principal causa de morte entre os jornalistas no Iraque, 13 dos 41 jornalistas mortos enquanto trabalhavam no país foram assassinados. Mais da metade dos comunicadores assassinados era de origem iraquiana, e foram alvo da violência por seus vínculos reais ou supostos com as forças da coalizão, organizações estrangeiras ou entidades políticas.
Antes de serem mortos, vários jornalistas haviam recebido ameaças. Dina Mohammed Hassan, repórter iraquiana do canal de televisão local em idioma Árabe Al-Hurriya, havia recebido três cartas que a advertiam para deixar de trabalhar para o canal. Em outubro de 2004, indivíduos que se deslocavam em um automóvel a abateram a tiros em frente a sua residência, em Bagdá.
Duas das vítimas foram seqüestradas por grupos armados. Em agosto de 2004, seqüestradores de um grupo militante autodenominado Exército Islâmico assassinou o jornalista italiano Enzo Baldoni.
Colômbia:
Um total de 11 jornalistas foi assassinado desde 2000 na Colômbia, país onde informar sobre temas como o narcotráfico, as organizações paramilitares e a corrupção é um grande risco para os comunicadores.
Todos os jornalistas assassinados nos últimos cinco anos informavam sobre ao menos um dos temas citados, e pelo menos oito deles receberam advertências e ameaças de morte antes de serem mortos a tiros. Os assassinatos ocorreram em regiões de extrema violência, onde grupos rivais lutam pelo controle territorial.
Radio Meridiano-70, emissora da cidade de Arauca, em menos de um ano perdeu dois jornalistas, que foram assassinados. Pistoleiros mataram o jornalista Luis Eduardo Alfonso quando este chegava ao trabalho numa manhã de março de 2003, apenas algumas semanas depois de ter sido vítima de ameaças por parte de membros de um grupo paramilitar de direita. Em junho do ano anterior, paramilitares assassinaram a balas o proprietário da Rádio Meridiano-70, Efrain Varela Noriega. Dias antes de ser assassinado, Varela havia alertado os ouvintes sobre a presença de combatentes paramilitares na região.
Bangladesh:
Nove jornalistas foram mortos em Bangladesh desde 2000. Oito no violento distrito de Khulna, onde é grande o número de grupos de delinqüentes, grupos políticos proscritos e narcotraficantes. Sete deles haviam recebido ameaças de morte.
Há muito tempo é perigoso exercer o jornalismo em Bangladesh: é comum que jornalistas apanhem, sejam perseguidos e ameaçados ao realizar seu trabalho. No ano passado, uma delegação do CPJ viajou a Bangladesh e instou as autoridades a levar à justiça os responsáveis pelas agressões.
Manik Saha, veterano correspondente do diário “New Age” e colaborador do serviço da BBC no idioma bengali, foi assassinado em janeiro de 2004 quando agressores lançaram uma bomba ao riquixá em que viajava, em Khulna. O grupo clandestino esquerdista Janajuddha reivindicou a responsabilidade pelo atentado. Saha, que havia recebido ameaças de morte, era conhecido por suas valentes reportagens sobre os grupos de delinqüentes, os narcotraficantes e os insurgentes maoístas de Khulna.
Rússia:
Na Rússia, os assassinatos por encomenda constituem uma grave ameaça para os jornalistas. Pelo menos sete jornalistas morreram em assassinatos encomendados como represália direta pelo trabalho que desempenhavam. O CPJ continua investigando o motivo de outros quatro assassinatos por encomenda que podem ter tido relação com o trabalho jornalístico das vítimas.
A maioria dos jornalistas mortos trabalhava para meios de comunicação impressos, que investigavam o crime organizado e a corrupção governamental, e outros eram jornalistas de meios audiovisuais que haviam criticado políticos influentes. O politizado sistema de justiça penal, debilitado pela corrupção e pela má administração de recursos, tem perpetuado o clima de impunidade na Rússia.
Paul Klebnikov, redator-chefe da edição russa da revista “Forbes”, foi morto a tiros na rua, em frente ao seu escritório em Moscou, em julho de 2004. Klebnikov, cidadão norte-americano de origem russa, havia escrito vários livros e artigos sobre os misteriosos magnatas russos, o crime organizado russo e a guerra na Chechênia. Em fevereiro, as autoridades de Belarus extraditaram à Rússia dois indivíduos de origem chechena que foram identificados como suspeitos do crime.
Para ver a lista de jornalistas assassinados nestes cinco países, acesse (em inglês):
http://www.cpj.org/Briefings/2005/murderous_05/murderous_05.html