- 22.03
- 2019
- 12:00
- Angelina Nunes
Liberdade de expressão
Vereador suspeito de ser mandante do assassinato de radialista é solto
O vereador Cesar Monteiro, acusado de ser o mandante da morte do radialista Jairo de Sousa, em Bragança (PA), teve a prisão preventiva revogada após o Tribunal de Justiça do Pará conceder-lhe um habeas corpus em 18.mar.2019. A liberação aconteceu a 26 dias do término do prazo de licenciamento do vereador da Câmara de Bragança. Já havia um grupo articulando o pedido de cassação de seu mandato. “A gente teme que o processo seja prejudicado com esse habeas corpus e que possíveis testemunhas se calem por medo”, disse o vereador e advogado Rivaldo Miranda.
Miranda é um dos nomes citados em uma lista que circulou na cidade de pessoas marcadas para morrer. O radialista Jairo de Sousa era o primeiro nome. “Estamos apreensivos, mas vamos continuar pedindo esclarecimentos para chegar ao fim desse processo”, afirmou o vereador. Durante a sessão na Câmara, Monteiro disse que foi vítima de armação política e que está à disposição da Justiça. Familiares de Jairo de Sousa protestaram.
Cesar Monteiro estava preso desde 20.nov.2018 e responderá a acusação em liberdade. Em janeiro, o Ministério Público de Bragança ofereceu denúncia contra ele e outras dez pessoas envolvidas no crime. Segundo os autos do inquérito, o assassinato foi encomendado a um grupo de pistolagem e teria custado R$ 30 mil. O motivo seria a insatisfação de um grupo político com as denúncias do radialista.
De acordo com testemunhas ouvidas no inquérito, foi realizada uma “vaquinha” para arrecadar o valor combinado com José Roberto Costa de Sousa, vulgo Calar, que chefia o grupo de matadores. Segundo testemunhos, o vereador Cesar Monteiro ficou responsável pela negociação da morte.
Jairo de Sousa foi morto ao subir a escada que dá acesso a Rádio Pérola FM, no dia 21.jun.2018, por volta das 4h50. Ele chegava ao trabalho para apresentar seu programa matinal, Show da Pérola, que ia ao ar das 5h às 9h. Depois de trancar o portão de ferro e subir alguns degraus, foi baleado por Dione de Sousa Almeida, com dois tiros que atingiram o tórax.
O assassinato de Sousa foi o segundo caso tratado dentro do Programa Tim Lopes, desenvolvido pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), com apoio da Open Society Foundations, para combater a violência contra jornalistas e a impunidade dos responsáveis. Em caso de crimes ligados ao exercício da profissão, uma rede de veículos da mídia tradicional e independente é acionada para acompanhar as investigações e publicar reportagens sobre as denúncias em que o jornalista trabalhava até ser morto. Integram a rede hoje: Agência Pública, Correio (BA), O Globo, Poder 360, Ponte Jornalismo, Projeto Colabora, TV Aratu, TV Globo e Veja.
O primeiro caso enquadrado no programa foi o assassinato do radialista Jefferson Pureza, em Edealina, no interior de Goiás, em 17.jan.2018. O radialista foi morto com três tiros no rosto, enquanto descansava na varanda de sua casa. O crime foi negociado por R$ 5 mil e um revólver 38. Os seis acusados de envolvimento continuam presos. Três adolescentes cumprem medidas socioeducativas: um seria o atirador, o outro teria pilotado a moto e o terceiro, indicado os dois para o serviço. O vereador José Eduardo Alves da Silva, acusado de ser o mandante, Marcelo Rodrigues dos Santos e Leandro Cintra da Silva foram citados na sentença de pronúncia do juiz Aluizio Martins Pereira de Souza, da comarca de Jandaia, no final de dezembro de 2018.