• 26.10
  • 2012
  • 12:58
  • Karin Salomao

Vencedores do Prêmio Vladimir Herzog se reúnem e falam sobre suas reportagens

Por ocasião da cerimônia do Prêmio Vladimir Herzog, jornalistas se reuniram para contar sobre a produção das suas reportagens vencedoras. Durante mais de duas horas, discorreram sobre as inspirações, dificuldades e o processo de apuração e redação e sobre sua paixão comum pelo jornalismo.

Angelina Nunes, editora-assistente do O Globo e diretora da Abraji, foi moderadora da mesa redonda e caracterizou o encontro como um mosaico do melhor do jornalismo no país. “É um encontro raro, é difícil a gente encontrar tão boas histórias, colegas que conseguem chegar aqui e com a maior generosidade compartilharem o que fizeram, como fizeram”, disse. 

Aldo Quiroga, apresentador na TV Cultura e também moderador, completou: “o quanto o nosso trabalho cresce quando a gente conversa, quando a gente se fala!”.

Miriam Leitão, vencedora do prêmio na categoria TV: Reportagem, mencionou que o apoio de outras organizações ao jornalismo de qualidade é importante. “Algumas temáticas brasileiras vão exigir cada vez mais de associações como a Abraji e outras organizações de jornalistas a defesa desse princípio da liberdade para cobertura”.

Para ela, o esforço de proteção de jornalistas em situações limite faz parte do avanço da democracia. “É preciso esse esforço que está acontecendo aqui e que a Abraji faz com outras associações”, afirmou.

Confira o vídeo da conversa aqui

Desafios

Durante a conversa, jornalistas relataram as dificuldades que enfrentaram até conseguir publicar a reportagem. Eliana Victório, da TV Tribuna/Rede Bandeirantes de Pernambuco, disse que um dos problemas que enfrentou foi a falta de recursos na redação. Em 30 dias, ela produziu, executou e editou (com a ajuda de uma editora recém-chegada) a reportagem “Liberdade Aprisionada”. “Quando faço uma coisa, quero o melhor”, diz ela. Com razão: a reportagem lhe rendeu menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog.

Sandra Alves, repórter do Mensageiro de Santo André, revista italiana com versão brasileira da ordem dos franciscanos, foi premiada com menção honrosa pela reportagem “Guarani-Kaiwá: O genocídio silencioso de um povo”. Quando viajou ao Mato Grosso do Sul, a repórter percebeu que os indígenas já não acreditavam que alguém pudesse ajudá-los. Apesar disso, Sandra queria, com sua reportagem, que seus leitores olhassem para o lado e para essa questão. Ela também contou que sentiu medo por um momento, quando um dos fazendeiros rondou o acampamento indígena onde colhia os depoimentos.

O caderno especial do Zero Hora, “Filho da Rua” quase não foi publicado. A repórter Letícia Duarte não acreditava que fosse possível realizar a pauta sobre meninos de rua que imaginava: ela queria saber o que leva e mantém as crianças na rua. A todo momento, enfrentava angústias, conflitos éticos e dificuldades e parecia que a reportagem sobre a vida de Felipe escapava de suas mãos. A reportagem que, inicialmente estava programada para ser realizada em dois meses, ficou pronta depois de três anos.

A reação à história de Felipe, menino de rua de Porto Alegre, foi muito maior do que a jornalista esperava. Além de levantar discussões sobre crianças de rua, venceu a Categoria Especial do Prêmio Vladimir Herzog. “Ainda é possível fazer essas histórias”, diz Letícia. 

Murilo Rocha enfrentou frustrações na redação do jornal O Tempo, de Belo Horizonte, para conseguir emplacar a sua história. A reportagem “Quando a ditadura entrou em campo”, sobre a ditadura e o esporte, acabou fazendo parte do caderno de esportes, ao invés dos cadernos nacional ou política, o que causou estranhamento nos presentes na mesa redonda. “Como o pessoal de política e de nacional não queria comprar a pauta, decidi tentar com o pessoal do esporte. Como eles aceitaram, não hesitei”, contou. Vencedor na categoria jornal, Rocha considera que sempre haverá lugar para o bom jornalismo.

 

Paixão pelo jornalismo 

Apesar das dificuldades, os presentes reafirmaram sua paixão pela profissão. Miriam Leitão, ao perguntada sobre o que diria para alguém que está começando no jornalismo, foi direta: “é simples: é a melhor profissão do mundo”.

Com mais de 40 anos de profissão, ela diz sentir a mesma paixão do primeiro dia. Este ano, o presente que ela deu a si mesma foi o de voltar a produzir reportagens. Como resultado, produziu “Rubens Paiva, uma história inacabada”, vencedora do Prêmio Vladimir Herzog. “Vivi emoções como se tivesse entrado hoje no jornalismo”, comenta.

Para Conchita Rocha, o prêmio é uma coroação, “o máximo do máximo” – ela venceu na categoria TV: Documentário, com a reportagem “Crimes da Ditadura”. Mas só a oportunidade de trabalhar em pautas especiais, que contribuem para que os leitores conheçam outras realidades, já é um prêmio, segundo ela. “Não tem preço”, completa.

 

O Prêmio

A 34ª edição do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos recebeu inscrição de 545 trabalhos, recorde de toda a sua história. Foram premiadas nove produções jornalísticas, nas categorias Arte, Especial, Fotografia, Internet, Jornal, Rádio, Revista, TV: Documentário e TV: Reportagem. Oito trabalhos receberam menção honrosa.Esse foi o primeiro ano em que a Abraji participa como membro da comissão organizadora.

 

Assinatura Abraji