Veículos do interior paulista relatam tensões durante cobertura eleitoral
  • 11.11
  • 2020
  • 12:31
  • Abraji

Liberdade de expressão

Veículos do interior paulista relatam tensões durante cobertura eleitoral

A quatro dias do primeiro turno das eleições municipais, a Abraji vem recebendo relatos de tensões entre a imprensa local e políticos. O jornal Gazeta de Limeira, que tem 89 anos e cobre cinco cidades do interior paulista, diz que seus profissionais estão sendo impedidos de acompanhar entrevistas coletivas da prefeitura. Repórteres do portal Marília Notícia, criado há seis anos, afirmam ser alvo de uma campanha difamatória por parte de um candidato. 

Na primeira semana de novembro de 2020, a Gazeta de Limeira publicou  editorial no qual afirma que há sete meses vem sofrendo retaliações por parte da prefeitura de Limeira, comandada por Mário Botion (PSD), candidato à reeleição.

Segundo a diretora e proprietária do jornal, Paola Nunes Almeida, a redação não consegue ter acesso a informações oficiais da prefeitura, secretários municipais foram proibidos de conceder entrevistas e autoridades se recusam a responder às perguntas do jornal durante lives. No editorial, a Gazeta afirma que a Secretaria Municipal de Comunicações não “cumpre o seu papel institucional de atender às demandas da imprensa com imparcialidade e isonomia”.

Em nota enviada à Abraji, a secretaria de comunicação nega estar obstruindo o trabalho do jornal e informou que todos os veículos de comunicação recebem o mesmo tratamento.

A Gazeta de Limeira declarou à Abraji que faz uma cobertura imparcial dos fatos e que não há interferência editorial nas matérias. “Em todas as reportagens que envolvem a prefeitura, cumpre-se uma premissa básica do jornalismo: procura-se a outra parte envolvida para que ela apresente sua versão”, afirma o editorial.
 
O caso do portal Marília Notícia

O Marília Notícia, que cobre cidades do centro-oeste paulistano, tem sido alvo de ataques pelo candidato Abelardo Camarinha (Podemos). Em peças de propaganda da campanha e nas redes sociais, o ex-prefeito da cidade afirma que o portal não publica supostas irregularidades da atual gestão municipal por estar "vendido” para o atual prefeito, Daniel Alonso (PSDB), candidato à reeleição. 

No dia 06.nov.2020, o Supremo Tribunal Federal tornou Camarinha inelegível por cinco anos por improbidade administrativa, embora o político já tenha afirmado que continua em campanha.

Por meio da assessoria de imprensa, o candidato do Podemos à prefeitura de Marília nega ter feito discursos estigmatizantes que visam tirar a credibilidade dos jornalistas.

“É uma estratégia para punir o jornalismo de qualidade. Fazemos um esforço para cobrir uma região importante que está fora do radar dos grandes veículos”, afirma Leonardo Moreno Lima Capellanes, um dos três repórteres do Marília Notícia. 

Gabriel Tedde, editor do portal, disse ter sido ameaçado pelo candidato Abelardo Camarinha durante um evento na Justiça Eleitoral. “No momento em que ele me viu, ficou visivelmente irritado, passou ao meu lado e bem próximo de mim disse ‘cuidado por onde anda''', escreveu.

Desafios para jornalistas

O exercício do jornalismo fora dos grandes centros torna os profissionais de imprensa mais vulneráveis. Segundo denúncias que chegaram à Abraji em 2020, muitas acusações feitas por agentes públicos são de que o jornalista é parcial e favorece um determinado grupo político.

O desgaste dos jornalistas no período eleitoral não é novidade no pleito de 2020.

“Cada eleição é uma prova de fogo para qualquer imprensa do mundo que se pretenda séria e responsável. As pressões legítimas de leitores e de candidatos, e de seus partidários, transformam vários momentos da disputa num jogo bruto que exige dos jornais muita serenidade para manter o distanciamento crítico e a cobertura isenta”, escreveu Marcelo Beraba 16 anos atrás, em artigo publicado na Folha de S. Paulo.

Beraba, cofundador da Abraji, afirma que a situação se agravou. "O jogo ficou mais bruto, não só por parte dos políticos e dos partidos. Há campanhas sistemáticas de desinformação e com o objetivo de intimidar os jornalistas e meios jornalísticos".

Medidas

Letícia Kleim, assessora jurídica da Abraji, lembra que, durante a cobertura eleitoral, é importante que o jornalista atacado procure um advogado ou consulte a defensoria pública, além de reunir documentos que evidenciem a integridade e transparência de seu trabalho, caso precise apresentá-los.  

A partir do apanhado, algumas medidas podem ser tomadas pelo profissional, tanto na esfera cível, quanto na penal. “Isso porque muitos ataques que ocorrem no meio digital podem ser enquadrados em diversos tipos penais, como os crimes contra a honra, calúnia, difamação e injúria”, esclarece Kleim.

Assinatura Abraji