Um guia para dominar a entrevista investigativa

Publicado em 29.jun.2016, no site do Investigative Reporters and Editors. Escrito por Kasia Kovacs

Aprenda as regras, então quebre-as.

É assim que você alcança a excelência na não tão delicada arte da entrevista investigativa de acordo com Julian Sher, produtor do programa da CBC, “The Fith Estate”.

Jornalistas investigativos têm seus próprios fortes: batalhar com oficiais do governo por informações públicas, escavar documentos e analisar tabelas do Excel. Mas fazer entrevistas difíceis? Bem, isso pode ser complicado.

Sher compartilhou suas dicas na Conferência do IRE de 2016, em Nova Orleans. Entrevistar não é só fazer sua pesquisa, ele disse. Isso é importante. Mas repórteres devem fazer estratégias também.

Primeiro, identifique o tipo de entrevista que você vai realizar. Sher identificou três categorias diferentes:

1. Você vai colher informações? Essas perguntas são diretas: “Quando você descobriu que sua filha foi morta em um acidente de carro?” e
2. A emoção é um fator determinante para a entrevista? Um exemplo de pergunta deste tipo de entrevista:  “O que a perda dela significou para você?”
3. E então há a entrevista de prestação de contas. “O quão culpado você se sentiu por estar bêbado no volante na batida que a matou?”

Depois de decidir o tipo de entrevista que você vai fazer, você consegue elaborar melhor uma estratégia de aproximação e suas perguntas.

E então, mantenha em mente os 3 Cs e 1P.

Boas entrevistas devem seguir as mesmas regras que uma boa história, de acordo com Sher. Lembre-se desses quatro elementos: Personagem, Contexto, Conflito e Conclusão.

Você precisa de um personagem e, por sorte, você tem um bem na sua frente: seu entrevistado. Mas você também deve pensar no papel que ele deve interpretar. Ele é o herói ou o vilão?

Adicione contexto à entrevista. Por que seus leitores devem se importar com sua história? O conflito é a tensão, o problema, as entranhas de sua história. E uma ótima conclusão continuará com  seus leitores por muito tempo depois que eles terminarem de ver ou ler sua entrevista.

Enquanto a estiver fazendo, não se esqueça das 5 regras de Sher para realizar uma boa entrevista:

1. Faça perguntas abertas. Essas perguntas foram enraizadas em sua mente desde o inicio da escola de jornalismo: quem, o quê, quando, onde, porquê e como. Evite perguntas cuja resposta pode ser um simples “sim” ou “não”.
2. Não dê rotas de escape fáceis para as pessoas. Em outras palavras, se você quer que eles respondam sobre um assunto complicado, seu entrevistado provavelmente vai evitar essa reposta. Não dê saídas a ele. Não faça uma pergunta de cano duplo, que permite que ele responda parte da sua pergunta, mas não ela completa. Evite adicionar adjetivos desnecessários, frases ou fatos que o entrevistado pode segurar e sair correndo (ao invés de te dar uma resposta real).
3. Básico é lindo. Evite palavras carregadas ou controversas, que podem engatilhar reações emocionais ao invés de respostas substanciais. 
4. A pior pergunta é aquela que não é feita. Se você fizer uma declaração ou deixar sua opinião ser conhecida, isso pode transformar a entrevista em um debate cansativo e repetitivo. 
5. Escute, escute, escute. Muitas vezes, as pistas podem ser sutis. 

Mas saiba quando quebrar as regras.

Por exemplo, perguntas “sim ou não” têm seu mérito. Na entrevista da Oprah com Lance Armstrong, ela pergunta, “Você alguma vez fez uso de substâncias banidas para aprimorar suas habilidades no ciclismo?” Armstrong só pode responder “sim”, e essa única palavra ressoa entre os espectadores.

Ou leve em consideração o uso de palavras carregadas em situações específicas: “Você foi estúpido ou só corrupto?” é um dos exemplos de Sher. Outro exemplo envolve repetir uma fala do entrevistado: “Uma vez você disse que era “um idiota”. Como você pode ser um idiota?”

Por fim, lembre-se: Você consegue as respostas que merece. Se você faz uma pergunta estúpida, bem, espere por uma resposta estúpida.

Para mais informações, confira a lista de dicas de Sher aqui.