- 25.05
- 2007
- 13:13
- Transparência Brasil
Transparência Brasil dá dicas de como cobrir a Operação Navalha
por Marcelo Soares
A mecânica do esquema revelado pela Operação Navalha é semelhante à mecânica de outros esquemas já anteriormente cobertos pela imprensa nos últimos anos, também ligados a desvios no Orçamento federal, como o dos Sanguessugas. O ralo é o mesmo, embora mude o produto e os operadores.
A cobertura, porém, costuma se centrar pelo menos nos primeiros dias em torno das revelações e repercussões do factual.
Para colaborar na tentativa de formar uma visão de conjunto do esquema, para procurar novas pautas e tentar fechar o quebra-cabeças, seguem algumas dicas.
1) Leia descrições de esquemas semelhantes.
É possível que o esquema revelado pela Operação Navalha tenha características próprias, mas sempre é útil observar como funcionavam esquemas parecidos revelados anteriormente. O relatório parcial da CPI dos Sanguessugas, divulgado em agosto de 2006, traz em seu terceiro capítulo uma descrição minuciosa de tudo o que a comissão de inquérito conseguiu descobrir a respeito de como funcionava o esquema. Você pode baixar o relatório aqui: http://www.senado.gov.br/sf/atividade/Comissoes/CPI/RelatorioFinalSanguessugas.asp
Observando como funcionava o esquema dos Sanguessugas e comparando-o ao que se sabe sobre os novos casos de corrupção no Orçamento, é possível estabelecer semelhanças e diferenças, além de identificar peças que faltam.
2) Pesquise o noticiário sobre esquemas semelhantes.
Em 2006, quando a Transparência Brasil preparou a primeira fase do projeto Excelências, descobrimos a partir do banco de dados Deu no Jornal que todos os acusados de envolvimento no esquema dos Sanguessugas no Amapá também haviam estado envolvidos antes em um esquema semelhante, de desvio de verbas orçamentárias destinadas a obras de hospitais – revelado pela Operação Pororoca, de 2004. Embora o “produto” envolvido fosse outro, a mecânica do esquema era muito semelhante. Como ocorreu no extremo norte do país, a repercussão foi muito menor do que a ocorrida no caso dos Sanguessugas. Mas um mesmo assessor parlamentar de um deputado amapaense foi preso nos dois esquemas – e era sócio dos Vedoin na empresa de fachada acusada de superfaturar obras no estado.
O Deu no Jornal tem alguns recursos que podem ajudar você a pesquisar melhor o que já saiu sobre cada um desses assuntos nos mais de 50 jornais monitorados diariamente pela Transparência Brasil.
O primeiro deles é o noticiário praticamente completo a respeito de cada uma das operações da PF relativas ao Orçamento:
- Navalha: http://www.deunojornal.org.br/busca.php?assunto=4790
- Sanguessuga: http://www.deunojornal.org.br/busca.php?assunto=2037
- Pororoca: http://www.deunojornal.org.br/busca.php?assunto=988
- Vampiro: http://www.deunojornal.org.br/busca.php?assunto=217
- Alcaides: http://www.deunojornal.org.br/busca.php?assunto=4032
- Albatroz: http://www.deunojornal.org.br/busca.php?assunto=715
- Carta Marcada: http://www.deunojornal.org.br/busca.php?assunto=3322
O segundo é o Mapa de Relacionamentos, que localiza os nomes de pessoas mencionadas ao longo do noticiário de cada assunto e identifica quais nomes dois ou três assuntos diferentes mencionam em comum. Cuidado: o serviço inclui entre os nomes mencionados os nomes dos procuradores ou relatores dos processos, além dos nomes das fontes que comentam o assunto. Mas é particularmente interessante quando nomes menos conhecidos coincidem. Nunca deixe de ler o noticiário relacionado ao nome encontrado, para esclarecer a participação do personagem no caso:
http://www.deunojornal.org.br/mapa/mapa.asp
A terceira ferramenta é o projeto Excelências, que hoje reúne os perfis de todos os deputados e senadores em tividade. De todos eles, nossa equipe pesquisou pendências judiciais e em tribunais de contas, além de menções desfavoráveis a seus nomes no noticiário sobre corrupção arquivado desde 2004 no Deu no Jornal. Muitas vezes, podemos esquecer a participação atribuída a algum político em casos mais antigos. O Excelências ajuda a refrescar a memória.
http://www.excelencias.org.br
3) A armadilha da fulanização
Quando estoura um grande caso nacional de corrupção e um personagem ou empresa é apontado como peça-chave do esquema, qualquer menção diferente a seu nome vira notícia. No caso de um escândalo envolvendo uma empreiteira, por exemplo, qualquer obra realizada por ela acaba sendo noticiada como suspeita de envolvimento no esquema.
Isso coloca a cobertura em risco de perder o foco. Nada impede que uma empresa de mau histórico execute uma obra legítima. Pode acontecer. Também, mesmo sendo uma obra ilegítima, sempre vale a pena verificar se ela se trata do mesmo esquema de corrupção coberto por todos ou de outro esquema ainda não tocado. Sendo de outro esquema, é bom deixar clara a distinção, ou pode-se perder o fio da meada.
O que nos leva ao item seguinte.
4) Procure os esquemas concorrentes.
Fulanizar o esquema de corrupção em um só ator principal traz consigo um risco importante: o de se perder o foco da estrutura do esquema. É importante identificar qual é o ralo que está sendo utilizado no esquema. Uma vez aberto o ralo, muito dificilmente apenas um esquema o aproveita. Se concentramos a cobertura em um só esquema que utiliza o ralo, corremos o risco de deixar os esquemas concorrentes livres para atuar à vontade, sem serem observados.
A cobertura da Operação Sanguessuga, por exemplo, concentrou-se no esquema operado pela empresa Planam, pertencente à família Vedoin. No terceiro mês da cobertura intensiva sobre o caso, surgiu a menção a um certo “esquema Domanski”, concorrente dos Vedoin. Nem a CPI e nem a imprensa deram muita atenção a esse esquema.
Apenas 42 dos 8.370 textos arquivados no Deu no Jornal sobre o caso dos Sanguessugas menciona o Domanski. Isso dá 0,5% de toda a cobertura do caso.
O que os Domanski fazem após as medidas tomadas contra os Sanguessugas? Saíram de campo ou continuam operando?
E no caso Navalha? Quais são os concorrentes da Gautama?
A mecânica do esquema revelado pela Operação Navalha é semelhante à mecânica de outros esquemas já anteriormente cobertos pela imprensa nos últimos anos, também ligados a desvios no Orçamento federal, como o dos Sanguessugas. O ralo é o mesmo, embora mude o produto e os operadores.
A cobertura, porém, costuma se centrar pelo menos nos primeiros dias em torno das revelações e repercussões do factual.
Para colaborar na tentativa de formar uma visão de conjunto do esquema, para procurar novas pautas e tentar fechar o quebra-cabeças, seguem algumas dicas.
1) Leia descrições de esquemas semelhantes.
É possível que o esquema revelado pela Operação Navalha tenha características próprias, mas sempre é útil observar como funcionavam esquemas parecidos revelados anteriormente. O relatório parcial da CPI dos Sanguessugas, divulgado em agosto de 2006, traz em seu terceiro capítulo uma descrição minuciosa de tudo o que a comissão de inquérito conseguiu descobrir a respeito de como funcionava o esquema. Você pode baixar o relatório aqui: http://www.senado.gov.br/sf/atividade/Comissoes/CPI/RelatorioFinalSanguessugas.asp
Observando como funcionava o esquema dos Sanguessugas e comparando-o ao que se sabe sobre os novos casos de corrupção no Orçamento, é possível estabelecer semelhanças e diferenças, além de identificar peças que faltam.
2) Pesquise o noticiário sobre esquemas semelhantes.
Em 2006, quando a Transparência Brasil preparou a primeira fase do projeto Excelências, descobrimos a partir do banco de dados Deu no Jornal que todos os acusados de envolvimento no esquema dos Sanguessugas no Amapá também haviam estado envolvidos antes em um esquema semelhante, de desvio de verbas orçamentárias destinadas a obras de hospitais – revelado pela Operação Pororoca, de 2004. Embora o “produto” envolvido fosse outro, a mecânica do esquema era muito semelhante. Como ocorreu no extremo norte do país, a repercussão foi muito menor do que a ocorrida no caso dos Sanguessugas. Mas um mesmo assessor parlamentar de um deputado amapaense foi preso nos dois esquemas – e era sócio dos Vedoin na empresa de fachada acusada de superfaturar obras no estado.
O Deu no Jornal tem alguns recursos que podem ajudar você a pesquisar melhor o que já saiu sobre cada um desses assuntos nos mais de 50 jornais monitorados diariamente pela Transparência Brasil.
O primeiro deles é o noticiário praticamente completo a respeito de cada uma das operações da PF relativas ao Orçamento:
- Navalha: http://www.deunojornal.org.br/busca.php?assunto=4790
- Sanguessuga: http://www.deunojornal.org.br/busca.php?assunto=2037
- Pororoca: http://www.deunojornal.org.br/busca.php?assunto=988
- Vampiro: http://www.deunojornal.org.br/busca.php?assunto=217
- Alcaides: http://www.deunojornal.org.br/busca.php?assunto=4032
- Albatroz: http://www.deunojornal.org.br/busca.php?assunto=715
- Carta Marcada: http://www.deunojornal.org.br/busca.php?assunto=3322
O segundo é o Mapa de Relacionamentos, que localiza os nomes de pessoas mencionadas ao longo do noticiário de cada assunto e identifica quais nomes dois ou três assuntos diferentes mencionam em comum. Cuidado: o serviço inclui entre os nomes mencionados os nomes dos procuradores ou relatores dos processos, além dos nomes das fontes que comentam o assunto. Mas é particularmente interessante quando nomes menos conhecidos coincidem. Nunca deixe de ler o noticiário relacionado ao nome encontrado, para esclarecer a participação do personagem no caso:
http://www.deunojornal.org.br/mapa/mapa.asp
A terceira ferramenta é o projeto Excelências, que hoje reúne os perfis de todos os deputados e senadores em tividade. De todos eles, nossa equipe pesquisou pendências judiciais e em tribunais de contas, além de menções desfavoráveis a seus nomes no noticiário sobre corrupção arquivado desde 2004 no Deu no Jornal. Muitas vezes, podemos esquecer a participação atribuída a algum político em casos mais antigos. O Excelências ajuda a refrescar a memória.
http://www.excelencias.org.br
3) A armadilha da fulanização
Quando estoura um grande caso nacional de corrupção e um personagem ou empresa é apontado como peça-chave do esquema, qualquer menção diferente a seu nome vira notícia. No caso de um escândalo envolvendo uma empreiteira, por exemplo, qualquer obra realizada por ela acaba sendo noticiada como suspeita de envolvimento no esquema.
Isso coloca a cobertura em risco de perder o foco. Nada impede que uma empresa de mau histórico execute uma obra legítima. Pode acontecer. Também, mesmo sendo uma obra ilegítima, sempre vale a pena verificar se ela se trata do mesmo esquema de corrupção coberto por todos ou de outro esquema ainda não tocado. Sendo de outro esquema, é bom deixar clara a distinção, ou pode-se perder o fio da meada.
O que nos leva ao item seguinte.
4) Procure os esquemas concorrentes.
Fulanizar o esquema de corrupção em um só ator principal traz consigo um risco importante: o de se perder o foco da estrutura do esquema. É importante identificar qual é o ralo que está sendo utilizado no esquema. Uma vez aberto o ralo, muito dificilmente apenas um esquema o aproveita. Se concentramos a cobertura em um só esquema que utiliza o ralo, corremos o risco de deixar os esquemas concorrentes livres para atuar à vontade, sem serem observados.
A cobertura da Operação Sanguessuga, por exemplo, concentrou-se no esquema operado pela empresa Planam, pertencente à família Vedoin. No terceiro mês da cobertura intensiva sobre o caso, surgiu a menção a um certo “esquema Domanski”, concorrente dos Vedoin. Nem a CPI e nem a imprensa deram muita atenção a esse esquema.
Apenas 42 dos 8.370 textos arquivados no Deu no Jornal sobre o caso dos Sanguessugas menciona o Domanski. Isso dá 0,5% de toda a cobertura do caso.
O que os Domanski fazem após as medidas tomadas contra os Sanguessugas? Saíram de campo ou continuam operando?
E no caso Navalha? Quais são os concorrentes da Gautama?