Tentativa de descredibilização é estratégia frequente nos ataques
  • 15.08
  • 2022
  • 12:31
  • Abraji

Tentativa de descredibilização é estratégia frequente nos ataques

Discursos estigmatizantes são uma forma de ataque a jornalistas e comunicadores adotada por agentes estatais, autoridades públicas, políticos ou campanhas mobilizadas por eles. Declarações se apoiam em um tom de descredibilização, ofensa, intimidação e visam desvalorizar sistematicamente o profissional e a imprensa tradicional. Dos mais de  450 alertas de ataques de 2021, cerca de 75% envolveram essa forma de ataque. Mas há casos em que jornalistas atacam seus pares em campanhas sistemáticas para denunciar um “enviesamento” nas coberturas.

Um dos episódios mais conhecidos é o da repórter da Folha de S. Paulo Patricia Campos Mello, tachada de esquerdista, que se tornou alvo de ataques em massa. Na mira de campanhas difamatórias, ela chegou a ser acusada de ter recebido propina do PT.

Casos como o do repórter Ruben Berta,do UOL, têm se tornado frequentes. No fim de mai.2022 e no começo de jun.2022, o portal publicou matérias sobre o escândalo dos cargos secretos na gestão do governador do Rio, Cláudio Castro (PL), candidato à reeleição. A série de reportagens assinada por Berta e Igor Mello mostra que o governo fluminense manteve, sem transparência, ao menos 20 mil postos de trabalho no Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio (Fundação Ceperj).

A dupla de repórteres investigativos revelou que, em pleno ano eleitoral, os funcionários contratados não possuem contracheque e receberam seus salários na boca de um caixa eletrônico. Diante da gravidade das denúncias, com suspeitas de funcionários fantasmas, projetos inexistentes e uso de recursos do contribuinte carioca para pagar cabos eleitorais, o Ministério Público do RJ abriu uma investigação e a Justiça estadual determinou o fim do pagamento em espécie que dificulta a rastreabilidade do dinheiro. 

O recém criado Diário da Guanabara associou Berta a dois partidos antagônicos, PSB e União Brasil. Com 22 anos de carreira, Ruben Berta teve uma passagem de três meses, em 2018, na assessoria de imprensa da campanha de Eduardo Paes (então no DEM) ao governo do Rio. Essa foi a argumentação do site para tentar desqualificar o trabalho de apuração do repórter do UOL que denunciou irregularidades no governo Cláudio Castro.

O site criticou o jornalista por ter criado um blog independente durante o período em que esteve desempregado e "omitiu que prestou serviços a políticos", o que é uma mentira. Berta retornou ao jornalismo investigativo em um grande vepiculo (UOL) e continuou escrutinando as ações públicas de gestores do Rio de Janeiro, incluindo o prefeito Eduardo Paes (PSD). O caso também ganhou repercussão depois que veio à tona o fato de que o próprio Diário da Guanabara não mencionou ter recebido, nesses dois meses de vida, publicidade do governo Cláudio Castro no valor de R$ 36 mil. 

Procurado pela Abraji, Roberto Barbosa se desculpou. Admitiu o erro de ter lançado suspeitas sobre Ruben Berta. “O fato de ele ter trabalhado com políticos no passado não significa que ele mantenha laços com os mesmos”, escreveu. Questionado sobre ataques a outros jornalistas do Grupo Globo que supostamente estavam a serviço de interesses escusos, o empresário reconheceu novamente o erro e disse ter comprado “brigas desnecessárias”.
 

 

Assinatura Abraji