Tendências para o jornalismo de dados em 2019, segundo a Global Editors Network
  • 30.01
  • 2019
  • 14:00
  • Natália Silva

Formação

Tendências para o jornalismo de dados em 2019, segundo a Global Editors Network

“Nós não estamos mais brincando.” Simon Rogers, editor de dados do Google e diretor da premiação Data Journalism Awards - que premiou a Abraji em 2017 - acredita que a somatória de acontecimentos de 2018 levou a um amadurecimento do jornalismo de dados no mundo todo. A declaração faz parte do relatório de tendências produzido pela Global Editors Network, que entrevistou seis especialistas para comentar o cenário desse campo do jornalismo.

De acordo com o documento, divulgado 17.jan.2019, as principais tendências para este ano são o uso de inteligência artificial, o crescimento de projetos colaborativos e uma maior atenção com a apresentação visual dos dados coletados. 

Setor em crescimento

Os especialistas observaram que o jornalismo de dados não é apenas uma tendência no ocidente. Na Malásia, país do sudoeste asiático, dados e mapas foram utilizados em larga escala durante as eleições. De acordo com o documento, isso aumenta a qualidade das reportagens e da análise de resultados. 

O uso de machine-learning (algo como aprendizado de máquinas) contribuiu para a construção de reportagens de larga escala. O documento cita uma reportagem produzida em 2018, pelos veículos alemães SPIEGEL e Bayerischer Rundfunk, para ilustrar uma tendência em crescimento neste ano. 

“Para provar a existência de discriminação no mercado de aluguel de casas de Alemanha, jornalistas de dados enviaram mais de 20 mil candidaturas para 7 mil anúncios de aluguel em um processo automatizado e avaliaram as respostas recebidas.” A descrição da construção da reportagem e os resultados estão disponíveis neste site, em inglês.

Projetos colaborativos

O relatório citou o Implant Files, feito pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) em parceria com 250 profissionais de 36 países - incluindo o Brasil - sobre implantes médicos que foram submetidos a pouco ou nenhum teste antes de serem utilizados. O vídeo abaixo, em inglês, explica o desenvolvimento do projeto que levou um ano para ser planejado e outro para ser executado e concluído.

De acordo com os especialistas entrevistados, projetos colaborativos acontecerão cada vez mais. A mesma tendência foi observada pelo relatório do Instituto Reuters, publicado em janeiro de 2019.

Apresentação visual

Simon Rogers, do Google, destacou que as principais tecnologias utilizadas em 2019 serão ligadas a inteligência artificial e a programação. A codificação e transformação de dados em ondas sonoras e imagens - processos chamados de sonification e arte generativa, respectivamente - ganharão espaço. Essas tendências são impulsionadas pela necessidade de apresentar dados de maneira mais atrativa e acessível para diferentes públicos.

Desafios de 2019

O relatório aponta que a obtenção e estruturação de dados, principalmente informações governamentais, serão obstáculos a serem superados este ano. No Brasil, um entrave já se apresenta: o decreto 9.690/2019 alterou regras de aplicação da Lei de Acesso à Informação (LAI) no Executivo federal determinadas no Decreto 7.724/2012, ampliando o grupo de agentes públicos autorizados a colocar informações públicas nos mais altos graus de sigilo. A Abraji assinou uma nota conjunta contra retrocesso na aplicação da LAI no governo federal em 24.fev.2019. 

Em países onde o acesso a dados governamentais é mais restrito, como a China, jornalistas utilizam informações de grandes empresas de tecnologia para apuração. “Ao invés de conseguir dados sobre o tráfego de carros do governo, jornalistas obtêm dados semelhantes de aplicativos como o Didi (equivalente ao Uber)”, disse Kuek Ser Kuang Keng, do Data Journalism Awards. 

As discussões que levaram aos resultados divulgados no relatório foram feitas em um grupo com 600 jornalistas de 60 países diferentes. Mensalmente, o Data Journalism Awards promove debates em inglês sobre tópicos como “jornalismo esportivo de dados” e “trabalhando com dados ambientais”. Para participar, basta preencher o formulário.

Assinatura Abraji