SP sedia encontro de investigação jornalística

Começou na terça-feira, em São Paulo, o 1º Encontro Latino-americano Bolsas Avina de Investigação Jornalística reunindo os cinqüenta vencedores da primeira edição. A abertura contou com a presença de Adelaida Trujillo, diretora da “Iniciativa de la Comunicación” da Colômbia, Ricardo Uceda, diretor do “Instituto Prensa y Sociedad” do Peru (IPYS) e do jornalista argentino Gabriel Griffa. Nesta quarta-feira, os palestrantes foram Bernardo Toro, matemático e filósofo colombiano, e Oscar Vilhena, advogado especialista nos direitos humanos do Brasil.

Na abertura do encontro, o jornalista Geraldinho Vieira, Diretor de Comunicações da Avina, destacou que a investigação jornalística está, de maneira geral, associada à publicação de denúncias, quando é também um desafio mostrar as soluções às problemáticas da nossa região, em que estão trabalhando tantos líderes sociais da América Latina. Citando Paulo Freire, Vieira disse que “manter a esperança viva na América Latina é um ato revolucionário” e que “os jornalistas devem se perguntar: qual é o imaginário de América Latina que estamos criando?”.

Uceda falou sobre a “contradição inerente ao jornalismo na busca entre o importante e o atrativo”. “Eu acredito que as Bolsas Avina são uma idéia muito audaz que traz para os jornalistas latino-americanos um concurso de propostas sobre temas fundamentais para o desenvolvimento das nossas sociedades”.

 “Consideramos que uma sociedade que não tenha mecanismos de comunicação para a mobilização social não delibera nem se desenvolve”, disse Adelaida. “A aproximação entre a comunicação para o desenvolvimento e o jornalismo não é fácil. No Congresso Mundial de Comunicação para o Desenvolvimento que organizamos recentemente em Roma, aconteceu um forte debate sobre o papel da mídia no desenvolvimento. A “Iniciativa de la Comunicación”, em parceria com a Avina, está trabalhando em um guia de fontes que espera reunir, no começo, cerca de mil pessoas que são referência nos temas do desenvolvimento.  Esperamos que este seja um serviço muito útil para os jornalistas”.

Griffa, que falou sobre “Novos paradigmas: do desenvolvimento sustentável às formas sustentáveis de desenvolvimento humano”, afirmou que estamos vivendo uma revolução: “somos todos filhos da revolução industrial e há algumas décadas, provavelmente desde a Declaração dos Direitos Humanos, em 1948, quando os seres humanos pela primeira vez se declararam humanos, começou uma nova revolução, a revolução do conhecimento”. 

Também disse que “o mundo já não é dividido entre esquerdas e direitas. E não se trata de que estas tendências agora estão se encontrando, mas da aparição de uma nova agenda, através da qual a sociedade reclama um novo contrato social baseado em valores como: governabilidade, legitimidade, olhar em longo prazo, transparência, prestação de contas, defesa da diversidade, eqüidade, inclusão, igualdade no acesso às oportunidades, co-responsabilidade, interdependência, eco-eficiência, comércio justo, consumo responsável, diálogo, cultura da paz, o poder como serviço e desde a horizontalidade, parcerias, redes, espaços. E tudo isto é basicamente dignidade humana. Esta é a agenda com a qual todos seremos avaliados, tanto na empresa, no setor público, quanto no setor social. Aqueles que não se somam a esta agenda não sobreviverão”.

No segundo dia do encontro, Bernardo Toro e Oscar Vilhena ministraram duas palestras para os participantes. Toro falou sobre a comunicação como um fator de integração na América Latina. “A democracia é o sistema mais rigoroso que o ser humano já inventou”. A ordem democrática é baseada no fato das leis serem criadas por aqueles que vão se submeter a elas. É um sistema auto-fundado. Supõe autonomia e isso exige auto-conhecimento, auto-estima e auto-regulação. A comunicação pode contribuir para desenvolver estas condições essenciais para a autonomia necessária para a existência da governabilidade”.

Logo após a palestra de Bernardo, Oscar Vilhena falou sobre o Estado de Direito na América Latina. “O problema central do estado de direito na nossa região é que temos uma percepção da fragilidade do sistema de direito”. Ele definiu o estado de direito como “uma situação na qual cada um de nós toma o direito como uma razão para determinar nossa conduta”. Aliás, disse que na América Latina “é uma percepção bastante consolidada o fato da transição para a democracia ter sido parcial, por ter faltado a parte relativa ao estado de direito”.

Para Vilhena, “a alternativa é a construção de um estado democrático constitucional no qual as pessoas são um fim em si mesmas. Todo projeto deve nascer em um contexto de valores, a partir da autonomia das pessoas, o que significa que elas tem o poder de decidir seu futuro”. Devemos visibilizar os invisíveis, ‘des-demonizar’ os demonizados e desprivilegiar os intocáveis. Necessitamos uma ‘re-configuração’ do tecido social para a construção do estado de direito”.

As Bolsas Avina distribuem um total de 245 mil dólares para propostas de investigação de jornais, revistas, televisão, rádio e Internet, em quatro áreas temáticas: Comércio Justo, Participação e Transparência, Costas e Água e Inclusão Social.

Conta com o apoio do “Instituto Prensa y Sociedad” (IPYS), da Fundação “Nuevo Periodismo Iberoamericano” (FNPI), do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, da “Sociedad Interamericana de Prensa (SIP), da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), da Agência de Notícias pelos Direitos da Infância (ANDI), do “Foro de Periodismo Argentino (FOPEA), e da “Iniciativa de la Comunicación América Latina (CILA).

A Fundação Avina, criada em 1994 pelo empresário suíço Stephan Schmidheiny, se associa com líderes sociais e do setor empresarial nas suas iniciativas para o desenvolvimento sustentável na América Latina. Atualmente a Avina conta com uma comunidade de mil líderes-parceiros em todo continente e 24 escritórios na região.

O encontro termina na quinta-feira, dia 23 de novembro.

Mais informações:

Lilly Roth: [email protected]

005491163087068 - 00556199446363

www.avina.net