• 30.10
  • 2015
  • 11:04
  • Marina Atoji

Segurança digital é fundamental para a profissão, dizem jornalistas

Já faz algum tempo que jornalista desconectado é espécie extinta no mundo. Em maior ou menor grau, por vontade própria ou livre e espontânea pressão, todo profissional da área usa tecnologia e internet para fazer seu trabalho. 

Não raro, o ofício envolve lidar com documentos sensíveis, fontes sigilosas e materiais inéditos -- que são vulneráveis à espionagem digital, ataques cibernéticos ou a algo mais singelo, como a perda ou o roubo de aparelhos.

Realizada na última quarta-feira (28.out.2015) em São Paulo, a Oficina de Segurança Digital para Jornalistas mostrou técnicas para reduzir esses riscos. Mais de 20 jornalistas, ativistas e pesquisadores viram como proteger ao máximo os dados e trabalhar sem expor a identidade, quando necessário. A oficina foi ministrada pelo Tactical Tech Collective e pela equipe da Oficina Antivigilância em parceria com a Abraji, a Conectas Direitos Humanos e a Lavits (Rede Latino-americana de Estudos em Vigilância, Tecnologia e Sociedade).

Logo de começo, os instrutores esclarecem: “não existe uma receita pronta para ter segurança digital. Você pode combinar recursos ou usá-los isoladamente, vai depender da sua necessidade e da avaliação dos riscos que você corre”. A primeira missão, portanto, é fazer um levantamento rápido do que pode acontecer de ruim e que afetará diretamente o trabalho jornalístico.

  • A mensagem/documento/foto/vídeo que você vai enviar por e-mail tem conteúdo sensível, que não pode vazar de jeito nenhum?
  • Quão arriscado é ter sua localização física passível de rastreamento/identificação?
  • Se você perder seu computador, há como recuperar as informações que estão nele? 
  • As senhas de acesso às suas contas de serviços on-line são seguras e estão bem guardadas?
Para driblar bisbilhoteiros ou pesquisar documentos sem ser identificado pelo endereço IP, há ferramentas que vão de aplicativos para fazer videoconferências que não podem ser rastreadas ou gravadas até disfarces para navegar pela web.
 
O jornalista Leandro Demori, editor do Medium, explicou como os recursos podem ser fundamentais em uma investigação. “Quando vou baixar documentos a respeito de uma empresa privada, por exemplo, costumo usar o Tor. Assim, fica mais difícil de detectarem que uma mesma pessoa está entrando várias vezes naquela página”, conta Demori. Segundo ele, o disfarce na hora de navegar evita, no mínimo, que o objeto da investigação desconfie que alguém o está investigando. Na pior das hipóteses, evita que os documentos sejam tirados do ar porque a pessoa ou a empresa concluiu que há alguém cavando mais fundo.
 
Assegurar o sigilo da fonte é outro motivo pelo qual Demori recomenda o uso de ferramentas de segurança digital. Quando conversa ao telefone com uma fonte que precisa ser preservada, o jornalista conta que usa o Ghost Call, um aplicativo de celular que encripta e anonimiza a ligação. “Tento usar coisas que sejam fáceis para a fonte usar também; não adianta pegar uma ferramenta super-complexa, porque às vezes a pessoa não vai saber lidar com aquilo”, pontua.
 
O conhecimento de brechas na proteção digital também é útil na apuração de reportagens investigativas, como mostra o jornalista romeno Paul Radu no documentário “Our Currency is Information” (“Nossa moeda é a informação”). O filme, produzido pela Tactical Technology Collective e exibido ao final da oficina, mostra um pouco do trabalho dele e de seus colegas em rede no OCCRP (Projeto Reportagens sobre Crime Organizado e Corrupção, na sigla em inglês). Segundo Radu, os rastros que pessoas e empresas investigadas deixam na web são fundamentais para estabelecer relações que não são óbvias à primeira vista.
 
Recursos úteis
 
Manuais
 
Programas e aplicativos
Jitsi (chat e videoconferência seguros)
Panopticlick (teste para saber se as configurações de seu navegador são únicas o suficiente para permitir sua identificação. Veja mais detalhes sobre o porquê fazer esse teste)
DuckDuckGo e Startpage (ferramentas de busca que não coleta dados do usuário)
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