- 12.05
- 2020
- 14:00
- Abraji
Liberdade de expressão
Segundo painel de seminário on-line debate futuro dos meios de comunicação após a crise sanitária
A crise sanitária de escala global desencadeada pela covid-19 trouxe transformações para o jornalismo que podem permanecer. A acelerada transformação digital, o trabalho massivo contra a desinformação e os benefícios do trabalho remoto podem ser heranças deixadas pela pandemia para o próximo período. Esse foi o consenso entre os participantes do debate virtual organizado pela Abraji e pela Embaixada dos Estados Unidos nesta terça-feira (12.mai.2020).
Durante o painel “Futuro dos meios de comunicação após a pandemia”, que contou com cerca de 350 participantes, a jornalista e estrategista de conteúdo digital norte-americana Teresa Frontado compartilhou lições aprendidas nas últimas 12 semanas de cobertura da pandemia nos Estados Unidos, país com maior número de casos confirmados do novo coronavírus.
“Nosso objetivo segue sendo produzir jornalismo de qualidade, mas a crise nos forçou a repensar a forma como estamos trabalhando e, ao mesmo tempo, produzir reportagens em um ritmo acelerado”, explicou.
Para Frontado, editora-executiva da KUT 90.5, estação da NPR no Texas (EUA), o momento é de priorizar o bem-estar dos funcionários e da audiência. “O público depende de nós para a tomada de decisões, e isso nos deixa acordados a noite toda. Na pandemia, o preço da desinformação pode ser pago por vidas humanas”, destacou.
Ela reforçou a necessidade de buscar informações além dos dados oficiais divulgados pelos governos, e de fazer erratas, quando necessário, o mais rápido possível.
Também frisou a necessidade de trabalhar fora das bolhas ideológicas, aprofundadas em países como Estados Unidos e Brasil. “Nosso papel não é dizer ´para os leitores o que pensar ou fazer, e sim agir como um espelho que leva as informações para a população, com base em dados verificados e científicos”, disse.
“A pergunta principal é como manter o alto padrão de jornalismo e a equipe segura, priorizando a diversidade, que é importante para a democracia e para salvar vidas”, concluiu Frontado.
Sérgio Dávila, Guilherme Amado, Ricardo Gandour, Teresa Frontado e Maria Fernanda Delmas participam do segundo painel do seminário "Liberdade de imprensa durante a pandemia" (Foto: Reprodução)
“Essa crise é muito peculiar para as redações, é um aprendizado por hora”, afirmou Maria Fernanda Delmas, editora-executiva dos jornais O Globo e Extra e da revista Época. Entre as adaptações de rotinas, processos e funções, ela destacou a prioridade da segurança de repórteres e entrevistados - mesmo quando a tarefa imponha o distanciamento das fontes.
“As redações são sempre muito pulsantes, e nos orgulhamos das trocas presenciais da cobertura jornalísticas. Mas agora vivemos um cenário em que não podemos encontrar as pessoas”, explicou.
No caso específico das redações integradas, Delmas reforçou a importância de “derrubar os próprios muros”, mudar processos e dinâmicas. Para ela, o momento proporciona uma aceleração das transformações digitais. “Redesenhamos processos, unificamos editoriais e, em quatro semanas, colocamos quase todos os funcionários da redação em regime de trabalho remoto”, afirmou.
Já Ricardo Gandour, diretor-executivo de jornalismo da Rede CBN de Rádios, destacou que o momento é de um “resgate compensatório” de algumas características das televisões e rádios minimizadas pela transformação digital, como a linearidade e a grade de programação. Frisar o horário em que um conteúdo irá ao ar, em um momento em que grande parte das famílias estão reunidas nas residências, pode ajudar a consolidar a audiência.
Gandour também destacou o papel das emissoras de rádio. “O rádio vive um momento importante de prestação de serviço, já que é uma mídia de baixo custo para acesso. (...) Observamos um engajamento da audiência, com as pessoas compreendendo a mídia como ‘companheira’”.
Na CBN, a emissora aumentou o número de horas de programação em rede para oferecer mais conteúdo às afiliadas Brasil afora que, devido aos impactos da pandemia, estão produzindo menos material próprio.
“Estamos no meio da neblina da guerra. O presente inspira cuidados, e o futuro é incerto”, disse Sérgio Dávila, diretor de Redação da Folha de S.Paulo. Para ele, é possível projetar que os veículos de jornalismo sairão fortalecidos da pandemia.
Parte disso se deve ao fato de a audiência de muitos jornais ter batido recordes nos últimos meses, desde o início do isolamento social. É o caso da Folha, que teve recordes históricos de audiência e de assinatura digital em maio e abril. “O desejo por financiar a notícias de qualidade, fundamentadas e qualificadas cresce entre os leitores”.
Os jornalistas também reforçaram formas de monetização que ganharam maior destaque em meio à pandemia para a captação de patrocinadores. Entre elas, as principais observadas são as transmissões ao vivo de seminários virtuais, além de newsletters e podcasts.
Em resposta à pergunta do mediador e vice-presidente da Abraji, Guilherme Amado, os participantes elencaram aqueles que acreditam serem os principais ensinamentos da pandemia para a imprensa. São eles:
- Continuar explorando as possibilidades do trabalho remoto para aumentar a qualidade de vida dos funcionários de redações;
- A importância da informação de qualidade para salvar vidas;
- Capacidade de adaptação dos profissionais da imprensa e da tecnologia para permanecer produzindo conteúdo de qualidade, mesmo que em condições adversas;
- Uma maior alfabetização midiática em função da busca por informação verídica.
Todos os painéis ficarão disponíveis no site da inscrição a partir desta quarta-feira (13.mai.2020), durante uma semana.