- 24.05
- 2018
- 08:46
- Rafael Oliveira
Acesso à Informação
Robô do JOTA monitora aniversário de processos parados no STF
O JOTA lançou, no final de abril, um robô que monitora processos parados no Supremo Tribunal Federal (STF). Apelidado de Rui, o bot acompanha uma lista de ações judiciais abastecida pela redação do veículo e tuíta toda vez que um destes processos completa um “aniversário” parado.
Segundo Felipe Recondo, cofundador e diretor de conteúdo do JOTA, o objetivo da iniciativa não é buscar culpados, mas alertar que as ações estão sem movimentação. “O mais comum no Judiciário é que os processos fiquem parados. O que percebíamos era que nós, jornalistas, cobrimos as ações quando elas são julgadas, quando há decisões, denúncia, etc. mas não cobrimos com a mesma atenção os processos parados”, explica. Para ele, se a Justiça é lenta, ela não é efetiva. “Se direitos e deveres não são garantidos judicialmente em tempo hábil, temos um déficit na prestação da Justiça e isso é um grave problema”, aponta.
Segundo o jornalista, as causas para a lentidão do Supremo são múltiplas. “Há hipóteses, como a quantidade de processos com a qual o Tribunal tem de lidar todos os dias, o sistema recursal ou a própria administração dos processos e do tempo. Em específico, há também a atuação das partes”, afirma.
Com o robô, o veículo busca entender como o STF usa o tempo e quais são suas prioridades e escolhas. “Queremos apurar onde e em que momento esses processos param, queremos manter uma vigilância permanente sobre o Judiciário e dar mais transparência para a sociedade sobre o que ocorre no Supremo”, aponta Recondo, que foi o idealizador do bot.
A ferramenta, totalmente desenvolvida na linguagem de programação Python, surgiu após uma somatória de casos. Uma das inspirações foi iniciativa do Conselho Nacional de Justiça, que criou um programa para acompanhar os passos de processos criminais complexos que não andavam. Outro dos casos, explica Recondo, envolvia um senador, alvo de inquérito criminal no STF, que estava com o processo parado na Procuradoria-Geral da República (PRG) havia seis meses. “Nós telefonamos para saber se havia alguma previsão para andamento do processo. A resposta que recebemos, em off, nos surpreendeu: o procurador-geral não sabia que o processo estava lá e, ao ser alertado disso, percebeu que os crimes prescreveriam na semana seguinte. E foi o que de fato ocorreu”, conta.
A seleção dos processos é feita pela equipe do JOTA com base em critérios jornalísticos. Desde o lançamento do robô, a lista também tem sido abastecida com sugestões de seguidores no Twitter. “Nós incluímos [na lista do Rui] ações diretas de inconstitucionalidade, ações de descumprimento de preceito fundamental, ações declaratórias de constitucionalidade, inquéritos e ações penais contra políticos, habeas corpus cujas teses possam ser interessantes para outros casos”, explica Recondo.
O veículo, focado na cobertura jurídica, já fazia uso interno de bots, especialmente para acompanhamento de processos, para a coleta de dados e para a atualização de gráficos, como o do agregador de pesquisas. Para Recondo, o lançamento do robô permite que os repórteres do JOTA, mas também de outros veículos, bem como cidadãos em geral, passem a ter mais informações para cobrar explicações do Judiciário. “[A página do Rui no] Twitter será o alerta nas redes sociais. Mas nós também vamos fazer reportagem e apurar as razões da paralisia do processo, se há perspectivas para que andem e entrevistar – quando possível e necessário – os relatores, advogados, procuradores”, aponta o cofundador do portal.
A reação da comunidade jurídica à ferramenta foi positiva. Segundo Recondo, o JOTA recebeu muitas mensagens de advogados e do Ministério Público parabenizando a iniciativa. “Penso que todos entenderam que não estamos atrás de acusar ou culpar alguém. O Rui é uma ferramenta em prol da melhoria do Judiciário. Não é uma ferramenta acusatória”, afirma o jornalista. A ferramenta repercutiu também no órgão analisado – a instância máxima do sistema judiciário no Brasil –, e um ministro do Supremo sugeriu que o JOTA ampliasse o bot para todos os tribunais do país.
A sugestão do ministro já estava no horizonte do veículo. “Nossa ideia é ampliar o projeto para outras instâncias, mas dentro de um cronograma estabelecido. O Rui foi um grande avanço para nós, e vamos também aprender muito com este processo de construção e de diálogo com a tecnologia”, explica Recondo. “Vamos continuar a pensar em robôs que nos ajudem na cobertura dos poderes. Precisamos usar a tecnologia a nosso favor e em favor da transparência”, conclui o jornalista.
Outros robôs
O Robô Rui se soma a outras iniciativas brasileiras de utilização de bots dentro do jornalismo.
A equipe do projeto Operação Serenata de Amor trabalha em um robô produtor de notícias – o primeiro do tipo no Brasil – que será capaz de produzir pequenos textos objetivos com informações do Medidor de Poder, uma base de dados que reúne informações sobre leis, políticos e candidatos. A previsão é de que ele seja lançado no segundo semestre, a tempo das eleições. O projeto usa inteligência artificial desde 2016 e já criou a Rosie, “nascida” em abril de 2017, que analisa gastos reembolsados de deputados federais e senadores, identificando suspeitas e incentivando a população a questioná-los.
Outra iniciativa é a Robô Fátima, projeto do Aos Fatos em parceria com o Facebook. Também focado no período eleitoral, o bot conversará com pessoas através do Messenger, auxiliando-as no processo de verificação de conteúdo online. Por meio da plataforma, Fátima dará dicas de como separar notícia de opinião, de como encontrar dados confiáveis para diversos temas e mesmo de como saber se uma fonte é confiável ou não. A previsão é que ela esteja funcionando ainda neste semestre.