- 12.12
- 2018
- 14:07
- Rafael Oliveira
Liberdade de expressão
Revista Time escolhe jornalistas como Pessoa do Ano
A revista Time escolheu jornalistas e a liberdade de imprensa como Personalidade do Ano de 2018. O periódico americano homenageou profissionais mortos ou presos, chamando-os de “Guardiões na guerra pela verdade”. A distinção é oferecida desde 1927 a pessoas ou grupos de pessoas que influenciaram significativamente os eventos do ano, para o bem ou para o mal.
Em texto explicando a decisão, o editor-chefe da revista Edward Felsenthal ressaltou que os escolhidos “são representativos de uma luta mais ampla em todo o mundo” e que os jornalistas “arriscam tudo para contar a história do nosso tempo”. A publicação também destacou que 262 jornalistas foram presos em 2017 e ao menos 52 jornalistas foram assassinados em 2018.
Em entrevista para a Time, a secretária-executiva da Abraji Cristina Zahar destacou a polarização política no país como uma das ameaças para os profissionais brasileiros. “A crença das pessoas nas próprias verdades ficou mais forte, e não importa quando alguém diz que são mentiras”, declarou. “Os jornalistas terão de aprender a lidar com isto”.
Para a Coordenadora do Programa do Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ) para a América Central e do Sul, Natalie Southwick, a escolha da Time é “um reconhecimento importante e merecido não apenas pelos incríveis jornalistas apresentados nas capas, mas também pelos milhares de repórteres em todo o mundo que arriscam suas vidas e segurança para levar a verdade às suas comunidades”.
Southwick considera a decisão uma “resposta clara à crescente ameaça da retórica anti-imprensa em todo o mundo”. “Há um reconhecimento crescente do papel crucial que os jornalistas e a imprensa livre desempenham na defesa dos valores democráticos e na responsabilização do poder”, afirma.
A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) também ressaltou a importância da escolha da Time em uma série de publicações no Twitter. Em texto publicado no HuffPost, a diretora do escritório da RSF em Londres Rebecca Vincent destacou que “o jornalismo está se tornando uma profissão cada vez mais arriscada à medida que homens poderosos em todo o mundo parecem ter recebido a mensagem de que estão livres para usar quaisquer meios à sua disposição para silenciar reportagens críticas”.
Vincent afirmou ainda que os jornalistas “estão comprometidos em expor a verdade, responsabilizar nossos governos e proteger nossa própria democracia” e que “os ‘guardiões’ merecem todo o reconhecimento que podem obter — na verdade, mais do que isso. Eles merecem nossa gratidão, nosso apoio e nossa proteção”.
Os homenageados
Um dos homenageados pelo periódico é o jornalista e colunista Jamal Khashoggi, crítico do governo saudita que foi assassinado dentro do consulado da Arábia Saudita na Turquia. Segundo a agência de inteligência norte-americana CIA, a ação teve como objetivo silenciar o profissional.
A editora do site de notícias filipino Rappler, Maria Ressa, também recebeu a distinção. Ex-correspondente da CNN no Sudeste Asiático, Ressa realiza cobertura crítica do governo de Rodrigo Duterte nas Filipinas e está enfrentando um processo por acusação de evasão fiscal que o CPJ considera uma “campanha de assédio legal”.
Os jornalistas Wa Lone e Kyan Soe Oo, da agência Reuters, também foram homenageados. Ambos foram condenados a sete anos de prisão em Mianmar, acusados de violar a Lei de Segredos Oficiais, durante a investigação de um massacre de muçulmanos rohingyas.
Por fim, a publicação colocou o jornal americano Capital Gazzete e sua redação como Pessoa do Ano. Em junho, um atirador matou quatro repórteres e um assistente de vendas do periódico. O assassino processou o jornal em 2012 por conta de artigo sobre um caso de assédio cometido por ele.
Brasil
O caso de perseguição contra a repórter da Folha de S. Paulo Patrícia Campos Mello foi citado pela revista Time no artigo sobre a premiação. Segundo o periódico, Campos Mello “foi alvo de ameaças após relatar que apoiadores do presidente eleito, Jair Bolsonaro, financiaram uma campanha para disseminar notícias falsas no WhatsApp”. À época, a Abraji publicou nota condenando a ofensiva contra a profissional.