- 26.04
- 2018
- 14:45
- Abraji
Liberdade de expressão
Repórter fotográfico e motorista são agredidos por agentes de trânsito em Salvador
Na noite da última quarta-feira (25.abr.2018), o repórter fotográfico Betto Júnior (Correio) e o motorista Gabriel Cerqueira foram agredidos por agentes da Transalvador, autarquia municipal de trânsito da capital baiana. Júnior teve o nariz quebrado, levou cinco pontos na cabeça e há suspeita de que seu maxilar esteja fraturado. Cerqueira levou um soco no rosto.
Os profissionais tentavam chegar ao estádio Barradão para cobrir a partida entre Vitória e Corinthians pela Copa do Brasil. Mesmo portando crachás com identificação profissional e autorização de acesso ao local, Júnior e Cerqueira foram impedidos de passar pela barreira da Transalvador colocada antes do estádio. Agentes da autarquia alegaram que, por estarem em um carro descaracterizado, eles não poderiam passar.
Júnior esclarece que estavam em um veículo sem a marca do jornal “porque na final do campeonato baiano [em 8.abr.2018], o carro em que a gente estava, com o logotipo da empresa, foi apedrejado, chutado, o vidro da frente foi quebrado. Por isso, fomos com o carro descaracterizado”.
Um dos agentes chamou o policiamento que estava na área para próximo da barreira. Segundo Júnior, o funcionário disse para que eles tirassem o carro do local, ameaçando multá-lo e guinchá-lo. Na sequência, sacou o celular e passou a filmar o repórter e o motorista. Betto Júnior passou a fotografar o segurança: “já que sou eu que trabalho com imagem, fui fazer a imagem dele também”, conta.
“Ele tentou esconder o rosto atrás do celular, para eu não registrar a imagem”, narra Júnior. “E eu, lógico, fui procurando o melhor ângulo. Nisso, ele já foi para cima de mim”. Segundo o repórter, o agente tentou dar dois socos mas se desequilibrou. Outro agente acertou Júnior no queixo. “Com esse soco, eu bati a cabeça em um ferro. O agente que tentou me agredir antes se levantou e, mesmo eu estando caído e sangrando no chão, me deu um chute no rosto”.
A câmera de Júnior ficou danificada: a lente e o flash que estavam acoplados a ela quebraram.
Júnior e Cerqueira registraram Boletim de Ocorrência na Delegacia Especial de Área do Estádio Manoel Barradas, vinculada à 10ª Delegacia de Polícia (Pau da Lima).
Em nota, a Transalvador afirma que “não corrobora com nenhum tipo de violência, e o fato será apurado para que sejam tomadas as medidas cabíveis”. Entrevistado pela TV Bahia na manhã desta quinta-feira (26.abr.2018), o superintendente da autarquia Fabrizzio Muller disse que os agentes envolvidos já foram identificados e será aberta uma investigação interna para apurar o ocorrido.
A Abraji repudia o ataque a Betto Júnior e Gabriel Cerqueira e manifesta preocupação com a alta frequência de casos de violência contra jornalistas na cobertura esportiva. Agressões a profissionais da comunicação são ataques diretos à liberdade de expressão e ao direito de acesso a informações.
Os autores devem ser punidos não apenas na esfera administrativa, mas também na criminal. A impunidade é um incentivo a atos como esse. Além disso, a Transalvador deve orientar melhor seus servidores para respeitar o exercício do trabalho jornalístico e, assim, prevenir que o ocorrido se repita.
Diretoria da Abraji, 26 de abril de 2018.