- 30.07
- 2020
- 17:49
- Abraji
Liberdade de expressão
Repórter especial de O Povo é hostilizado por criticar colégio militar
Demitri Túlio, repórter especial, colunista e editor do jornal O Povo, do Ceará, foi hostilizado nas redes sociais por pais, professores e “amigos” do Colégio Militar de Fortaleza (CMF), depois de publicar, no dia 26.jul.2020, a crônica “Um colégio que nega a pandemia?” criticando a postura negacionista do CMF. O jornalista teve de tornar seu perfil no Instagram privado para se proteger dos ataques.
A Associação Cearense de Imprensa (ACI), o Sindicato dos Jornalistas do Ceará e outras entidades se solidarizaram com o jornalista e repudiaram a campanha de assédio virtual contra o jornalista. “Aqueles que atacam Demitri atacam o jornalismo naquilo que há de melhor”, afirmou o presidente da ACI, Salomão de Castro.
De acordo com o Portal dos Jornalistas, Túlio é o jornalista mais premiado do Nordeste e, por isso, tem uma coluna semanal no jornal O Povo, após 23 anos de contribuição ao veículo. Nesse espaço, o colunista publicou uma crônica fundamentada em relatos de funcionários do colégio e documentos, como a “Segunda Avaliação Escolar”, que abordava a possibilidade do retorno às aulas presenciais.
“Se eu estivesse fazendo uma matéria ou uma reportagem, deveria entrar em contato com a escola para ouvir o outro lado. Como era um espaço de artigo ou crônica, argumentei com base nas informações que tinha em mãos”, explicou o jornalista.
Um abaixo-assinado de repúdio “à matéria do jornal O Povo sobre posição do Colégio Militar em relação à pandemia” foi publicado por Elizabeth S. para mobilizar “pais e autoridades”. Até a tarde do dia 30.jul.2020, a nota somava quase 700 assinaturas.
André Aguiar, pai de um dos alunos do CMF, divulgou a petição on-line em redes sociais alegando que, quem assiná-la, “estará fazendo justiça contra uma atitude leviana do jornal O Povo que, ao invés de informar, vem levianamente desinformando a população.”
Para Demitri Túlio, os ataques a ele, ao jornal e a defesa à excelência acadêmica do Colégio Militar de Fortaleza desviaram a atenção do foco da discussão: a reabertura da escola enquanto o novo coronavírus ainda se dissemina. “As pessoas podem e devem pedir por informações verdadeiras. Está previsto na liberdade de expressão. Mas isso não deve ser feito com violência.”
Quando não violentas, o jornalista respondeu às críticas recebidas por e-mail. Ele, agora, estuda com o jornal O Povo as medidas legais cabíveis para se resguardar contra a campanha de assédio virtual.
Um abaixo-assinado em solidariedade ao jornalista Demitri Túlio e em defesa da liberdade de expressão foi criado pelo ex-secretário de Educação de Sobral, Hebert Lima, e outras autoridades locais.
Procurado pela Abraji, o Colégio Militar de Fortaleza não havia se pronunciado até a publicação desta reportagem.
Foto: Fco Fontenele/ O Povo