- 09.11
- 2012
- 17:13
- Marina Iemini Atoji
Relação entre informantes e jornalistas investigativos é tema em Conferência Anticorrupção
O bom relacionamento com fontes é um dos elementos fundamentais no trabalho de reportagem. No jornalismo investigativo, o tema pode ser ainda mais sensível, quando se trata de denúncias de irregularidades graves feitas diretamente ao repórter - como os já clássicos exemplos do "Garganta Profunda" e de Roberto Jefferson comprovam.
Para os profissionais presentes no debate desta manhã (9.nov.2012) em Brasília, na 15ª Conferência Internacional Anticorrupção (IACC), a relação de jornalistas com informantes (whistleblowers, no termo em inglês) é baseada em dois pilares: confiança e credibilidade. O denunciante precisa confiar que o jornalista usará a informação de maneira responsável, sem colocá-lo em risco direto, e que a história será contada de forma fidedigna e séria.
Sobre a produção de reportagens com base em dicas ou denúncias de informantes, o entendimento comum é de que o mais básico princípio do jornalismo - a checagem - deve ser aplicada intensivamente. Paul Radu, diretor executivo do Organized Crime and Corruption Reporting Project, diz que "os jornalistas podem se beneficiar muito de informantes, mas é sempre importante contar com o apoio de espcialistas, documentos e dados para verificar as informações a fundo". Diana Jean Schemo, do 100Reporters, ratifica a afirmação com um exemplo prático de investigação com base em informações de uma fonte no Iraque sobre as atividades militares norte-americanas: "somente depois de vermos em documentos e outras fontes que a informação repassada era confiável e expressava uma verdade, publicamos a história".
Os riscos de ser um informante e a ajuda da imprensa
Em outro painel, realizado à tarde, dois testemunhos mostraram a vulnerabilidade de informantes nos Estados Unidos. Thomas Drake, ex-alto funcionário da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) narrou como sua vida foi virada de cabeça para baixo e ele terminou acusado de ser inimigo do Estado - uma das mais graves acusações criminais nos EUA - por revelar que a Agência violava direitos fundamentais dos cidadãos após o 11 de setembro. "Imagine ser seguido por todos os lugares, saber que toda a sua vida - as contas que você paga, correspondências, pessoas com quem convive - é monitorada pelo governo".
A ação judicial e policial do governo norte-americano contra Drake só arrefeceram após Jesselyn Radack, do Government Accountability Project, assumiu o caso, como advogada. Ela também sofreu retaliação por parte do governo dos EUA após denunciar a prática de tortura contra o primeiro prisioneiro capturado no Afeganistão, tendo sido demitida de seu cargo no Departamento de Justiça. Desde então, dedica-se a ajudar outros denunciantes - como Drake.
Jesselyn entrou em contato com jornalistas de sua confiança para expor o caso de Drake, pois segundo ela "em minha experiência, a mídia serviu como proteção à prova de balas, especialmente o jornalismo investigativo". As acusações contra Blake foram mostradas em grandes jornais e no programa 60 Minutes.
Tanto Drake quanto Jesselyn foram enfáticos em afirmar que, apesar de defender a liberdade na Internet e declarar-se completamente aberto e transparente, o governo dos Estados Unidos tem intensificado o sigilo sobre informações, sob o argumento da segurança nacional. "O princípio da transparência morre assim que as portas dos gabinetes se fecham", diz Drake.