• 05.12
  • 2012
  • 14:28
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Projeto Ausências Brasil torna os desaparecidos presentes

O Projeto Ausências Brasil denuncia os assassinatos cometidos durante a ditadura militar de uma maneira inusitada: com fotos onde os personagens principais não estão presentes. O fotógrafo argentino Gustavo Germano – idealizador da proposta e parceiro da Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação (ALICE) no projeto – garimpou retratos nos álbuns das famílias dos desaparecidos políticos e remontou as mesmas cenas, com personagens e cenários idênticos, evidenciando assim a dolorosa falta daqueles que não se encontram mais ali.

Inicialmente o Projeto Ausências foi realizado na Argentina e, por meio de convênio firmado entre a ALICE e a Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR, tornou-se possível realizar a versão brasileira. A intenção de Germano é ampliar o trabalho aos demais países latino-americanos marcados por ditaduras militares.

Durante os meses de junho e julho de 2012 a equipe formada por Gustavo Germano, Luciano Piccoli e André Garcia rodou o Brasil fotografando familiares de diversos mortos e desaparecidos, entre eles Bergson Gurjão Farias, Luiz Almeida Araújo, Fernando Augusto De Santa Cruz Oliveira, Iuri Xavier Pereira, Alex de Paula Xavier Pereira, Arnaldo Cardoso Rocha, Jana Moroni Barroso, Ana Rosa Kucinski Silva, Devanir José de Carvalho, Virgílio Gomes da Silva, Luiz Eurico Tejera Lisboa, João Carlos Haas Sobrinho. O folder (em anexo) produzido especialmente para a exposição, conta a história de 12 casos brasileiros e cinco argentinos, revelando aspectos da vida dessas pessoas.

A curadora do projeto, a jornalista gaúcha Rosina Duarte, conta nesta entrevista como aconteceu o encontro entre a ALICE e o trabalho do fotógrafo Gustavo Germano e faz uma avaliação do seu significado estético e político no atual momento brasileiro.

 

1. Como a ALICE entrou em contato com o trabalho do fotógrafo Gustavo Germano? E por que decidiu replicar a exposição aqui no Brasil?

A ALICE tem convênio com a Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República e do Ministério da Justiça – por meio da Comissão da Anistia - e vem trabalhando com a recuperação da memória do período da ditadura militar há mais de cinco anos. O projeto do fotógrafo Gustavo Germano, pela sua originalidade e impacto, tornou-se bastante conhecido no âmbito dos Direitos Humanos e, ao tomarmos conhecimento dele, montamos a parceria com a SDH. Importante lembrar que a ALICE é uma organização não governamental focada no direito à comunicação e à informação – garantidas pelo artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A recuperação da memória faz parte desta proposta pois, sem o conhecimento dos fatos é impossível que os cidadãos desenvolvam consciência crítica e persp ectiva histórica. Nesse sentido, a ALICE desenvolveu um trabalho composto de exposições fotográficas itinerantes sobre o período (duas versões diferentes para a SDH e uma para a Comissão da Anistia) que já foram vistas por mais de 3 milhões de pessoas em todo o Brasil. Também instalou memoriais- feitos em aço naval e contendo textos explicativos- em locais públicos de grande circulação, em diversas cidades do país. Dessa forma, contribui para formar uma ponte histórica sobre o enorme fosso de desinformação a respeito do período ditatorial.

2. Qual o significado político e estético desse trabalho nas circunstâncias brasileiras?

Existem povos que não permitem fotografias porque acreditam que as imagens impressas lhes roubam a alma. Com este trabalho, estamos fazendo exatamente o contrário. Ou seja, ao fotografar a ausência de pessoas imprescindíveis à luta pela redemocratização no Brasil, trazemos de volta o seu espírito de luta pela verdade, a memória e a justiça. Trata-se de uma denúncia sem voz, sem palavras, sem rosto. Isso é absolutamente inovador e impactante. Números são frios, informações se perdem no emaranhado de contra-informações. Hoje existem pessoas pregando que o tempo da ditadura era melhor porque não havia corrupção, nem escândalos políticos, nem violência. O que elas não dizem é que a imprensa era amordaçada e a política era um circo de marionetes e quem se atrevesse a abrir a boca era preso, tor turado e assassinado. Por isso tudo ficava abafado no silêncio imposto pelo taco dos coturnos. Mas como os jovens podem saber se não viveram essa realidade e quase nada lhes foi transmitido sequer nas escolas – estas também afogadas em uma reforma do ensino destinada forjar cidadãos obedientes? A Exposição Ausências, portanto, faz o papel não apenas de informar como de transmitir a dor dos familiares e o quanto o País perdeu com a morte dessas pessoas que hoje possívelmente tivessem fazendo a diferença na sua história.

 

Projeto Ausências Brasil

Curadoria: Rosina Duarte – Coordenadora da ALICE

Fotografias: Gustavo Germano

Imagens históricas: Acervos de Família

Produtor executivo: Luciano Piccoli

Filmagem e making off: André Luis Garcia

Apoio logístico: Brasil Imagens

Produção e realização: ALICE (Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação)

 

Exposição de fotografias

Inauguração: 7 de dezembro de 2012 (sexta-feira)

Horário: a partir das 17h30min

Local: Arquivo Público do Estado de São Paulo (Rua Voluntários da Pátria, 596 - Estação Tietê - São Paulo)

Permanência: a mostra fica em cartaz até o mês de abril de 2013

Assinatura Abraji