Prisões e assassinatos de jornalistas no mundo crescem em 2022
  • 14.12
  • 2022
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Prisões e assassinatos de jornalistas no mundo crescem em 2022

Balanço anual da Repórteres sem Fronteiras (RSF) sobre abusos cometidos contra jornalistas apontou novo recorde de profissionais presos no mundo. Em 2022, 533 jornalistas foram encarcerados, um aumento de 13,4% em comparação com as detenções registradas no ano passado. O número de jornalistas assassinados neste ano também cresceu em relação a 2021 (18,8%), chegando ao total de 57 profissionais que perderam a vida em decorrência do exercício do jornalismo.

Líder do ranking dos países que mais prenderam profissionais de imprensa em 2022, a China colocou 110 jornalistas atrás das grades. Em segundo lugar, está Mianmar, com 62 presos; o Irã ocupa o terceiro lugar e encarcerou 47 profissionais.

Outro destaque do balanço é o crescimento do número de mulheres presas. Foram identificadas 78 mulheres jornalistas em detenção, aumento de 30% se comparado com 2021. Hoje, elas representam 14,6% do total de detidos.

Para Christophe Deloire, secretário-geral da RSF, “esse novo recorde do número de jornalistas detidos confirma a imperiosa e urgente necessidade de resistir a esses governos sem escrúpulos e de exercer a nossa solidariedade ativa com todos aqueles que promovem o ideal de liberdade, independência e pluralismo da informação”.

Quanto aos jornalistas que foram assassinados, as Américas aparecem como a região mais perigosa para o exercício da profissão; 47,4% (27) dos profissionais de imprensa que perderam a vida em 2022  trabalhavam nesse continente. Somente o México registrou 11 jornalistas mortos, o que representa 20% do total registrado no mundo. Três profissionais foram executados no Brasil.

Dois dos três casos de assassinato em território brasileiro estão sendo acompanhados pelo Programa Tim Lopes, iniciativa criada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em 2017, como resposta à violência contra jornalistas no país. O primeiro se refere à morte de Givanildo Oliveira, um dos fundadores do site Pirambu News, assassinado em 7.fev.2022, em Fortaleza. O outro caso é o do jornalista britânico Dom Phillips, morto em 5.jun.2022, com o indigenista Bruno Pereira, na Amazônia.  

Pela metologia adotada pela Repórter sem Fronteiras, Bruno Pereira contou como o terceiro caso. 

"A gente também considera os colaboradores de mídia, que são pessoas que estão ali acompanhando e apoiando os jornalistas em algumas atividades específicas, como motoristas, produtores. Até mesmo equipes administrativas entram na classificação se eles forem assassinados em algumas condições particulares, como, por exemplo, se forem vítimas de algum tipo de ataque à redação", explica Artur Romeu, o brasileiro que assumiu a direção do escritório da Repórteres Sem Fronteiras para América Latina. 

A guerra na Ucrânia, que estourou em 24.fev.2022, foi indicada como uma das questões que influenciaram no aumento do número de jornalistas mortos. Nos primeiros seis meses de conflito, oito jornalistas foram mortos no país. Independentemente da guerra, de acordo o relatório, “mais de seis em cada dez jornalistas (64,9%) mortos perderam a vida em países considerados pacíficos em 2022”.

Outros 65 jornalistas e colaboradores da mídia estão sendo mantidos reféns em diferentes partes do mundo. E, neste ano, se juntaram ao número de desaparecidos mais dois jornalistas, elevando o total para 49.

Os dados da RSF apontaram ainda os assuntos mais arriscados de se cobrir: zonas de conflito, crime organizado, corrupção, manifestação e eventos e meio ambiente. 

A presidente da Abraji, Katia Brembatti, destaca que a estratégia de deslegitimar a atuação da imprensa funcionou como uma impulsionador para os casos de violência em território nacional. "De forma impensável e banalizada, no Brasil passou a ser perigoso cobrir uma simples manifestação de rua", salienta.

Organizações exigem jornalismo livre de violências

Nesta terça-feira (13.dez.2022), sete organizações da sociedade civil exigiram condições seguras para o exercício do jornalismo na América Latina. Em comunicado, a Artigo 19, o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ), a Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP), o IFEX-ALC, a Repórteres sem Fronteiras (RSF), a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) e a rede Voces del Sur (VdS), da qual a Abraji faz parte, reforçam que o ano de 2022 foi o mais violento nas últimas décadas para a região.

As organizações lembram que “um atentado contra a imprensa é um atentado contra a democracia, sobretudo num contexto em que a realização do trabalho de reportagem está sob constante cerco”. Além disso, solicitam que os Estados adotem medidas para combater as violações à liberdade de imprensa, para que sejam “garantidas as condições para um exercício livre e seguro do jornalismo”.

Assinatura Abraji