• 03.02
  • 2011
  • 14:58
  • Folha.com

Presos no Egito, jornalistas brasileiros são forçados a deixar país

Enviados para o Egito para a cobertura da crise no país, o jornalista Corban Costa, da Rádio Nacional, e o repórter cinematográfico Gilvan Rocha, da TV Brasil, foram detidos, vendados e tiveram passaportes e equipamentos apreendidos.

Desde a noite de quarta-feira, 2, até a manhã desta quinta, Corban e Gilvan ficaram sem água, presos em uma sala sem janelas e com apenas duas cadeiras e uma mesa, em uma delegacia do Cairo.

Segundo o enviado especial da Folha ao Cairo, Samy Adghirni, os conflitos entre manifestantes pró e contra o ditador Hosni Mubarak chegaram à porta do hotel Hilton, onde havia jornalistas estrangeiros hospedados.

"É uma sensação horrível. Não se sabe o que vai acontecer. Em um primeiro momento, achei que seríamos fuzilados porque nos colocaram de frente para um paredão, mas, graças a Deus, isso não aconteceu", afirmou Corban, que volta amanhã com Gilvan para o Brasil.

Para serem liberados, os repórteres foram obrigados a assinar um depoimento em árabe, no qual, segundo a tradução do policial, ambos confirmavam a disposição de deixar imediatamente o Egito rumo ao Brasil. "Tivemos que confiar no que ele [o policial] dizia e assinar o documento", contou Corban.

No caminho da delegacia para o aeroporto do Cairo, Corban disse ter observado a tensão nas ruas e a movimentação intensa de manifestantes e veículos militares nos principais locais da cidade. Segundo ele, todos os automóveis são parados em fiscalizações policiais e os documentos dos passageiros, revistados. Os estrangeiros são obrigados a prestar esclarecimentos. De acordo com o repórter, o taxista sugeriu que ele omitisse a informação de que era jornalista.

Há dez dias, o Egito vive momentos de tensão em decorrência de onda de protestos contra a permanência de Hosni Mubarak na presidência do país. A situação se agravou ontem, depois que manifestantes pró e contra o governo se enfrentaram nas ruas das principais cidades egípcias.

O tiroteio deixou ao menos oito mortos, segundo informações das agências de notícias. O ministro de Saúde egípcio, Ahmed Samih, diz que cinco morreram nos confrontos de quarta --a maioria por pedradas ou ataques com pedaços de metal e paus. Outros 836, segundo Samih, foram levados ao hospital e 86 continuam internados. O saldo de mortos chega assim a 13 nos últimos dois dias.

SEM REELEIÇÃO
O vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, disse nesta quinta-feira,3, que nem o ditador Hosni Mubarak nem seu filho, Gamal -- que era visto como possível sucessor do pai-- se candidatarão nas eleições presidenciais marcadas para setembro, informou a TV estatal.

No pronunciamento, ele também prometeu punir todos os responsáveis pelos episódios de violência que assolam o país, e pediu a soltura dos jovens detidos nos protestos antigoverno que não estejam envolvidos nos incidentes violentos.

Mais cedo, o premiê do Egito, Ahmed Shafiq, reiterou seu pedido de desculpas pelos confrontos dos últimos dois dias na praça Tahrir, no centro do Cairo, entre manifestantes pró e antigoverno e disse não saber quem está por trás da violência. Em entrevista coletiva a jornalistas, Shafiq afirmou ainda que está disposto a negociar com quer for para encerrar a crise.

A entrevista ocorre horas depois de manifestantes pró e antigoverno voltarem a se enfrentar na manhã desta quinta-feira, em uma rua próxima à praça Tahrir, no Centro do Cairo, onde horas antes os governistas abriram fogo contra opositores do regime de Hosni Mubarak, no poder há 30 anos.

O tiroteio deixou ao menos cinco mortos, segundo informações das agências de notícias. O ministro de Saúde egípcio, Ahmed Samih, diz que cinco morreram nos confrontos de quarta --a maioria por pedradas ou ataques com pedaços de metal e paus. Outros 836, segundo Samih, foram levados ao hospital e 86 continuam internados. O saldo de mortos chega assim a dez nos últimos dois dias.

O Exército interveio para conter os manifestantes pró-governo e a agência de notícias Efe afirma que os militares chegaram a disparar para o alto para dispersar manifestantes.

"A prioridade é descobrir o que aconteceu ontem [nesta quarta-feira]", disse Shafiq, que prometeu uma investigação "completa e profunda" sobre os confrontos. "Para saber se foi planejado, acidental, liderado por uma pessoa, um grupo... Lidaremos de acordo com a lei e logo com quem for responsável pelo que aconteceu ontem e que causou este caos".

DESCULPAS
Em uma espécie de mea culpa, Shafiq repetiu inúmeras vezes que o papel do Estado é proteger os egípcios e reiterou que a violência não se repetirá. "O que ocorreu foi uma catástrofe e não se repetirá nunca".

Ele disse acreditar que grupos aproveitaram a falta de segurança no local --onde o Exército apenas acompanhou os protestos, sem interagir-- para incitar a violência e disse não descartar uma conspiração.

"Fiquei muito surpreso de ver dromedários nos protestos. Temos dromedários nos arredores do Cairo. Os donos dos dromedários são da indústria de turismo, eles sofrem muito com os protestos", disse Shafiq, sobre uma das cenas mais surpreendentes dos confrontos, quando homens em cavalos e dromedários invadiram Tahrir chicoteando os manifestantes da oposição.

Os manifestantes da oposição acusam o governo de enviar policiais a paisana entre seus apoiadores, inclusive os que invadiram o local nos cavalos e dromedários. Eles afirmam ter detido ao menos 120 pessoas carregando identidades da polícia ou do partido governista quando atacavam manifestantes.

 

Assinatura Abraji