- 08.10
- 2021
- 18:40
- Abraji
Liberdade de expressão
Prefeito de Manaus se recusa a responder a jornalista e acusa veículo de extorsão
No dia 7.out.2021, o prefeito de Manaus (AM), David Almeida (Avante), reagiu com hostilidade ao ser questionado pela repórter Gabriela Alves, do portal Amazonas 1, sobre suspeitas de irregularidades na distribuição de apartamentos destinados a famílias de baixa renda, na capital amazonense. "Com o portal de vocês, eu não falo", disse o prefeito. Pouco depois, diante da insistência da jornalista, ele foi além: “Você está sendo usada. A sua chefe quer extorquir a prefeitura, e eu não vou servir à extorsão deles. O chefe do seu blog quer extorquir o povo de Manaus [...]. Eles querem tirar R$ 160 mil por mês da prefeitura. Isso é roubo.”
Gabriela Alves estava se referindo a uma investigação do Ministério Público Federal para apurar denúncias de que funcionários da prefeitura de Manaus e empresários estariam entre as pessoas aptas a receber os imóveis do Residencial Manauara 2, no bairro de Santa Etelvina, na zona norte da cidade. Se comprovado, esse ato descumpre os requisitos do programa habitacional da prefeitura, que prevê a distribuição somente a pessoas de baixa renda.
Para se encaixar no programa, que integra o “Casa Verde e Amarela”, as famílias devem ter renda bruta de até R$ 2 mil, residir em áreas de risco ou insalubres ou ter sido desabrigadas, entre outros requisitos. As moradias foram inauguradas no dia 18.ago.2021, com presença do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
No mesmo dia da inauguração, a revista Cenarium denunciou que as tias da estudante Fernanda Aryel Almeida, filha de David Almeida, teriam sido contempladas no sorteio da Caixa Econômica para receber os imóveis, mesmo ocupando cargos comissionados da prefeitura, com salários de até R$ 4 mil. Além das tias Suellen Fernandes Rodrigues e Surreila Rodrigues, a prima Dayane Sabrina Rodrigues de Oliveira, ex-funcionária da prefeitura, também estaria na lista de beneficiados.
À época, a Caixa informou que o cadastro, indicação e seleção dos beneficiários é atribuição do ente público - no caso, da prefeitura -, que tem o dever de observar os critérios estabelecidos pelo programa federal. Em nota, destacou ainda que “o beneficiário assina declaração na qual informa a renda e se responsabiliza por posterior verificação inadequada. Também está prevista, em contrato, declaração de veracidade das informações prestadas, inclusive com relação à renda”.
Em entrevista à Abraji, a repórter Gabriela Alves disse ter se sentido desrespeitada em meio aos seus colegas de imprensa. “Eu não esperava que ele fosse responder, mas esperava ter o direito de fazer minhas perguntas. Tive a sensação de que estava sendo intimidada, além de revolta por não ter conseguido fazer o mínimo do meu trabalho”, afirmou Alves.
Rudson Peixoto, dono do portal, disse que não há qualquer crime por parte do portal ou de seu proprietário. "É lamentável a postura do prefeito que age dessa forma todas as vezes que os jornalistas fazem perguntas que lhe incomodam, porque buscam mostrar os fatos para a população.”
Sobre a acusação de o portal querer receber a quantia de R$ 160 mil, o proprietário afirmou que o Amazonas 1 “nunca fez proposta ou iniciou qualquer negociação dessa monta com a prefeitura”.
Em nota, o portal Amazonas 1 declarou que atua com seriedade e ética no jornalismo e que “não se calará diante de fatos e acontecimentos contrários ao interesse público”. Segundo o portal, “atentar contra a imprensa livre é um atentado contra a democracia e transparência na aplicação dos recursos públicos”.
Ainda em nota, o veículo de comunicação informou que “proporá as medidas judiciais cabíveis e aguarda as provas de que seu proprietário tenta extorquir ou roubar dinheiro público”.
A Abraji entrou em contato com a assessoria de comunicação da prefeitura de Manaus, que até a publicação desta reportagem não havia se manifestado sobre o caso.
Foto de capa: Prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), reage à pergunta da repórter Gabriela Alves. Reprodução/Facebook