- 14.07
- 2005
- 12:40
- MarceloSoares
Por trás da União, nem todos os moradores têm vez
PÂMELA LEE HAMER e TATIANA VITTA - REPÓRTER DO FUTURO
Entre casas desalinhadas, com pintura gasta ou mesmo de tijolo, um prédio foge à regra. É a União de Moradores da Cidade Júlia, construída em 16 de março de 1982, que, ao contrário das moradias do bairro, é um prédio alto e com muitos recursos, como quadra de esportes, refeitório, salas de estudo e cozinha para atender, pelo menos, 50 pessoas.
Com características como essas, a Associação seria como as demais ou até melhor se não fosse por um motivo. As pessoas da região reclamam que a Instituição é para os moradores só no nome, porque, por trás, oferece cursos e serviços que a comunidade não tem acesso ou dinheiro para pagar e não disponibiliza as instalações para todos.
A comerciante Maria Estela da Silva Nunes é uma das vozes mais ouvidas no coro dos descontentes com a União. Moradora do bairro há 18 anos, ela diz ter acompanhado a Instituição quase desde o início, mas acredita não ter visto, ainda, os benefícios para a comunidade. “Isso aí era para ser para a gente, povão, e não está sendo. A União de moradores fica fechada direto”, diz Maria.
Na verdade, o local é aberto de segunda a sexta, das 7h00 às 18h00, e oferece três cursos de preparação. O Primeiras Letras é dividido em três estágios, sendo que o último corresponde ao pré, e atende 75 crianças de 3 a 6 anos, das 15h00 às 17h00. O Cres-cer é direcionado a 56 crianças de 7 a 10 anos e funciona das 13h00 às 16h00. E o Preparação para o Trabalho (PPT), para 50 jovens de 15 anos e meio a 21 anos e 11 meses.
Além disso, há um trabalho com a prefeitura para disponibilizar Internet, por 30 minutos, para as pessoas que se cadastrarem, através do Infocentro, localizado na calçada de frente para a União de Moradores da Cidade Júlia.
Mas a reclamação dos moradores não é a falta de cursos, e sim o valor cobrado. Para o Primeiras Letras, são R$ 40,00; para o Cres-cer, R$ 16,00 (sendo R$ 6,00 para pagar a carne da merenda) e para o PPT, R$ 15,00. Os valores podem ser considerados baixos para quem tem dinheiro para investir, mas muito altos para quem sustenta uma família de cerca de 6 pessoas, às vezes, apenas com um salário mínimo, como na Cidade Júlia.
“Aqui, ninguém pode pagar esse tipo de coisa não, e quem paga, às vezes, tira até da boca. Eu tenho quatro crianças aqui, e se for pagar, são R$ 40,00 por criança, não dá, mesmo porque eu tenho duas crianças que estudam na Igreja dos padres, não pagam nada e ficam o dia inteiro”, ressalta Maria.
De acordo com o presidente da União de Moradores, Luiz Gonçalves da Silva, as críticas não são válidas, porque a Associação é feita para a comunidade, em todos os detalhes. “O valor cobrado não é muito, porque, em Diadema, são duas vezes por semana, paga R$ 70,00 e não aprende nada. Tem moleques que chegaram aqui e não sabiam nem ligar o computador”, afirma.
Além disso, parte da política adotada pela Instituição se deve ao convênio de comodato com a Ação da Cidadania, do bairro de Campo Limpo, que mensalmente, distribui cerca de R$ 250,00 para complementar o salário dos professores, que ganham R$ 16,80 por aluno na União de Moradores, e ajudar a Instituição. “A Ação trabalha em cima disso, mas não intervém nos trabalhos. Se eu quiser botar um projeto, além do deles, a gente pode sim”, explica Luiz.
Mesmo assim, as críticas continuam. “Quando foi construído isso aí, eu, minha filha e meu marido estávamos desempregados, e eu perguntei para uma pessoa se para conseguir fazer alguma coisa lá eu tinha que ter um concurso, e ela disse que sim. Só que ninguém que trabalha aí tem concurso”, acrescenta Maria.
Mas, segundo Silva, os funcionários não são concursados. Muitos moradores vão pedir emprego, mas como o trabalho é feito com crianças, os contratados precisam ter uma certa experiência, o que não se aplica aos voluntários.
Outra manifestação da comunidade é pela abertura das quadras aos finais de semana que, de acordo com Maria, havia sido prometida há muito tempo e não é feita. Segundo Luiz, porque estão sendo usadas ”só para o trabalho da própria escola e, se começar a enfiar muita gente de fora, vai dar enxame”.
Se de um lado os moradores querem mais benefícios, de outro, a Associação quer os moradores mais inseridos no projeto. Como fazer isso e resolver o impasse é o que ainda precisa ser acertado, mesmo porque as duas partes ainda não pararam para conversar.
Para melhorar esse contato, Luiz quer implantar uma creche na Associação e criar cursos mais voltados para a população da Cidade Júlia a preços mais acessíveis, como um curso para a formação de cabeleireiros e continuar com a distribuição de leite para os moradores cadastrados, realizada duas vezes na semana.
”A gente já está encaminhando os documentos da creche para a prefeitura e até o final do ano pode ser que já tenha o convênio. Se cada bairro fizesse isso, as coisas seriam diferentes. Tem bairro que distribui cesta para incentivar as pessoas a votar no político. Aqui, se a pessoa pergunta se tem algum político ajudando, a gente fala, mas não fica agitando para a pessoa votar nele”, afirma Silva.
Entre casas desalinhadas, com pintura gasta ou mesmo de tijolo, um prédio foge à regra. É a União de Moradores da Cidade Júlia, construída em 16 de março de 1982, que, ao contrário das moradias do bairro, é um prédio alto e com muitos recursos, como quadra de esportes, refeitório, salas de estudo e cozinha para atender, pelo menos, 50 pessoas.
Com características como essas, a Associação seria como as demais ou até melhor se não fosse por um motivo. As pessoas da região reclamam que a Instituição é para os moradores só no nome, porque, por trás, oferece cursos e serviços que a comunidade não tem acesso ou dinheiro para pagar e não disponibiliza as instalações para todos.
A comerciante Maria Estela da Silva Nunes é uma das vozes mais ouvidas no coro dos descontentes com a União. Moradora do bairro há 18 anos, ela diz ter acompanhado a Instituição quase desde o início, mas acredita não ter visto, ainda, os benefícios para a comunidade. “Isso aí era para ser para a gente, povão, e não está sendo. A União de moradores fica fechada direto”, diz Maria.
Na verdade, o local é aberto de segunda a sexta, das 7h00 às 18h00, e oferece três cursos de preparação. O Primeiras Letras é dividido em três estágios, sendo que o último corresponde ao pré, e atende 75 crianças de 3 a 6 anos, das 15h00 às 17h00. O Cres-cer é direcionado a 56 crianças de 7 a 10 anos e funciona das 13h00 às 16h00. E o Preparação para o Trabalho (PPT), para 50 jovens de 15 anos e meio a 21 anos e 11 meses.
Além disso, há um trabalho com a prefeitura para disponibilizar Internet, por 30 minutos, para as pessoas que se cadastrarem, através do Infocentro, localizado na calçada de frente para a União de Moradores da Cidade Júlia.
Mas a reclamação dos moradores não é a falta de cursos, e sim o valor cobrado. Para o Primeiras Letras, são R$ 40,00; para o Cres-cer, R$ 16,00 (sendo R$ 6,00 para pagar a carne da merenda) e para o PPT, R$ 15,00. Os valores podem ser considerados baixos para quem tem dinheiro para investir, mas muito altos para quem sustenta uma família de cerca de 6 pessoas, às vezes, apenas com um salário mínimo, como na Cidade Júlia.
“Aqui, ninguém pode pagar esse tipo de coisa não, e quem paga, às vezes, tira até da boca. Eu tenho quatro crianças aqui, e se for pagar, são R$ 40,00 por criança, não dá, mesmo porque eu tenho duas crianças que estudam na Igreja dos padres, não pagam nada e ficam o dia inteiro”, ressalta Maria.
De acordo com o presidente da União de Moradores, Luiz Gonçalves da Silva, as críticas não são válidas, porque a Associação é feita para a comunidade, em todos os detalhes. “O valor cobrado não é muito, porque, em Diadema, são duas vezes por semana, paga R$ 70,00 e não aprende nada. Tem moleques que chegaram aqui e não sabiam nem ligar o computador”, afirma.
Além disso, parte da política adotada pela Instituição se deve ao convênio de comodato com a Ação da Cidadania, do bairro de Campo Limpo, que mensalmente, distribui cerca de R$ 250,00 para complementar o salário dos professores, que ganham R$ 16,80 por aluno na União de Moradores, e ajudar a Instituição. “A Ação trabalha em cima disso, mas não intervém nos trabalhos. Se eu quiser botar um projeto, além do deles, a gente pode sim”, explica Luiz.
Mesmo assim, as críticas continuam. “Quando foi construído isso aí, eu, minha filha e meu marido estávamos desempregados, e eu perguntei para uma pessoa se para conseguir fazer alguma coisa lá eu tinha que ter um concurso, e ela disse que sim. Só que ninguém que trabalha aí tem concurso”, acrescenta Maria.
Mas, segundo Silva, os funcionários não são concursados. Muitos moradores vão pedir emprego, mas como o trabalho é feito com crianças, os contratados precisam ter uma certa experiência, o que não se aplica aos voluntários.
Outra manifestação da comunidade é pela abertura das quadras aos finais de semana que, de acordo com Maria, havia sido prometida há muito tempo e não é feita. Segundo Luiz, porque estão sendo usadas ”só para o trabalho da própria escola e, se começar a enfiar muita gente de fora, vai dar enxame”.
Se de um lado os moradores querem mais benefícios, de outro, a Associação quer os moradores mais inseridos no projeto. Como fazer isso e resolver o impasse é o que ainda precisa ser acertado, mesmo porque as duas partes ainda não pararam para conversar.
Para melhorar esse contato, Luiz quer implantar uma creche na Associação e criar cursos mais voltados para a população da Cidade Júlia a preços mais acessíveis, como um curso para a formação de cabeleireiros e continuar com a distribuição de leite para os moradores cadastrados, realizada duas vezes na semana.
”A gente já está encaminhando os documentos da creche para a prefeitura e até o final do ano pode ser que já tenha o convênio. Se cada bairro fizesse isso, as coisas seriam diferentes. Tem bairro que distribui cesta para incentivar as pessoas a votar no político. Aqui, se a pessoa pergunta se tem algum político ajudando, a gente fala, mas não fica agitando para a pessoa votar nele”, afirma Silva.