- 19.06
- 2020
- 16:00
- Abraji
Liberdade de expressão
Polícia paraense faz busca e apreensão na casa de jornalista, mas não esclarece motivo
Foto: Registro de como ficou a casa de Ronaldo Brasiliense após a entrada da polícia (Arquivo Pessoal)
Na terça-feira (16.jun.2020), a Polícia Civil no Pará cumpriu mandado de busca e apreensão na casa do jornalista Ronaldo Brasiliense, no município de Óbidos, no oeste do estado, a 800 quilômetros da capital, Belém. Os policiais levaram documentos, celular e dois computadores do profissional, sem informar qual inquérito resultou na operação.
Ronaldo Brasiliense, jornalista com mais de 40 anos de experiência, com passagens por grandes jornais e dois Prêmios Esso no currículo, é proprietário do site de notícias Portal da Amazônia.
Segundo Brasiliense, durante o recolhimento dos objetos, os agentes chegaram a ler os termos do mandado assinado pelo juiz Heyder Tavares da Silva Ferreira, titular da primeira Vara de Inquéritos Policiais e Medidas Cautelares de Belém. Mas não mencionaram em qual investigação o jornalista estava envolvido.
Três dias depois da ação, o jornalista ainda não tinha conseguido resgatar suas ferramentas de trabalho. Ele afirma ter sido vítima de perseguição por parte do governador Helder Barbalho, do MDB, embora não tenha apresentado provas.
“É pura retaliação e perseguição política. Levaram meus instrumentos de trabalho, e preciso deles para trabalhar. Sem contar o constrangimento de ter policiais invadindo a sua casa”, afirmou Brasiliense.
A assessoria de imprensa do governador informou à Abraji que o inquérito corre sob sigilo e que o jornalista foi comunicado do motivo. Brasiliense nega.
A Polícia Civil do Pará confirmou ter realizado a operação em cumprimento a uma decisão judicial e que qualquer esclarecimento sobre a ação deve ser direcionado à Justiça.
A abertura de processos contra profissionais de imprensa, caso tenha havido crime tipificado em lei, faz parte do estado democrático de direito. Mas as entidades jornalísticas têm receio de que a ação pode ser uma tentativa de intimidação.
O Sindicato dos Jornalistas do Pará e a Federação Nacional dos Jornalistas emitiram uma nota pública em repúdio à atuação das forças de seguranças do Estado.
Para o presidente da Abraji, Marcelo Träsel, os motivos que levaram à operação na casa do jornalista devem ser esclarecidos, para dissipar quaisquer dúvidas sobre a validade e lisura das investigações.