- 21.08
- 2020
- 18:37
- Abraji
Liberdade de expressão
PMs que espancaram jornalistas no RS são indiciados por abuso de autoridade e agressão
foto: reprodução da imagem do delegado Valeriano Garcia Neto/Em Questão.
A Polícia Civil de Alegrete, no Rio Grande do Sul, indiciou dois PMs por agressão e abuso de autoridade no caso envolvendo o espancamento de dois profissionais de imprensa. Em jun.2020, o repórter free lancer Alex Stanrlei e o diretor do jornal Em Questão, Paulo de Tarso Pereira, ficaram feridos depois de serem abordados por integrantes da Brigada Militar. Uma aspirante do Exército também foi indiciada por omissão de socorro.
O delegado Valeriano Garcia Neto, que presidiu o inquérito, disse que agora a investigação seguirá para o Ministério Público de Alegrete, que fica a 500 quilômetros de Porto Alegre.
A investigação criminal ocorre paralelamente ao inquérito instaurado pela Brigada Militar. Procurada, a Brigada Militar informa que o inquérito policial militar (IPM) que apura o caso ainda não foi encerrado e novas diligências foram solicitadas pelo comando do 2° RPMon. Assim que as investigações forem concluídas o seu resultado será divulgado.
Para Tarso Pereira, a população tem o direito garantido constitucionalmente de ser informada. “Não podemos recuar nenhum milímetro nesse sentido. É reconfortante saber que podemos confiar em policiais independentes, como os que estão à frente desse inquérito.”
Em 22.jun.2020, a Abraji emitiu nota sobre o caso e lembrou que intimidar jornalistas — sobretudo com o uso da força — constitui abuso de poder, fere a liberdade de imprensa e enfraquece a democracia.
Relembre o caso
Na noite de 18.jun.2020, o repórter Alex Stanrlei e o jornalista Paulo de Tarso Pereira foram alertados sobre uma denúncia envolvendo roubo de gado em uma fazenda do Exército, na cidade de Rosário do Sul, a 100 quilômetros de Alegrete. Stanrlei foi a campo e fotografou um caminhão boiadeiro parado na frente da Delegacia de Plantão e Pronto Atendimento de Alegrete. Logo depois, foi abordado por uma oficial e um soldado da Brigada Militar de Rosário do Sul.
A discussão começou quando o repórter foi informado de que deveria apagar a imagem. O jornalista se desfez do registro, mas decidiu entrar ao vivo pelas redes sociais para falar sobre a denúncia, sem, contudo, mostrar o caminhão.
A polícia pediu que Stanrlei apresentasse um documento que o identificasse como jornalista. Como alegou ter esquecido os documentos em casa, pediu que fosse firmado com a PM um termo de boa-fé até que algum familiar aparecesse com os documentos, ou mesmo o diretor do jornal Em Questão ajudasse a identificá-lo. A negociação não foi aceita, e os policiais passaram a agredi-lo.
Paulo de Tarso Pereira afirmou à Abraji que, ao chegar à delegacia e ver o repórter no chão, algemado, ainda sendo agredido, passou a gravar a abordagem. Ele relata que a partir desse momento atos mais graves começaram: um PM o agarrou pelo pescoço, depois o chutou e o derrubou. Stanrlei foi arrastado e teve a mão pisoteada. Ambos tiveram celulares confiscados.
Foto: Em Questão