• 13.07
  • 2009
  • 10:48
  • Gabriel Ferreira/ Projeto Repórter do Futuro

Para Eliane Brum, jornalismo não precisa se basear em grandes fatos, mas em grandes histórias

“O mundo é bom. Só é mal frequentado.” A afirmação com jeito de ensinamento de poeta foi um dos muitos aprendizados conquistados por Eliane Brum em seus mais de vinte anos de jornalismo. Ela é uma repórter de “desacontecimentos”, como ela mesma gosta de se definir. O autor da frase é um morador de rua conhecido em Porto Alegre como Homem Sapo. Ele, assim como muitos outros personagens das matérias escritas por Eliane, é um “invisível”. Suas decisões não repercutem nos jornais, sua vida não frequenta as páginas de revistas de fofoca, seus amores e desamores não fazem parte da preocupação de praticamente ninguém além dele próprio. Mas é justamente nessas pessoas “comuns” que Eliane consegue encontrar histórias que envolvem o leitor e sempre levam a algum tipo de reflexão.

Eliane Brum participou, na tarde do sábado 11 de julho, do 4º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, realizado pela ABRAJI e pela Universidade Anhembi Morumbi. Durante a palestra “O olhar e a escuta: jornalismo sobre a extraordinária vida comum”, Eliane usou algumas das histórias com que teve contato durante seus vinte anos de profissão para fazer a defesa de sua tese de que o jornalista, apesar das pressões recebidas, deve sempre buscar o contato pessoal com seus entrevistados, evitando ao máximo apurar suas reportagens por e-mail ou telefone. “Escutar é mais que ouvir”, disse, lembrando que o telefone não mostra sorrisos, lágrimas, cores ou texturas.

Vencedora de mais de quarenta prêmios de reportagem, como o Esso e o Vladimir Herzog, Eliane garante que para construir um bom texto é necessário que o jornalista não tenha preguiça. Ele precisa apurar cada detalhe de sua história e não pode perder a oportunidade de encontrar bons personagens. Ao encontrar essas pessoas, mais do que saber fazer as perguntas corretas é fundamental saber ouvir o que elas têm a dizer. Como exemplo, cita uma reportagem recente em que, ao entrevistar um casal de lésbicas, fez apenas uma intervenção, deixando que, depois disso, elas conduzissem o assunto da forma que fosse mais confortável para elas.

Sobre o termo que usa para definir os assuntos de seus textos, os “desacontecimentos”, Eliane explica que eles são coisas que se repetem de forma constante, que são comuns. Para exemplificar, ela diz que se interessa “muito mais pelos pais que não atiram seus filhos pela janela”. Encontrar esses casos comuns, no entanto, exige que o jornalista tenha o cuidado de se precaver para não cegar com a catarata em que, muitas vezes, se converte o cotidiano.

Assinatura Abraji