- 16.02
- 2011
- 04:28
- UIRÁ MACHADO
Para comitê, censura está em um nível preocupante
Reportagem publicada na "Folha de S.Paulo" em 16 de fevereiro de 2011:
Os casos de censura à imprensa na América Latina estão nos níveis mais altos desde a redemocratização, afirma Carlos Lauría, coordenador do CPJ (Comitê para Proteção de Jornalistas).
Segundo Lauría, responsável pela apresentação do relatório "Ataques à Imprensa em 2010", divulgado ontem, a situação é preocupante em vários países da região.
"Houve um aumento significativo dos casos de censura em todo o continente, seja por censura judicial, seja pela violência do crime organizado, seja por pressão do Estado", diz Lauría.
De acordo com ele, o principal problema no Brasil é a censura judicial, embora tenha dito que existam outros problemas, como a pressão política sobre veículos de comunicação e ameaças do crime, "sobretudo de traficantes de droga".
O caso mais emblemático é o do jornal "O Estado de S. Paulo", proibido de publicar reportagens que contenham informações da Operação Faktor (antiga Boi Barrica) que envolve familiares de José Sarney (PMDB-AP).
O relatório, que traz um levantamento global sobre o estado da liberdade de imprensa, menciona 44 jornalistas mortos no exercício da profissão e 145 presos. Segundo Lauría, é o maior número nos últimos 15 anos.
Apresentado ontem em diversos países no mundo inteiro (no Brasil, com o apoio da Abraji -Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), o relatório do CPJ é considerado pela entidade um mecanismo para ajudar nas discussões sobre a liberdade de imprensa.
"Quando há censura, não é um problema da imprensa, mas um problema de toda a sociedade", disse Lauría.
O representante do CPJ deve se reunir hoje com Cezar Peluso, presidente do Supremo Tribunal Federal, e com ministros de Estado para discutir os dados do relatório.
OUTROS PAÍSES
O relatório apresentado ontem por Lauría traz outros dados sobre a situação da imprensa na América Latina.
Para o CPJ, a situação é particularmente preocupante em Honduras, onde nove jornalistas teriam sido assassinados no exercício da profissão só no ano passado.
Lauría também cita o México e a Venezuela como dois exemplos negativos. No primeiro caso, por causa das crescentes ameaças do crime organizado, e, no segundo, devido à pressão do Estado.
"[No Brasil] houve uma relação muito ríspida entre imprensa e governo nas eleições, mas é normal, o governante tem o direito de falar. O que não pode é passar à ação, como fez [Hugo] Chávez [na Venezuela]", disse.