- 18.01
- 2005
- 16:41
- MarceloSoares
Para Barbara Crossette, problemas de apuração levam à falta de credibilidade
DO MASTER EM JORNALISMO PARA EDITORES
São Paulo (SP) - "Os jornalistas americanos tiveram 200 anos para se desenvolver, amparados pela Primeira Emenda da Constituição, que garante a liberdade de imprensa. Poderosa demais, a mídia acabou se distanciando da sociedade e por isso perde audiência continuamente". A constatação é da jornalista americana Barbara Crossette, durante palestra na terça-feira, 18/01, na sede da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), localizada na Rua Rego Freitas, 458/8º, bem próxima ao Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, no Centro da capital paulista.
Esta liberdade permitiu o nascimento do jornalismo investigativo nos Estados Unidos no início do século 19. O aprofundamento do trabalho jornalístico teve papel fundamental no desfecho da Guerra do Vietnã, quando começaram a ser denunciados os abusos cometidos pela tropas americanas contra os vietcongs e a população local. "Mas o problema da mídia foi ter muito poder, o que a afastou do público", reitera.
Barbara trabalhou 30 anos no The New York Times, onde foi chefe dos correspondentes do jornal na Ásia e nas Nações Unidas. Desde 2001, escreve para o UN Wire, serviço de notícias da ONU. Com sua experiência, fez uma breve análise das pesquisas que detectaram a queda na credibilidade da imprensa de seu país, sobretudo após as falhas na cobertura durante a Guerra do Iraque. "Os jornais foram rejeitados pelos leitores por fatos como esse. No movimento inverso, a internet cresceu. A meu ver, isto não é bom porque nesta mídia há muita opinião, muito fato e muito boato".
O "mundo 24 horas" traz prejuízos à informação, que sofre com a falta de precisão por conta da rapidez da internet. Barbara cita como exemplo os diplomatas com quem convive na ONU. Se antes a rotina terminava às 11h da noite com algum jantar e só recomeçava na manhã seguinte, agora são freqüentemente acordados de madrugada pelo telefone. Do outro lado da linha, a célebre frase: "Vi isso na internet".
"O problema não é a tecnologia, mas a cultura da informação. A diplomacia, por exemplo, conseguia atender aos jornalistas em determinado momento do dia e pronto. Hoje, têm de correr atrás das versões de uma mesma informação, que mudam o tempo todo", afirma.
Para reconquistar a credibilidade perdida, os jornais americanos estão tomando algumas providências. O maior deles, o New York Times, instalou um Comitê de Credibilidade para estudar situações que possam provocar novos abalos em sua já arranhada imagem. O episódio Jayson Blair - repórter que inventou várias reportagens até ser descoberto - é freqüentemente lembrado quando se fala no assunto.
Como reflexo do que acontece de maneira global, nas pequenas cidades americanas o problema dos jornalistas que se dedicam a ir fundo em suas matérias é o desafio ao poder econômico, conta Barbara. Tomou como exemplo uma região onde o setor de transportes tem muita força. "Ninguém quer ser questionado sobre danos ao meio ambiente. Se algum jornalista faz isso, o dono da fábrica se queixa ao editor, de quem é amigo. O editor, por sua vez, tenta relativizar a situação porque ninguém quer perder dinheiro", conclui.
Tsunami - Barbara, que veio ao Brasil em um programa de treinamento promovido pelo International Center For Journalists (ICFJ), com atividades vinculadas à Abraji, comentou a cobertura dos jornais brasileiros da tragédia na Ásia. Ela observou um nível de informação gráfica bastante alto, com muitas fotos e infográficos, trabalho muito parecido com os dos diários americanos. "Brasil e EUA têm em comum o fato de serem duas culturas muito visuais", finalizou.
São Paulo (SP) - "Os jornalistas americanos tiveram 200 anos para se desenvolver, amparados pela Primeira Emenda da Constituição, que garante a liberdade de imprensa. Poderosa demais, a mídia acabou se distanciando da sociedade e por isso perde audiência continuamente". A constatação é da jornalista americana Barbara Crossette, durante palestra na terça-feira, 18/01, na sede da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), localizada na Rua Rego Freitas, 458/8º, bem próxima ao Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, no Centro da capital paulista.
Esta liberdade permitiu o nascimento do jornalismo investigativo nos Estados Unidos no início do século 19. O aprofundamento do trabalho jornalístico teve papel fundamental no desfecho da Guerra do Vietnã, quando começaram a ser denunciados os abusos cometidos pela tropas americanas contra os vietcongs e a população local. "Mas o problema da mídia foi ter muito poder, o que a afastou do público", reitera.
Barbara trabalhou 30 anos no The New York Times, onde foi chefe dos correspondentes do jornal na Ásia e nas Nações Unidas. Desde 2001, escreve para o UN Wire, serviço de notícias da ONU. Com sua experiência, fez uma breve análise das pesquisas que detectaram a queda na credibilidade da imprensa de seu país, sobretudo após as falhas na cobertura durante a Guerra do Iraque. "Os jornais foram rejeitados pelos leitores por fatos como esse. No movimento inverso, a internet cresceu. A meu ver, isto não é bom porque nesta mídia há muita opinião, muito fato e muito boato".
O "mundo 24 horas" traz prejuízos à informação, que sofre com a falta de precisão por conta da rapidez da internet. Barbara cita como exemplo os diplomatas com quem convive na ONU. Se antes a rotina terminava às 11h da noite com algum jantar e só recomeçava na manhã seguinte, agora são freqüentemente acordados de madrugada pelo telefone. Do outro lado da linha, a célebre frase: "Vi isso na internet".
"O problema não é a tecnologia, mas a cultura da informação. A diplomacia, por exemplo, conseguia atender aos jornalistas em determinado momento do dia e pronto. Hoje, têm de correr atrás das versões de uma mesma informação, que mudam o tempo todo", afirma.
Para reconquistar a credibilidade perdida, os jornais americanos estão tomando algumas providências. O maior deles, o New York Times, instalou um Comitê de Credibilidade para estudar situações que possam provocar novos abalos em sua já arranhada imagem. O episódio Jayson Blair - repórter que inventou várias reportagens até ser descoberto - é freqüentemente lembrado quando se fala no assunto.
Como reflexo do que acontece de maneira global, nas pequenas cidades americanas o problema dos jornalistas que se dedicam a ir fundo em suas matérias é o desafio ao poder econômico, conta Barbara. Tomou como exemplo uma região onde o setor de transportes tem muita força. "Ninguém quer ser questionado sobre danos ao meio ambiente. Se algum jornalista faz isso, o dono da fábrica se queixa ao editor, de quem é amigo. O editor, por sua vez, tenta relativizar a situação porque ninguém quer perder dinheiro", conclui.
Tsunami - Barbara, que veio ao Brasil em um programa de treinamento promovido pelo International Center For Journalists (ICFJ), com atividades vinculadas à Abraji, comentou a cobertura dos jornais brasileiros da tragédia na Ásia. Ela observou um nível de informação gráfica bastante alto, com muitas fotos e infográficos, trabalho muito parecido com os dos diários americanos. "Brasil e EUA têm em comum o fato de serem duas culturas muito visuais", finalizou.