- 03.06
- 2022
- 14:32
- Abraji
Liberdade de expressão
Os eventos que marcaram os 20 anos da morte de Tim Lopes
Nesta última quinta-feira, em 2.jun.2022, foram realizados eventos organizados pela Abraji e outras instituições para homenagear o jornalista Tim Lopes e marcar os 20 anos do seu assassinato. O jornalista foi sequestrado, torturado e executado por traficantes, no Complexo do Alemão, quando produzia uma reportagem no local. Na época, os jornalistas se uniram para discutir segurança e jornalismo investigativo e, poucos meses depois, foi criada a Abraji.
Entre os eventos, foi feita uma instalação na Cinelândia, em frente à Câmara dos Vereadores. Nos painéis, fotos do jornalista que relembravam sua carreira. Também foi exposto um texto de Alexandre Medeiros, jornalista e escritor, amigo de Tim Lopes.
"A denúncia de más condições de vida da população de baixa renda, sobretudo de crianças e adolescentes, a correção de injustiças, o acesso à educação e a garantia dos direitos humanos são marcas do trabalho de Tim Lopes por todas as redações pelas quais passou — ele atuou também na revista Placar e nos jornais O Globo e Folha de S.Paulo. E permanecem como um legado do jornalista. Tim Lopes vive!”, escreveu Medeiros.
Crédito: Tânia Lopes
Crédito: Tânia Lopes
Também foi realizada uma cerimônia religiosa no Santuário Cristo Redentor, situado na estrada para o Corcovado. A liturgia foi lida pelo padre Omar, reitor do templo, e celebrada em conjunto com frei David, diretor executivo da Educafro.
Foto: Da esquerda para direita: Frei David e Padre Omar. Crédito: Angelina Nunes
Foto: Família e amigos de Tim Lopes assistem a missa. Crédito: Nando Neves / SINDJORPMERJ
Foto: Família, amigos de Tim Lopes. Crédito: Nando Neves / SINDJORPMRJ
Foto: Bruno Quintella, filho de Tim Lopes, segura a imagem de Nossa Senhora Aparecida, na pequena caminhada saindo da capela para os pés do Cristo Redentor. Crédito: Nando Neves / SINDJORPMRJ
Em entrevista ao programa Bom Dia Rio desta quinta-feira, Tânia Lopes, irmã do jornalista assassinado, afirmou que a data de 2.jun significa a mutilação da sua família. “A marca de uma mutilação profissional também para o jornalismo brasileiro. Não podemos deixar de homenagear, não podemos esquecer. E aqui, aos pés do Cristo Redentor, estaremos em oração pelo Tim”, ela afirmou. Tânia também falou sobre a relação do irmão com a família e o seu legado: “Um homem alegre, afetuoso, preocupado com a família. Era um homem excepcional. O Tim com seu trabalho de fazer acontecer, de estar nos espaços onde estão os desassistidos, onde estão as pessoas à margem da sociedade, sofridas, ele estava lá. O legado dele é trazer a justiça social para o país”.
No final da tarde, foi realizada uma cerimônia na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em parceria com a Abraji, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ). O encontro ocorreu no auditório da ABI, no Rio. A Abraji foi representada por Gabriela Moreira, conselheira fiscal da organização. O evento teve transmissão ao vivo para o canal ABITV, no YouTube.
"Parem de nos matar”. Com essa frase, o conselheiro da ABI Marcos Gomes iniciou o encontro para chamar atenção contra os ataques ocorridos com jornalistas em todo o país. Na apresentação de Gabriela Moreira, da Abraji, a jornalista afirmou que se inspirou no trabalho de Tim Lopes quando iniciou na profissão: “O legado de Tim Lopes é gigantesco, mas o cenário ao qual levou a morte dele ainda é presente e se multiplicou”.
Foto: Reprodução ABITV Youtube
Ela também mostrou dados do Voces del Sur, uma rede de entidades ligadas ao jornalismo na América Latina, que, em parceria com a Abraji, faz um monitoramento das agressões aos jornalistas brasileiros. De janeiro a abril deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, houve um crescimento de 26,9% no número de ataques. Foram 151 episódios contendo agressões físicas ou verbais. A jornalista também chamou atenção para o crescimento do jornalismo investigativo brasileiro: “A voz de Tim Lopes, eu não tenho dúvidas, se multiplicou e vai continuar se multiplicando pelo país”.
Samira Castro, vice-presidente da FENAJ, reforçou que as autoridades brasileiras precisam trabalhar para o livre exercício da profissão dos jornalistas. “Continuar a luta de Tim por um jornalismo livre e a serviço dos direitos humanos não é uma opção para nós! É uma obrigação de todos os jornalistas e de toda a sociedade!”, ela afirmou.
Foto: Reprodução ABITV Youtube
A Diretora do SJPMRJ, Carmen Pereira, em entrevista à Abraji, afirmou que, neste momento, em que os jornalistas têm relação precarizada de trabalho, é fundamental resgatar Tim Lopes na memória das pessoas, especialmente para os profissionais mais jovens. “Me lembro que o Tim sempre foi um profissional preocupado com sua categoria. Ele sempre esteve presente no sindicato. Ele deixou esse legado. Foi um profissional de primeira linha que fez matérias com grande responsabilidade. É importante que as novas gerações saibam disso”, afirmou.
Presente na ABI, Frei David relembrou o jornalista assassinado, de quem era amigo. “Foi um amigão de causas e de pautas. Foi grande parceiro das pautas do povo afro-brasileiro. E ele fez várias demandas ligadas ao nosso povo”. O religioso também contou que, cada vez em que saía uma matéria de Lopes no Fantástico, ele recebia uma ligação do jornalista. “‘E eu, que sabia que ele ia me ligar, sempre preparava uma proposta de pauta para uma nova matéria. Ele tinha plena consciência de que era a voz dos sem vozes”, explicou.
Foto: Reprodução ABITV Youtube
O legado de Tim Lopes também foi tema do quadro Conteúdo sem fronteiras, que faz parte do podcast Jornalismo sem trégua, do Programa Tim Lopes, que publicou um episódio especial. Os dois convidados para o podcast foram o jornalista, produtor e roteirista Bruno Quintella, filho de Tim Lopes, e Alexandre Medeiros.
No episódio, Quintella considera que seu pai ficou conhecido pelo modo como observava a diversidade nas redações e nas pautas em que trabalhou. “Ele chegava para as pessoas e falava: ‘Aqui, nessa redação, preto anda de cabeça erguida’. Já começava a chegar dessa forma, assim é que ele recebia as pessoas”, explicou. Já Medeiros disse acreditar que um dos legados de Tim Lopes para o jornalismo são suas habilidades profissionais. “A coisa de você conseguir circular, antever as coisas, e pautar a si mesmo. Era uma coisa que ele sabia fazer como ninguém”, afirmou.
O assassinato do jornalista Tim Lopes também foi o abordado na primeira temporada do podcast Jornalismo sem Trégua, que relata as investigações policiais, a caçada de 109 dias ao mandante do assassinato, o traficante Elias Maluco, e o julgamento dos acusados. Jornalismo sem trégua e Conteúdo sem fronteiras estão disponíveis no Spotify e em todos os aplicativos que reproduzem podcast, incluindo o perfil da Abraji no YouTube.
O Programa Tim Lopes
Em 2017, a Abraji criou o Programa Tim Lopes para acompanhar casos de assassinatos de jornalistas brasileiros no exercício da profissão. Hoje, há quatro casos sob acompanhamento. O Programa Tim Lopes tem financiamento da Open Society Foundations e é coordenado por Angelina Nunes, ex-presidente da Abraji.