- 23.11
- 2022
- 18:30
- Abraji
Liberdade de expressão
Organizações de imprensa acionam autoridades locais para investigar mais de 60 ataques a jornalistas
Diante do crescimento exponencial de agressões e ameaças a jornalistas que acompanham as manifestações antidemocráticas em todo o país, entidades nacionais de imprensa acionaram as autoridades locais para cobrar mais segurança e investigação da autoria dos ataques. As petições são assinadas pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e Instituto Tornavoz, que oferecem apoio jurídico para o pleno exercício da liberdade de imprensa.
Os documentos estão sendo remetidos às autoridades locais e regionais de todos os estados onde foram registrados ataques, como Ministério Público, Secretaria de Segurança Pública do Estado e Superintendência Regional da Polícia Federal. São 54 ofícios em 18 estados. Desde o final do ano passado, a Abraji e demais organizações têm alertado para o crescimento da violência política, potencializada pelo discurso radicalizado da eleição.
Consideradas antidemocráticas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por negarem o resultado eleitoral e reivindicarem uma intervenção militar para manter o presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder, as manifestações têm perdido força diante de quartéis e em bloqueios de rodovias. No entanto, a violência desses grupos contra os jornalistas só tem aumentado.
Um levantamento feito pela Abraji em parceria com a Fenaj mostra que, desde 30 de outubro, quando se deu o resultado eleitoral, até esta quarta-feira (23.nov.2022), foram registrados 64 episódios que envolveram agressão física, ameaças de morte, expulsão de equipes dos locais públicos onde se davam os protestos e até um atentado a tiros contra a redação do site Rondônia Ao Vivo, em Porto Velho.
"Os ataques aos jornalistas preocupam cada vez mais porque escalam não só em quantidade, mas na gravidade das agressões e ameaças. As forças de segurança precisam dar o devido apoio ao trabalho jornalístico e garantir a liberdade de imprensa", afirmou a presidente da Abraji, Katia Brembatti.
No rastro do dinheiro das manifestações
Um dos casos registrados pela Abraji vem de Manaus e se trata de ameaças de morte à repórter Ívina Garcia, da Revista Cenarium. Desde que publicou uma reportagem exclusiva sobre e os financiadores dos atos antidemocráticos no estado, na sexta-feira passada (18.nov.2022), Garcia vem sendo alvo de ofensas, xingamentos e ameaças de morte.
No Boletim de Ocorrência registrado ontem (22.nov.2022), a jornalista reportou que vem sendo perseguida e ameaçada verbalmente por um grupo que dissemina ódio e quer cessar sua liberdade de imprensa. A Abraji teve acesso às mensagens violentas e não vai reproduzi-las aqui. Um perfil chama militantes de extrema direita a caçá-la, outros estendem as ameaças à família da repórter. Sob ameaça e tensão, ela teve de se afastar do trabalho por 10 dias.
Garcia flagrou, na quinta-feira passada (17.nov.2022), a entrega de uma das doações ao ato extremista em frente ao Comando Militar da Amazônia (CMA). Um manifestante dos movimentos considerados golpistas e inconstitucionais fornece água e refrigerante aos demais militantes que não aceitam a vitória do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A reportagem investigou os dados da placa do veículo e conseguiu identificar que o dono é um empresário do ramo de varejo. Cinco empresas aparecem envolvidas no patrocínios aos atos.
Outra jornalista que sofreu ameaças foi a repórter da TV Assembleia de Mato Grosso Deisy Boroviec. Ela registrou boletim de ocorrência na segunda-feira (21.nov.2022) em Cuiabá contra um homem que a ameaçou pelo Facebook.
"A Abraji se solidariza com Ívina Garcia, Deisy Boroviec e com todos os colegas agredidos nestas três últimas semanas e reafirma que está atenta ao combate à violência política e à elucidação desses casos", completou Brembatti.
Denuncie aqui
Em virtude da crescente e aparentemente incessante onda de violência política, a Abraji criou um formulário para que repórteres possam denunciar a agressão sofrida. Os dados pessoais coletados pelo formulário são sigilosos e todas as denúncias serão devidamente apuradas pela equipe da Abraji.