- 08.01
- 2018
- 16:09
- Mariana Gonçalves
Formação
Oficinas da Abraji nas periferias têm alto índice de aprovação
A avaliação dos estudantes do projeto “Jornalismo e Periferias”, realizado pela Abraji em quatro capitais brasileiras em parceria com veículos locais e com o Google News Lab, corrobora a sensação que tiveram instrutores e as pessoas que organizaram as oficinas após o encerramento das atividades, em dezembro. Segundo a jornalista e coordenadora do projeto, Carol Trevisan, quase todos os participantes dos treinamentos os classificaram como “muito bons”, conceito máximo entre as opções disponíveis em questionário.
No total, cerca de 80 estudantes participaram do projeto, divididos em turmas de 20 pessoas cada em oficinas no Recife, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. A maioria já trabalhava em veículos comunitários ou estava ligada a movimentos sociais, e todos viviam nas periferias das cidades. Além disso, muitos eram jovens e ainda estudantes. A participação nos treinamentos foi uma oportunidade de colocá-los, às vezes pela primeira vez, em contato com técnicas e práticas do jornalismo profissional.
É o que conta Daiene Mendes, uma das idealizadoras do projeto e coordenadora do Favela em Pauta, veículo de comunicação das favelas do Rio de Janeiro e parceiro da Abraji na organização do “Jornalismo e periferias” na capital fluminense. Apesar do interesse, Mendes nunca havia conseguido se inscrever nos cursos on-line da associação. As oficinas presenciais por meio do projeto apresentaram a ela e a outros dois jornalistas do veículo novas maneiras de pensar e executar suas reportagens. “As técnicas que aprendemos e as relações que formamos [no curso] só potencializaram o trabalho que já fazíamos em nosso território”, diz. “Agora, nossa cobertura pode ter muito mais força.”
Mais do que a capacitação, Mendes considera que o ponto alto do projeto foi a troca entre instrutores e estudantes. Isso porque muitas das práticas de jornalismo introduzidas no curso foram discutidas a partir de pautas sobre as próprias regiões onde os alunos viviam. Nesse sentido, as práticas e saberes dos comunicadores locais, que tinham maior domínio sobre os temas apresentados, complementaram o conteúdo das aulas.
“Foi um aprendizado para a equipe de professores”, reforça Trevisan. “Existem várias delicadezas que precisam ser consideradas ao produzir uma reportagem sobre o território em que o repórter vive. O conhecimento desse território faz com que o jornalista produza um material com um impacto enorme e, muitas vezes, com um olhar mais denso do que o de alguém que chega sem conhecer o local.”
Uma importante consequência dessa troca, diz a coordenadora, é o fortalecimento de vínculos entre profissionais de grandes redações e do jornalismo cidadão, que tem se tornado cada vez mais relevante. “Ao final [do projeto], temos uma rede de pelo menos 80 pessoas cujos olhares estão voltados para as pautas que mais interessam aos moradores das favelas e periferias”, afirma a jornalista.
Entre as sugestões para eventuais treinamentos no futuro, os estudantes pediram mais tempo para as aulas e espaço para discussões nas salas.
O projeto “Jornalismo e periferias” ocorreu nos dias 4 e 11 de novembro e 2 e 16 de dezembro de 2017. Estruturado em quatro módulos, ofereceu oficinas de fundamentos de reportagem, jornalismo de dados, Lei de Acesso à Informação e noções de segurança para jornalistas.
Além da Abraji e do Google News Lab, organizaram o projeto os grupos Periferia em Movimento, em São Paulo, Oficina de Imagens, em Belo Horizonte, Marco Zero, no Recife, e Favela em Pauta, no Rio de Janeiro. Os instrutores foram os jornalistas Carol Trevisan, Tiago Mali (Abraji), Marina Atoji (Abraji), Angelina Nunes (Abraji), Marcelo Beraba (Abraji), Renata Galf (Transparência Brasil), Marco Túlio Pires (Google News Lab), Guilherme Pimentel (Defezap), Eduardo Campbell (Defezap) e Lana Souza (Defezap).