• 30.09
  • 2011
  • 08:34
  • María Valerón

No Peru, assassinato de terceiro jornalista em 2011 revela fragilidade da imprensa

José Oquendo Reyes, diretor do programa “Sin Fronteras” da rede peruana BTV Canal 45, foi assassinado em 14 de setembro. O jornalista havia revelado casos de corrupção local que envolviam o prefeito de Chincha, Lucio Juárez Ochoa.

Reyes é o terceiro jornalista assassinado no Peru neste ano. Os casos de Pedro Alfonso Flores Silva e Julio Castillo Narváez, profissionais mortos nos dias 7 de setembro e 3 de maio, respectivamente, parecem ter semelhança com o homicídio de José Oquendo Reyes: todos eles haviam se dedicado a investigações de corrupção em âmbito local.

Pedro Alfonso Flores Silva revelou uma trama de corrupção em que estaria envolvido o prefeito de Comandante Noel, Marco Rivera Huerta. Ele recebeu ameaças durante três meses por causa do seu trabalho, segundo declarações da esposa do jornalista ao Instituto Prensa y Sociedad (IPYS) e à Asociación Nacional de Periodistas del Perú (ANP).

O homicídio de Julio Castillo Narváez aconteceu pouco depois de o jornalista denunciar o envolvimento de um conselheiro regional em um caso de corrupção imobiliária. Antes do crime, houve ataques aos escritórios da Radio Ollantay, veículo que primeiro divulgou as informações apuradas pelo jornalista. A rádio chegou a solicitar proteção policial, mas a petição foi ignorada. Depois do homicídio de Narváez, foram encontradas mensagens com ameaças na caixa postal de seu telefone. 

No caso de José Oquendo Reyes, morto no dia 14 de setembro, não houve ameaças, de acordo com declarações da esposa da vítima. Ainda assim, diversas organizações, como o Comitê para Proteção dos Jornalistas, apontam para a necessidade de “determinar se o crime está relacionado com o ofício de Oquendo Reyes”. Segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras, este acontecimento “é um sinal muito preocupante para os jornalistas investigativos que se atrevem a denunciar casos de corrupção, mesmo quando conhecem o risco de enfrentar as autoridades locais”.

Jornalismo ameaçado
Além da violência, o jornalismo no Peru encontra outra barreira: a penalização dos delitos de imprensa. Entidades como Repórteres Sem Fronteiras, Instituto de Prensa y Sociedad, Federación Internacional de Periodistas e Asociación Nacional de Periodistas del Perú têm alertado para a necessidade de modificar a legislação sobre crimes de difamação.

Um exemplo de como essas leis podem afetar o trabalho jornalístico é a pena aplicada ao diretor de um programa do canal Visión 47 TV. Paul Garay Ramírez foi condenado por difamação contra um promotor a 18 meses de prisão e pagamento de mais de US$ 7 mil de indenização. 

Ramírez já havia enfrentado anteriormente a classe política e a justiça quando, em 2004, revelou o envolvimento do ex-prefeito de Pucallpa, Luis Valdez Villacorta, no assassinato do jornalista Alberto Rivera Fernández. O motivo do crime teria sido uma reportagem apontando relações do prefeito com o narcotráfico.

Assinatura Abraji