No 46º Prêmio Vladimir Herzog, a lembrança dos 60 anos do golpe militar
  • 01.11
  • 2024
  • 11:44
  • Ramylle Freitas

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No 46º Prêmio Vladimir Herzog, a lembrança dos 60 anos do golpe militar

Trazendo debates, prêmios, homenagens e reflexões, o 46º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos realizou nesta terça-feira (29 de outubro) a 13ª roda de conversa e a solenidade da premiação. A Comissão Organizadora do Prêmio é composta por 17 organizações, incluindo a Abraji, ao lado da família Herzog.

A solenidade, que iniciou às 20h da última terça-feira 29, teve discursos de premiados e homenageados que destacaram os desafios enfrentados pela imprensa, bem como menções a casos emblemáticos de atos contra os direitos humanos como o período da ditadura no país. O evento contou com os jornalistas Juca Kfouri e Bianca Santana como mestres de cerimônia. Seguindo os protocolos de homenagens e premiações especiais, os jornalistas conduziram a sessão com uma homenagem à socióloga Margarida Genevois e aos jornalistas Ziraldo e Luiz Eduardo Merlino, que lutaram contra a ditadura militar no Brasil. 

Estiveram presentes na solenidade a presidente da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Katia Brembatti, e a gerente de comunicação da associação, Tatiana Farah. Já a roda de conversa foi mediada por Angelina Nunes, coordenadora do Programa Tim Lopes, da Abraji. 

“Margarida Genevois representa a sociedade civil atenta em defesa da justiça, da paz, dos direitos humanos e da democracia. Ziraldo, in memorian. A mais perfeita tradução da imprensa alternativa, como frente de resistência à censura e perseguição de jornalistas e artistas. Luiz Eduardo Merlino, in memorian, representando jornalistas e militantes perseguidos, presos, torturados, desaparecidos e assassinados durante a ditadura, cujos familiares ainda lutam pelo direito à memória, à verdade e à justiça, por conta das violações cometidas pelo Estado brasileiro”, declarou Kfouri. 

As homenagens marcaram os 60 anos do golpe civil-militar no Brasil. Daniela Thomas, filha de Ziraldo, recebeu o prêmio em homenagem ao seu pai. Com um discurso emocionante, Daniela leu um breve texto em memória ao seu pai, falando sobre sua infância e a trajetória da vida de Ziraldo, que nunca se conformou com injustiças. Daniela reitera, também, que a luta do pai é a de todos que estavam presentes na solenidade.

“É com imensa honra que recebo esse prêmio em memória ao meu amado pai. Esse talvez seja o prêmio que ele mais teria orgulho de receber, porque a luta por um Brasil que fizesse jus a sua imensa potência, com pleno respeito aos direitos humanos e oportunidades para todos, era onde estava sua alma e seu desejo, renovado diariamente. E esse prêmio é sobre isso”, afirmou Daniela. 

Daniela Thomas discursando. 

Daniela contou como foi, como criança, ver o pai ser preso por três vezes. "A terceira vez foi a pior. Um grupo de homens armados de metralhadoras chegou na minha casa e mandou ele fazer uma mala para levar consigo, para ir ''depor''. Nessa hora, eu já sabia o que esse eufemismo significava. Depor era sumir, ficar encarcerado”, disse.

A solenidade também teve o momento de entrega dos troféus especiais, que premiaram as jornalistas Flávia Oliveira e Gizele Martins, bem como a Rede Wayuri. Katia Brembatti foi responsável por entregar o prêmio à Flávia. “Com 32 anos de jornalismo, Flávia tem uma lista com grandes reportagens. Mesmo nos mais árduos temas de economia, ela sempre colocou seu olhar sobre questões prementes da sociedade brasileira, como raça, gênero e desigualdade social”, discursou Brembatti.

Flávia Oliveira, Gizele Martins e integrantes da Rede Wayuri, vencedores dos troféus especiais. 

Após a entrega dos troféus especiais, ocorreu a entrega dos prêmios aos vencedores do prêmio.

Vencedores de cada categoria

Fotografia

  • Obra: Passe Livre, de Paulo Pinto, da Agência Brasil.

Áudio 

  • Obra: Fincar o Pé, de Tailane Muniz, Branca Vianna, Paula Scarpin, Flora Thomson-Deveaux, Guilherme Alpendre, Marcela Casaca, Juliana Jaeger, Vitor Hugo Brandalise, Évelin Argenta, Bia Guimarães, Sarah Azoubel, Bárbara Rubira, Natália Silva, Julia Matos, Luiza Silvestrini, Bia Ribeiro, Gilberto Porcidonio, Mateus Coutinho e Pipoca Sound, da Rádio Novelo.

Arte

Multimídia 

  • Obra: Amazon Underworld, de Bram Ebus, Alex Rufino, Andrés Cardona, Jaap van‘t Kruis, Barbara Fraser, Juan Torres, Beatriz Jucá, Jeanneth Valdivieso, Laura Kurtzberg, Luiz Fernando Toledo, Mathias Felipe, Diane Sampaio, Emily Costa, Ivan Brehaut, Pamela Huerta, Sam Cowie, Leandro Barbosa, Silvana Vincenti, Tatiana Escárraga, Mariana Rios, María Ramirez, Wagner Almeida e Jorge Benezra, do InfoAmazonia.

Texto  

  • Obra: Triste Bahia, de Marcelo Canellas, da revista piauí; 

Vídeo  

  • Obra: Inocentes na prisão, de Ana Passos, Gabriel Penchel, Adaroan Barros, Caio Araujo, Carlos Junior, Alex Sakata, Caroline Ramos e Eric Gusmão, da TV Brasil/EBC.

Livro Reportagem  
Obra: A Torre: O cotidiano de mulheres encarceradas pela ditadura, de Luiza Villaméa, da editora Companhia das Letras.

 

Também estiveram na ocasião os participantes que receberam menção honrosa. São eles:

Arte

Fotografia

Áudio

Multimídia

  • Obra: Gigante pela própria imundice, de Isadora Teixeira, Lilian Tahan, Priscilla Borges, Otto Valle, Olívia Meireles, Juliana El Afioni, Gui Prímola, Yanka Romão, Daniel Ferreira, Michael Melo, Igo Estrela, Gabriel Foster e André Esteves, do Metrópoles.

Texto

Vídeo

  • Obra: Os caminhos da Democracia 1932 – 1977 – A história do movimento estudantil no Brasil, de Simão Scholz, Gabriel Priolli, Jorge Valente, Ricardo Ferreira, Leão Serva, Leandro Silva, Luiz Turati, Jerônimo Moraes, Vanessa Lorenzini, Marco Galo, Euclides Conceição, Alexandre Tato, Jorio Jose Da Silva, Valdecy Messias De Souza, Celso Macedo, Nestor Dias, Marilia Assef, José Vidal Pola Galé, Marici Capitelli, Eugênio Araújo, Silviano Floriano Filho e Plínio Delfino, da TV Cultura SP.

Livro-reportagem

  • Obra: Milicianos – Como agentes formados para combater o crime passaram a matar a serviço dele, de Rafael Soares, da editora Objetiva.

13ª roda de conversa

Momento de troca de experiências no campo jornalístico, a roda de conversa, que aconteceu na tarde da terça-feira 29, foi um convite aos premiados para debater sobre temas que circundam os direitos humanos, jornalismo e as peças inscritas no prêmio. As rodas são organizadas por Angelina Nunes, Aldo Quiroga e Sergio Gomes, que também mediam as conversas entre os convidados. 

Os participantes falaram sobre o processo de criação das suas peças, apuração e inspirações. Luiza Villaméa, por exemplo, contou que sua trajetória na produção do livro A Torre, sobre a Torre das Donzelas no presídio Tiradentes durante a ditadura, durou quase 10 anos entre pesquisas, entrevistas e documentações. 

Foto: Reprodução TV PUC/SP

Cau Gomes, vencedor na categoria Arte, também compartilhou como foi o processo de criação da sua obra. O artista utilizou a técnica de grafite para iniciar o desenho que posteriormente foi editado digitalmente. “Acho que a consequência disso, além de estar aqui hoje e receber esse prêmio, é deixar claro para a sociedade que a gente não pode ficar com os olhos fechados e abandonar a infância”, falou.

Eduardo Anizelli, autor da foto ‘Cachoeira de Sangue’, que recebeu menção honrosa, relatou sua experiência na fotografia, principalmente residindo no Rio de Janeiro. “A violência no Rio é tão escancarada e ao mesmo tempo tão tida como normal, que impressiona.”

Na categoria Texto, Catarina Barbosa, que recebeu menção honrosa pela peça “Maria Júlia tem medo de ser queimada viva pelos ‘homens maus’", falou sobre a importância da troca de experiências que acontece durante a roda de conversas. “Quando escuto todos vocês falarem hoje à tarde, eu vejo que muitos dos nossos atravessamentos levam a gente a fazer o trabalho que a gente faz. Eu só consegui fazer essa reportagem, da maneira que escrevi, pelos meus atravessamentos.” 

*Crédito das fotos: Cadu Bazilevski/Sindicato dos Jornalistas de Campinas

Assinatura Abraji