- 27.09
- 2022
- 16:12
- Abraji
Liberdade de expressão
Acesso à Informação
Nina Lemos, colunista do UOL, é alvo de ataques nas redes sociais
Foto: reprodução do portal UOL com reportagem que mostra os ataques sofridos pela colunista Nina Lemos
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) já registrou 70 ataques dirigidos especificamente às mulheres jornalistas em 2022, que vão desde a proliferação de discursos estigmatizantes - como, por exemplo, chamar a profissional de “esquerdista”, “traficante” e “comunista” - até o espraiamento de memes que tiram de contexto conteúdos jornalísticos. Também é comum as profissionais serem alvos de violência de gênero, tendo sua aparência e/ou sexualidade criticadas por figuras políticas e seus seguidores nas redes sociais. A vítima mais recente dessa onda de hostilidades é Nina Lemos, colunista da Universa, a plataforma do UOL que discute questões femininas.
Nina Lemos mora em Berlim, na Alemanha, e foi alvo de uma série de posts com mensagens sexistas depois que publicou uma coluna sobre como a primeira-dama Michelle Bolsonaro usou as redes sociais para divulgar a maneira que se vestiu durante o funeral da rainha Elizabeth II, no dia 19.set.2022, em Londres.
"Era uma análise sobre o que a primeira-dama havia feito naquele dia. Ela postou o look nas redes sociais, levou maquiador na viagem, e eu comparei com a rotina de uma blogueira que vai para um desfile de moda. Tratava-se de um funeral, e ela estava fazendo isso com o dinheiro público”, declarou a colunista ao UOL.
Foi o suficiente para desencadear um ataque massivo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Nina Lemos foi xingada, ofendida e estigmatizada. “No meu Instagram, perfis chegaram a compartilhar uma foto antiga em que estou com minha afilhada, expondo a menina e ferindo o Estatuto da Criança e do Adolescente”, afirmou a colunista à Abraji.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL/SP) compartilhou em sua conta no Twitter um post de um apoiador com uma piada em referência à aparência da jornalista. “Agindo dessa forma, o parlamentar acaba incentivando apoiadores a fazerem um linchamento virtual”, avalia Katia Brembatti, presidente da Abraji. “Os memes normalizam a gravidade desses ataques em um ambiente hostil no qual as mulheres jornalistas enfrentam no Brasil, muitas vezes criado e incentivado por agentes públicos”, completa.
As ofensas não ficaram no âmbito das redes sociais. Nina Lemos recebeu uma ameaça anônima e velada pelo seu WhatsApp. Depois dos ataques coordenados, a Abraji reportou o caso às plataformas digitais (Twitter e Instagram). Os prints das agressões também foram armazenados para futuras ações judiciais. O caso da colunista também será incluído no monitoramento produzido pela entidade para organizações internacionais que defendem as liberdades de imprensa e de expressão.
Brasil é campeão de ataques de gênero na América Latina
Dos 70 ataques a mulheres jornalistas registrados pela Abraji entre jan.2022 e set.2022, 61,4% foram classificados como discursos estigmatizantes, focados em destruir a moral e a credibilidade das profissionais. 88,4% dessas agressões verbais tiveram origem ou repercussão na internet, o que comprova o potencial das redes sociais como ferramentas para atacar jornalistas.
Dados do mapeamento da Abraji mostram que quase metade (47,4%) dos discursos estigmatizantes on-line foram publicados por atores estatais. “Com frequência, os ataques iniciados por esses agentes ganharam amplitude com a participação de seus seguidores, transformando-se em campanhas sistemáticas de agressão às comunicadoras. O caso de Nina Lemos é mais um exemplo dessa dinâmica”, explica Rafaela Sinderski, doutoranda em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná e responsável pelo monitoramento da Abraji.
Esse levantamento é feito com base numa metodologia internacional. Por meio desses parâmetros, a organização envia o resultado do Brasil à rede Voces del Sur. Em 2021, o Brasil registrou um aumento de 79% no número de ataques contra mulheres jornalistas ante a 2020. O país é campeão de alertas de gênero (50) seguido de Equador (42), México (40), Uruguai (8), Colômbia (7), Venezuela (7), Guatemala (4), Nicarágua (3), Argentina (2), El Salvador (1) e Peru (1). Para mais informações sobre a situação da liberdade de imprensa na América Latina em 2021, clique aqui.