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“Não seria a hora de retornar o jornalismo autoral?”, questiona Geneton

Publicado em 28 de maio de 2013 no Portal Comunique-se

Em parceria com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP), a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) promoveu nessa segunda-feira, 27, a exibição do documentário “Garrafas ao mar: A víbora manda lembranças”. A produção, dirigida pelo jornalista da Globonews, Geneton Moraes Neto, foi exibida no auditório Vladimir Herzog, na capital paulista.

O documentário é resultado da convivência e da amizade entre Geneton e um dos maiores ícones do jornalismo brasileiro, Joel Silveira, apelidado de “a víbora” pelo empresário Assis Chateaubriand, quando convidado para trabalhar nos Diários Associados, por causa do modo ferino e irônico de escrever. Os textos de Silveira, ora irônicos, ora em tom literário, são capazes de emocionar sem perder o contexto jornalístico dos fatos. No documentário, os textos são interpretados pelos atores Carlos Vereza e Othon Bastos. O cantor Raimundo Fagner faz a locução dos textos, além de integrar parte da trilha sonora.

Geneton brinca dizendo que foi “sorteado na loteria do jornalismo”, ao descrever a convivência com Joel, relação construída ao longo de 20 anos. O pernambucano conta que era chamado de “coisa investigativa” pelo veterano, como uma forma de ressaltar seu encantamento e curiosidade, que, segundo o colaborador da Globonews, devem ser preservados mesmo depois de anos na profissão.

“Depois de um certo tempo na atividade, costumo dizer que o jornalista é atingido por uma doença, a ‘Síndrome da Frigidez Editorial’, aquele sujeito que está cansado de ser jornalista, que derruba matérias interessantes e criativas porque perdeu a sensibilidade. É o cara que diz ‘ah, já se falou muito sobre isso’”, explicou Geneton.

O jornalista ressaltou a crise vivenciada pela mídia impressa e indagou o porquê da não-aceitação de um jornalismo como o feito por Joel nas redações atualmente. “Textos como o de Joel dificilmente seriam publicados na imprensa de hoje. O jornalismo impresso está em crise, sem saber qual será seu futuro. Textos como o dele não podem virar peça de museu. Não seria a hora de retornar ao jornalismo autoral? Talvez a salvação seja essa.”

Após a exibição do filme, houve uma sessão rápida de bate-papo, coordenada pelo presidente do sindicato, José Augusto Camargo. Audálio Dantas também esteve presente e afirmou que “a imprensa brasileira está cavando sua própria cova”, que é preciso aprofundar os assuntos e aperfeiçoar o “exercício de contar as coisas, sem deixar de dar a informação”.

Geneton, que tem por lema “Jornalismo é produzir memória”, cumpriu de maneira brilhante o seu papel com a produção deste documentário. O público constituído de um terço de estudantes de jornalismo, ao todo em torno de 40 pessoas, ficou vislumbrado com as declarações registradas de Joel Silveira. Um público pequeno se comparado à grandiosidade do evento. “Garrafas ao Mar” é um filme emocionante, arrebatador.

Frases marcantes da “Víbora”

“Qualquer atividade jornalística que não seja reportagem é um grande desperdício de tempo e energia”

“Repórter que não é chato não é repórter”

“Se houvesse justiça no mundo os nomes dos repórteres deveriam vir sempre acima dos nomes dos donos do jornal”

“Nada mais triste do que ver um repórter sentado na redação a olhar para o teclado, disponível e sem assunto, quando os assuntos, todos eles, estão lá fora enchendo as ruas”

“Paciência, persistência e sorte foi o que Herbert Matthews me respondeu quando perguntei sobre as qualidades de um repórter.”

Assinatura Abraji