• 19.12
  • 2012
  • 08:24
  • Thiago Herdy

MP e polícia investigam ameaça contra jornalista no Paraná

Publicado em 19 de dezembro de 2012 em O Globo

O Ministério Público e a polícia do Paraná investigam denúncias de ameaças contra o jornalista Mauri König, repórter do jornal Gazeta do Povo, de Curitiba, e a diretores do grupo de comunicação que edita o jornal, após a publicação de reportagens sobre desvios cometidos por policias civis no estado. Desde segunda-feira o jornal vem recebendo ligações com ameaças e alertas sobre ataques que estariam sendo planejados contra repórteres do veículo. Segundo as ameaças, König teria sua casa metralhada nesta semana.

A investigação é tocada pela Coordenadoria de Controle Externo da Atividade Policial e dos Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) no estado e foi solicitada pelo procurador-geral de Justiça, Gilberto Giacoia. Nesta segunda-feira, König e sua família deixaram a casa em que viviam em Curitiba. Eles estão em endereço desconhecido, sob proteção de seguranças contratados pelo jornal. A Gazeta do Povo também ajudará o jornalista a deixar o Paraná. Outros repórteres e diretores do veículo estão sob proteção.

Em maio, König coordenou uma série de reportagens publicada sob o título “Polícia Fora da Lei”. Os textos revelaram, por exemplo, que agentes usavam viaturas da corporação para compromissos pessoais – inclusive visita a casas de prostituição em horário de expediente.

O jornalista é um dos diretores da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que nesta terça-feira divulgou nota cobrando rapidez na apuração do caso pelas autoridades competentes.

“A Abraji cobra apuração célere das ameaças contra Mauri König, que são ameaças também à liberdade de expressão e à democracia. Tentar calar um repórter é atentar contra o direito de saber de toda a sociedade”, afirmou a entidade.

Na época em que a série de reportagens foi publicada, o blog policial da “Gazeta do Povo” recebeu comentários anônimos com ameaças aos jornalistas envolvidos na apuração. Na ocasião, König foi descrito como “inimigo número 1 da Polícia Civil”, segundo a Abraji.

Em novembro deste ano, o jornalista recebeu o Prêmio Internacional de Liberdade de Impresa do Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ), em Nova Iorque, como homenagem pela sua carreira como um todo. Em discurso, o repórter dedicou o prêmio a repórteres que pagaram com a vida “por acreditar que jornalismo é um instrumento para melhorar nossa realidade, revelar injustiças, delatar governos corruptos, expor uma polícia arbitrária”.

“Compartilho este prêmio com aqueles que buscam fazer do ofício jornalístico um instrumento de mudanças, ainda que isso implique em algum risco. (...) Indignação é o que melhor define a motivação de quem faz esse tipo de jornalismo”, afirmou, na ocasião.

Com 22 anos de carreira, König foi vencedor dos prêmios Esso, Vladimir Herzog, Embratel, Lorenzo Natali Prize e da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). É “Jornalista da Criança”, reconhecimento concedido pela ANDI — Comunicação e Direitos.

Assinatura Abraji