- 01.02
- 2024
- 16:30
- Rafaela Sinderski
Liberdade de expressão
Monitoramento Abraji: violência contra a imprensa cai 40,7% em 2023
As transformações no cenário político brasileiro iniciadas em 2023, encabeçadas pela mudança do Poder Executivo nacional, tiveram reflexos na situação da liberdade de imprensa do país. O primeiro ano de Luiz Inácio Lula da Silva de volta à Presidência acumulou 330 casos de agressões contra jornalistas, meios de comunicação e imprensa de modo amplo, registrados pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). O número representa uma redução de 40,7% em relação aos 557 episódios de 2022, último ano de Jair Bolsonaro no comando.
As cifras ainda são altas, mas já apontam para a melhoria de um quadro que se tornou progressivamente nefasto nos quatro anos anteriores. De 2019 a 2022, houve um crescimento de 328% nos alertas de agressões contra a imprensa brasileira. Os dados são do monitoramento de ataques gerais e violência de gênero contra jornalistas feito pela Abraji, com metodologia compartilhada pela rede latino-americana Voces del Sur. Os números e análises são publicados em relatórios anuais, tanto pela rede quanto pela Abraji. Os números de 2022 e de anos passados podem ser acessados aqui. Os de 2023 ainda serão lançados neste ano.
Um vislumbre de 2023
Os primeiros dias de janeiro deixaram a impressão de que 2023 seria outro ano sufocante para quem faz jornalismo no Brasil. Com os ataques à sede dos Três Poderes em Brasília, em 8 de janeiro, a violência contra membros da imprensa se multiplicou: foram mais de 40 casos só naquele mês – uma média de, pelo menos, um ataque por dia. Desses episódios, 75,5% foram considerados graves, envolvendo agressões físicas, ameaças, intimidação e perseguição, deslocamento forçado e destruição e confisco de equipamentos.
A gravidade da situação exigiu atenção e ação rápida de organizações que lutam pelos direitos humanos e pela liberdade de imprensa no país. Além de publicar um relatório de monitoramento focado em violência política, a Abraji, ao lado de outras entidades, produziu e entregou ao governo um dossiê sobre a data, apontando tendências, reunindo recomendações e cobrando respostas.
Ainda que os atos bolsonaristas tenham demonstrado, de maneira clara, que a violência política contra jornalistas brasileiros segue forte, a intensidade e frequência dos ataques à imprensa foi amenizada ao longo do ano, levando à primeira redução de casos registrados desde o início do monitoramento sistemático da Abraji, que começou em 2019. Dos 330 alertas identificados em todo 2023, 47,2% foram classificados como discursos estigmatizantes, 38,2% foram casos mais graves – de agressões e ameaças, por exemplo –, 7,8% foram processos civis e penais, 3,3% incluíram situações de restrição na internet – como doxing e hackeamento –, 2,7% envolveram problemas de acesso à informação, 1,2% foram registrados como formas de violência sexual, 0,9% envolveram uso abusivo do poder estatal, 0,6% corresponderam a detenção arbitrária e 0,3% a assassinatos.
Em março, a Abraji vai lançar um novo relatório com os dados completos sobre 2023. Acompanhe o site e as redes sociais da Associação para saber mais.
Crédito da imagem: Geraldo Magela/Agência Câmara